Duas semanas após a NotreDame Intermédica ter anunciado uma aquisição de R$ 1 bilhão em Minas Gerais, a Hapvida fechou a compra do Grupo Promed que também atua no mercado mineiro, numa transação avaliada em R$ 1,5 bilhão.
As duas operadoras verticalizadas já colocaram quase R$ 3 bilhões em aquisições em Minas Gerais, terceiro Estado mais importante do país e 5 milhões de usuários de planos de saúde.
Mais do que uma disputa entre Intermédica e Hapvida, a movimentação acirra a concorrência numa praça, atualmente, dominada pela Unimed-BH. A cooperativa médica detém uma participação de 54% na região metropolitana de Belo Horizonte, contra 11% da Hapvida e 7% da NotreDame Intermédica. “[A praça] carecia de outras alternativas”, disse Jorge Pinheiro, presidente da Hapvida. Há duas semanas, quando anunciou a compra da Medisanitas, Irlau Machado, presidente da NotreDame Intermédica, foi na mesma linha. “Agora, vamos ter uma concorrência saudável”, afirmou Machado.
Ao ser questionado sobre a concorrência que bate a sua porta vinda de dois grandes grupos capitalizados, Samuel Flam, presidente da Unimed-BH, argumentou que a cooperativa médica está preparada e que o fato de não ter ações em bolsa ajuda a oferecer um atendimento médico de melhor qualidade.
Desde que abriram o capital em 2018, NotreDame Intermédica e Hapvida já vinham informando ao mercado sua intenção em entrar nas praças dominadas pelas cooperativas médicas, cuja gestão muitas vezes não é eficiente, entre outros motivos, devido às trocas constantes na direção, que a cada três anos tem uma eleição para escolher um novo comando. Porém, a Unimed-BH é conhecida por sua gestão profissionalizada e por apresentar há anos bons indicadores econômicos. Agora, sua administração vai ser colocada à prova por essas duas operadoras verticalizadas, que vêm crescendo muito acima da concorrência desde 2018.
Com essas transações em Minas Gerais, cuja aprovação ainda depende dos órgãos reguladores, NotreDame Intermédica e Hapvida juntas terão 17% do setor de planos de saúde. Cada uma delas tem cerca de 4 milhões de usuários de planos de saúde e disputam palmo a palmo a liderança desse mercado, que vem encolhendo devido ao aumento do desemprego. Com isso, crescer via aquisições é um caminho.
A Unimed-BH tem 1,2 milhão de usuários e quatro hospitais próprios - entre 20% a 30% dos procedimentos médicos realizados por seus usuários ocorrem nessa rede. “Nosso racional é manter um equilíbrio entre verticalização e hospitais parceiros [de rede credenciada]”, disse Flam.
Entre esses hospitais da rede credenciada, está o Vera Cruz. Esse hospital é um dos mais tradicionais em Belo Horizonte e atende pacientes de várias operadoras. Flam disse que se for necessário consegue migrar os usuários da cooperativa médica para outros hospitais da cidade. O presidente da Hapvida informou que cumprirá os contratos vigentes entre o Vera Cruz e as operadoras concorrentes, mas também analisará a rentabilidade desses acordos a fim de verificar se é mais vantajoso ter o hospital exclusivamente aos seus beneficiários.
Uma das oportunidades de crescimentos já vislumbradas e que deve ser colocada rapidamente em prática pela Hapvida é o aumento da verticalização na Promed. Hoje, apenas 5% dos procedimentos da operadora adquirida ocorrem em rede própria, o que faz sua taxa de sinistralidade ser de 84% - patamar de operadora de planos de saúde sem rede própria. A expectativa é que em três anos esse percentual caia para 60%, média apurada pela Hapvida.
Outra frente de expansão será o aumento da oferta de planos individuais. A meta é ter entre 20% a 30% de sua carteira voltada à pessoa física. “Vemos uma avenida de crescimento nesse segmento, em que já temos bastante experiência”, disse o presidente da Hapvida. Na última década, as operadoras saíram desse mercado com a alegação de que o reajuste controlado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) torna o produto sem rentabilidade. Há no país, cerca de 9 milhões de pessoas com planos individuais, o que representa 19% do total.
Ontem, a Hapvida também anunciou outras duas transações. O arrendamento por 20 anos do Hospital Materno Infantil Sinhá Junqueira, localizado em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Além do contrato de R$ 265 mil, por mês, a companhia fará investimentos de R$ 11 milhões, nos próximos anos para modernização e ampliação da capacidade já existente.
Outra transação foi a compra da carteira com 18 mil usuários da operadora Samedh, de Goiânia, por R$ 20 milhões.