Procura-se um chamariz para a Geração Y
29/04/2014 - por Por Ben Steverman | Da Bloomberg

Com a recuperação da economia, os bancos esperam vender mais produtos financeiros para os jovens. Mas, desde quando preguiçosos e irresponsáveis oferecem perspectivas financeiras tão boas?

Os bancos e as firmas de investimentos encomendaram e publicaram uma avalanche de estudos e pesquisas sobre a Geração Y, ou Geração do Milênio, ou outra coisa qualquer de que você queira chamar os adolescentes e adultos jovens nascidos a partir do começo dos anos 1980. Em sua maior parte, eles listam uma série de estereótipos - preguiçosos, folgados, avessos à autoridade, obcecados por tecnologia, avessos ao risco, impulsivos - sobre essa geração de 77 milhões de pessoas. Eis o que diz um estudo da especialista em planos de aposentadoria Buck Consultants: "A Geração Y não é propensa ao planejamento de longo prazo" e fazem parte de um grupo que "tende a agir com atraso, em vez de antecipadamente, e pode não ter tempo para as análises cuidadosas necessárias para um plano de aposentadoria".

Esses jovens irresponsáveis, subempregados e com uma dívida recorde com o crédito estudantil são o próximo grande grupo de clientes da indústria dos serviços financeiros. Então, por que as instituições estão produzindo todos esses estudos que basicamente insultam as mesmas pessoas que elas estão cortejando?

Porque antes que esses 77 milhões de pessoas comecem de fato a ganhar dinheiro, as instituições financeiras precisam convencê-los a se preocupar com a aposentadoria e outros dilemas que eles alegam ser capazes de resolver - em troca de uma taxa. O problema é que qualquer organismo minimamente sensível aprendeu algumas lições dolorosas e sóbrias sobre a volatilidade e a irracionalidade dos mercados de ações e de imóveis nos últimos anos, sem mencionar os esquemas de pirâmide e outros negócios de Wall Street. Há poucos pontos aqui que merecem confiança.

Uma teoria para a onda de estudos: na medida em que a economia se recupera, as instituições esperam vender mais produtos financeiros para os jovens que até agora se mostraram coagidos e conservadores, diz Ron Shevlin, consultor bancário do Aite Group. Se você passou seus anos de formação observando os mercados passarem de uma crise para outra, "a ideia de que você vai pegar dinheiro e transformar em mais dinheiro" parece uma relíquia da década de 1980, afirma Adam Nash, diretor-presidente da gestora online de investimentos Wealthfront.

Esse ceticismo desafia a verdade absoluta do setor de que as ações são uma maneira de gerar riqueza no longo prazo. Tim Courtney da Exencial Wealth Advisors diz que a Geração Y, "para começar, não entende como os mercados funcionam".

A verdade é que hoje em dia esses garotos não são diferentes dos garotos de ontem, e antes disso. É o que realmente irrita Shevlin nos estudos voltados para a Geração Y: "eles não são fundamentalmente diferentes do que eram os Baby Boomers quando estes estavam na casa dos 20 anos", observa ele. A maioria dos estudos não compara os milênios com as gerações anteriores na mesma idade.

Também não há nada fundamentalmente diferente nesse salto para se generalizar em relação às gerações. É que desta vez está muito mais barato e fácil produzir estudos que parecem mais autorizados, explica Shevlin. Espalhe uma pesquisa na internet, ignore o fato de que você vai atingir apenas uma pequena fatia selecionada da Geração Y e acerte todos aqueles que vão prestar atenção nela.

Mas por que selecionar os jovens? Todos os pequenos investidores vêm relutando em comprar ações ultimamente, e os hábitos dos adultos mais velhos em relação ao dinheiro não são exemplos brilhantes de responsabilidade fiscal. O estudo da Buck também afirma, se contradizendo um pouco, que os milênios podem até mesmo "estar mais interessados em poupar e investir" que as gerações anteriores, quando estas tinham a mesma idade. Na verdade, é a Geração X, e não a Geração Y, que tem mais problemas em pagar suas contas em dia, em quitar totalmente suas dívidas com o cartão de crédito e em gastar menos do que ganha a cada mês, segundo mostra um estudo de 2013 da Financial Finesse.

Tudo isso lembra um pouco a estratégia recomendada por um "reality show" da TV alguns anos atrás, para os homens da Geração Y interessados em seduzir as mulheres: comece rebaixando-as. A indústria financeira parece ter seguido esta dica. (Tradução de Mario Zamarian)



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http://www.valor.com.br/financas/3529932/procura-se-um-chamariz-para-geracao-y#ixzz30IXq4hzN




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