Kit covid: Prevent Senior envia hidroxicloroquina para casa dos pacientes
14/07/2020

Apesar das polêmicas envolvendo o uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes infectados com o novo coronavírus, médicos da operadora de saúde Prevent Senior continuam a indicar a medicação. Em alguns casos, o paciente é atendido via telemedicina e o remédio é enviado para sua casa antes mesmo da realização de exames que comprovem a existência da doença. Com isso, alguns pacientes têm recebido uma espécie “kit covid” em casa.

Segundo Pedro Batista Junior, diretor-executivo da Prevent Senior, o procedimento se explica pela opção por tratar os pacientes com suspeita de covid-19 nos estágios iniciais da doença. “Toda doença tem uma evolução. Tratar um paciente com pneumonia só no décimo dia de sintomas é diferente de tratar no início. Nós buscamos dar atenção entre o primeiro e o segundo dia de sintomas de covid”, afirma.

Outro fator que leva a operadora a adotar esse procedimento é o perfil do seu público. Com mais de de 400 mil usuários, a operadora é focada no público idoso e tem 112.000 beneficiários com mais de 79 anos.

 

“Meu paciente é grupo de risco. Nessa faixa etária, os dados da OMS mostram que a covid-19 tem uma mortalidade de 15%. Eu não vou aceitar esperar a doença evoluir”, afirmou em entrevista à EXAME.

 

Batista afirma que o procedimento de indicar a hidroxicloroquina nos estágios iniciais da doença — definido pela operadora ainda em março — não mudou, mesmo após a divulgação de estudos que questionam a eficácia do remédio no tratamento do novo coronavírus.

“Concordo com os estudos que saíram até agora. Eles dizem que o remédio não é eficaz quando a doença já está avançada, e isso é o que identificamos aqui, por isso fazemos o tratamento nos estágios iniciais”. Ele cita um estudo do Sistema de Saúde Henry Ford que indicou melhora em pacientes em estágios iniciais.

O executivo diz que o remédio não é indicado para todos os pacientes da operadora e só é enviado ao paciente após avaliação médica. “Eu mesmo já falei com pacientes meus e não indiquei o remédio, porque eram pacientes com indicação de marcapasso, por exemplo”, diz. Um dos riscos da hidroxicloroquina é a possibilidade de surgimento de arritmia cardíaca. Ele também afirma que, em casos de estágio mais avançado da doença, outros tratamentos são adotados. Segundo Batista, a operadora não registrou nenhum caso de complicações em pacientes devido ao uso do medicamento.

 

A operadora não revela quantos pacientes receberam indicação de uso da medicação, nem quantos receberam o remédio em casa, sem comprovação da doença, ou após atendimento via telemedicina. Diz, porém, que a carteira de beneficiários aumentou 20% esse ano, e que o número de mortes no primeiro semestre de 2020 é menor que o do primeiro semestre de 2019, mesmo com a pandemia.

O uso de respiradores também diminuiu desde o início da pandemia, segundo Batista. A operadora diz que a média de atendimentos de pessoas com suspeita de covid se manteve estável, com 150 atendimentos por dia. No entanto, a proporção de respiradores em uso caiu de 87% para 47%.

Sem eficácia comprovada

Uma das críticas ao uso do remédio no início da doença, sem a comprovação científica de sua eficácia, é de que o paciente poderia ter melhorado sozinho, sem uso do remédio, mas acaba atribuindo a melhora à hidroxicloroquina. “Concordo com isso. A questão é que nosso público é grupo de risco”, afirma o diretor.

Batista diz ainda que a indicação do uso fica a cargo de cada médico e que, pelo protocolo da operadora, o paciente precisa assinar um termo de consentimento para receber o remédio. A decisão sobre a indicação do medicamento mesmo sem a comprovação da doença e para pacientes atendidos via telemedicina também é de cada médico, segundo o diretor.

O uso da hidroxicoloroquina e da cloroquina no tratamento de covid-19 virou alvo de polêmica desde o início da pandemia. O presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o presidente do Brasil Jair Bolsonaro recomendaram o remédio, mesmo sem a eficácia comprovada. Diversos estudos realizados até agora indicam que o remédio não tem eficácia no tratamento da doença.

Fonte: Exame




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