Lançado em março em todo o mundo com bastante alarde, o novo smartphone da fabricante coreana Samsung, o Galaxy S5, em conjunto com relógio inteligente Gear 2, representam um ponto de inflexão para o uso de tecnologias pessoais em Saúde. Os dispositivos contam com aplicativos e sensores que dão ao usuário uma autonomia nunca antes imaginada sobre o próprio bem estar, o que, em conjunto com uma série de recursos emergentes em tecnologia da informação e telecomunicações (TICs), mudarão drasticamente não só a relação com as pacientes, mas o próprio sistema de Saúde.
“Veremos outros fabricantes trazendo smartphones com sensores do tipo”, disse o pesquisador e consultor na área de eSaúde, Guilherme S. Hummel, durante sua participação no Congresso Internacional 2014 da Aliança para a Saúde Populacional (ASAP), nesta quinta-feira (10). “Existe demanda porque há uma pressão social que cresceu a níveis de se tornar escala.”
O smartphone coreano representa apenas a ponta do iceberg para o uso de tecnologia em saúde. Seu principal efeito, para Hummel, é o empoderamento dos consumidores sobre o próprio bem estar, o que trará efeitos concretos ao sistema de Saúde. Redução de custos é um ponto, concorda o especialista, mas também se trata da “queda da posição messiânica do médico” para a de “consultor”, graças ao aumento da participação do paciente – menos omisso – nos tratamentos e consultas.
“O médico é resistente à tecnologia centrada no paciente porque o benefício é assimétrico, ele não enxerga a simetria. Mas ela existe”, ponderou Hummel, ressaltando o papel das tecnologias com função de monitoramento, mas também a assistência remota, com consultas por telemedicina – proibidas pelos conselhos de classe médica no Brasil, mas que, independente das resistências de classe, “vão acontecer”.
Hummel elencou algumas tendências tecnológicas importantes: Home Healthcare Delivery, com foco em telemetria, impulsionada pela comodidade; personalização de equipamentos, sensores e sistemas customizados para indivíduos com patologias particulares; o uso massivo de dispositivos, artefatos e sensores acoplados à smartphones e outros equipamentos; wereables, ou sensores vestíveis; interoperabilidade entre sistemas de saúde; conscientização da Saúde pessoal; computação em nuvem.
Paradigmas
Citando Steven Schroeder, professor da Universidade da Califórnia, Hummel lembrou que entre 10 e 15% da saúde de um indivíduo pode ser atribuída aos serviços de saúde que recebe. Já o estilo de vida corresponde por algo entre 30 e 42% da saúde e do bem estar do indivíduo.
Assim, a tecnologia pode ter um papel revolucionário na prevenção e na promoção da saúde. “Se queremos fazer alguma coisa pela saúde social precisamos investir nas escolas, o resto é paliativo. Se eu quiser que a geração de 2025 tenha ciência da sua responsabilidade sobre a qualidade de vida, temos que começar no pré-primário”, disse o especialista.
Nesse sentido, o eHealth dá força ao usuário para que ele tenha maior poder sobre a sua saúde. “Tecnologias pessoais não são mais modismos, são ferramentas da transformação.”