Conselho Federal de Medicina autorizou o uso da solução na pandemia, médicos acreditam no potencial da tecnologia, mas regulamentação definitiva poderia incentivar ainda mais a adesão da telemedicina
Já são mais de 50 mil mortos e 1 milhão infectados pelo coronavírus, no Brasil. Os números são catastróficos, mas poderiam ser ainda piores se uma série de medidas não tivessem sido tomadas, entre elas, a aplicação da telemedicina como uma aliada no combate à doença. A implantação desse sistema já é considerada por boa parte da classe médica e da sociedade como fundamental, uma vez que a pandemia mostrou que muitas vezes o atendimento primário feito com agilidade – mesmo à distância – pode salvar vidas.
Resumidamente, a premissa básica da telemedicina é que consultas de casos mais simples podem ser realizadas, num primeiro momento, à distância, deixando a unidade hospitalar física disponível para casos mais graves e realização de exames de diagnóstico e tratamentos, situações em que a presença física é indispensável.
No contexto do COVID-19, a telemedicina serve não só para orientar pacientes que suspeitam ou que contraíram o vírus (com sintomas mais amenos), mas também para aqueles com outras patologias consideradas mais simples, mas que queriam evitar ir aos hospitais e correr o risco de contaminar. Apesar de não haver um banco de dados único, alguns números sobre a quantidade de atendimentos já foram divulgados.
A título de exemplo, a Prefeitura de Barueri, interior de São Paulo, informou que foram realizados mais de 4.500 teleatendimentos de saúde mental durante a pandemia. Já no Estado do Ceará, o governo anunciou que realizou, no total, mais de 600 mil teleatendimentos, divididos em três meios: chatbots, telefone e WhatsApp. Esse número contempla atendimentos relacionados a Covid e outras doenças também. Isso significa que, na prática, a telemedicina vem ajudando não só a atender os pacientes com coronavírus e outras doenças, mas especialmente para evitar o contato social nos corredores dos hospitais e assim diminuir o risco de contágio em massa.
A regulamentação que o Conselho Federal de Medicina aprovou em março de 2020 sobre uso da telemedicina no Brasil durante a pandemia foi preponderante para ajudar no combate à doença. A disseminação do uso da tecnologia vem quebrando paradigmas, transformando a cultura dos profissionais de saúde, e comprovando que está mais do que na hora de o Brasil regulamentar o seu uso definitivamente.
“Houve uma regulamentação aprovada em 2019, mas logo em seguida revogada. O fato é que nossa regulamentação vigente é de 2002, atrasada devido aos incontáveis avanços tecnológicos desde então. Basta lembrar que não existia smartphone, redes sociais, nada. A tecnologia avançou muito e nos permite hoje desafogar o sistema de saúde: é possível que um médico de São Paulo atenda um paciente no meio da selva amazônica”, afirma Isabela Abreu, CEO da RedFox startup especializada em transformação digital para a área da saúde e que possui projetos em instituições como Grupo Fleury, DASA, Unimed, HCor e Rede D’Or.
Segundo a especialista, é realista afirmar que a telemedicina viabiliza o atendimento de mais pessoas, diminuição de filas, barateamento das operações e muito mais. “É preciso que o pós-coronavírus desperte os responsáveis, pois a tecnologia não deve mais ser vista como uma preocupação, mas como aliada do sistema de saúde. Uma consequência prática desse atraso acerca da regulamentação é a falta de estrutura das unidades de saúde. Como não havia uma regulamentação, a estrutura das clínicas e dos hospitais precisaram ser adaptadas às pressas. Se já tivéssemos regras em vigor, o processo teria sido muito diferente, mais rápido”, pontua a especialista.
Transformação digital tem apoio da classe médica
Alguns dados de mercado evidenciam que a tecnologia já vem sendo bem recebida pelos profissionais de saúde. Em pesquisa da Associação Paulista de Medicina, realizada em fevereiro de 2020, 90% dos médicos acreditam que o sistema público de saúde poderia pode ser beneficiado com novas ferramentas tecnológicas digitais e pode diminuir as filas de espera no atendimento especializado. Também 90% dos médicos informaram que acreditam que as novas tecnologias digitais podem ajudar a melhorar a saúde da população.
Para Isabela, todo o cenário aponta que o Brasil está pronto para a mudança. “Os médicos acreditam no potencial de ferramentas digitais, tanto no que se refere à qualidade de atendimento quanto melhoria da saúde pública. Agora, precisamos viabilizar o quanto antes uma regulamentação que viabilize ao paciente um atendimento médico de excelência e incentive as instituições a realizarem os investimentos necessários. Não há caminho para a medicina sem a utilização das novas tecnologias”, conclui.