Multinacionais do setor farmacêutico e laboratórios controlados por capital nacional têm investido de forma consistente em pesquisa, desenvolvimento e inovação no país. Não por acaso, especialistas sustentam que esta é uma das áreas da economia que mais tendem a ter escala global de inovação. Em 2013 o setor manteve a tendência dos últimos anos, registrando faturamento de R$ 58 bilhões, um crescimento de 17% em relação a 2012, segundo a consultoria IMS Health.
Um exemplo da pujança das empresas no quesito P&D é o da suíça Novartis, que só na área de combate ao câncer investiu no ano passado R$ 42 milhões em 75 estudos clínicos, espalhados por 180 centros de pesquisa brasileiros, com 3,5 mil pacientes. "Houve um crescimento de 46%, se comparado aos últimos três anos", diz Elaine Rahal, diretora médica da área de oncologia da Novartis no Brasil.
Além das pesquisas sobre o câncer, a Novartis investe em áreas terapêuticas como da diabetes, cardiovascular, neurociências, doenças respiratórias, inflamações, hepatite, transplantes, oftalmologia, doenças raras, vacinas e biossimilares. "No caso de câncer de pulmão, descobrimos que só 3% dos pacientes são positivos num marcador que chamamos de ALK."
Na parte de enfermidades raras, a empresa investe em estudos envolvendo a Síndrome de Cushing (desordem endócrina que ocorre quando o corpo é exposto a altos níveis do hormônio cortisol) e a mielofibrose, um câncer raro do sangue, no qual a medula óssea é substituída por tecido fibroso e deixa de produzir quantidades normais de células sanguíneas.
No geral, em 2013, mais de 8 mil pacientes foram estudados pela Novartis. Segundo a consultora médica de pesquisa clínica da empresa, Renata Gontijo, houve 148 pesquisas no ano passado, totalizando um investimento de R$ 60,4 milhões.
Em 2013 o ramo farmacêutico do grupo Novartis investiu 22% das vendas líquidas (ou US$ 7,2 bilhões) em P&D no mundo. "Temos um pipeline muito diversificado, com mais de 150 projetos atualmente em desenvolvimento, incluindo 32 novas moléculas, 29 novas indicações e uma nova formulação", diz. O grupo conta com 19 institutos próprios de pesquisa biomédica, voltados para a descoberta de novas moléculas.
Segundo Eurico Correa, diretor técnico da Pfizer Brasil, os estudos globais levam geralmente de 10 a 15 anos desde o início da pesquisa da molécula até a comercialização do medicamento e consomem, em média, US$ 1,3 bilhão. "De cada 10 mil compostos selecionados somente um chega ao mercado como novo medicamento."
Ele informa que há cerca de 8 mil pessoas no mundo inteiro trabalhando nas várias fases das pesquisas da Pfizer. "Em 2014 serão cerca de US$ 7 bilhões dedicados à descoberta de novos produtos, direcionados para áreas como cardiovascular, inflamação, neurociência, oncologia, vacinas, além de biossimilares e doenças raras", diz, acrescentando que um dos segmentos que a companhia mais foca é o cardiovascular. "Neste momento estamos desenvolvendo um produto totalmente inovador para tratamento de colesterol, um composto biológico para pacientes com teor exagerado de colesterol no sangue [hipercolesterolemia] para os quais os produtos já existentes não surtem o efeito necessário."
O novo composto está em fase 3 de estudos e chama-se Bococizumab. Trata-se de um anticorpo monoclonal que tem mostrado eficácia potencialmente alta em reduzir os níveis do colesterol "ruim" (LDL-C). "O produto poderá representar uma importante terapia para diminuir os riscos de eventos cardiovasculares", diz.
Outra área na qual a Pfizer investe forte é a de diabetes, uma doença que atingiu proporções epidêmicas no mundo, com repercussões neurológicas e cardiovasculares importantes. Segundo Correa, o novo produto é indicado para diabetes tipo 2, está em fase 3 de estudo, vai chamar-se Ertugliflozin, e possui mecanismo de ação inovador. "A molécula é um inibidor seletivo do cotransportador de sódio-glicose tipo 2", diz, explicando que esse tipo de inibidor previne a reabsorção de glicose nos rins, resultando na perda de glicose pela urina. "O mecanismo não depende da secreção e ação da insulina e o desenvolvimento do composto está sendo realizado em parceria com a Merck."
Como informa Gabriela Cesar, diretora sênior para Brasil e América Latina de P&D, inovação e parcerias estratégicas da Pfizer, a multinacional inaugurou em 2012 uma nova estrutura de P&D com o objetivo de que o Brasil passe a ser um participante ativo no incremento do seu portfólio global, por meio da descoberta de novos tratamentos e moléculas brasileiras.
Por meio de parcerias com centros de referência em pesquisa científica do Chile, por exemplo, estão sendo executadas pesquisas inéditas para o tratamento do câncer de pulmão. "Estamos fazendo um estudo molecular por meio do sequenciamento de última geração do genoma para a detecção mais sensível e o tratamento desse câncer, com base em alterações genéticas do tumor."
Gabriela conta que estão sendo investidos US$ 21 milhões no programa, que terá duração de quatro anos para pesquisas e análise de dados, dos quais US$ 7 milhões já foram investidos pela Agência de Inovação do Chile, país-sede de um novo centro de P&D de medicina de precisão da Pfizer para a América Latina, em alinhamento científico com La Jolla (Califórnia), o principal centro de pesquisa da Pfizer em oncologia. "Além desse estudo, estamos na fase 2 da pesquisa de uma vacina indicada para combater a bactéria Staphylococcus Aureus, principal causa de infecções hospitalares.
Na Bayer, os investimentos de 2013 em P&D chegaram a € 3,19 bilhões, o equivalente a 8% das vendas mundiais do ano. Segundo Sandra Abrahão, diretora da área médica, regulatória e farmacovigilância da Bayer no Brasil, no ano passado o grupo empregou 13,7 mil colaboradores focados na busca por novas soluções. Para 2014 há uma previsão de que os investimentos em P&D alcancem € 3,5 bilhões. "No médio prazo, entre 2014 e 2016, o grupo Bayer planeja investir, globalmente, € 11,2 bilhões em pesquisas."
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