Em crise financeira há pelo menos cinco anos, a Unimed Paulistana registrou no ano passado um lucro líquido de R$ 6,3 milhões. Em 2012, a cooperativa médica havia apurado um prejuízo de R$ 120,8 milhões. Essa expressiva melhora na última linha do balanço ocorreu, principalmente, por conta de benefícios tributários que somaram R$ 139 milhões, um reembolso de pagamento indevido a hospitais no valor de R$ 30 milhões, além de redução de pagamentos de impostos e de juros.
Segundo o presidente da Unimed Paulistana, Paulo José Leme de Barros, desconsiderando esses ajustes contábeis, a cooperativa médica encerrou o ano passado com um resultado "equilibrado", o que pode ser interpretado como prejuízo pequeno. A receita somou R$ 2 bilhões, o que representa uma queda de 10%. Já os custos avançaram 2% para R$ 1,8 bilhão no acumulado do ano.
A Unimed Paulistana foi beneficiada pela lei 12.873, publicada no ano passado, que altera o cálculo de PIS e Cofins. As operadoras de planos de saúde conseguiram uma vitória na briga que travavam há anos com a Receita Federal para excluir os custos com hospitais, laboratórios, entre outros, da base de cálculo dos referidos tributos federais. Agora, a tributação passa a incidir sobre uma base reduzida e não mais sobre um valor cheio como era anteriormente.
Com a nova lei, a Paulistana conseguiu reaver R$ 83 milhões em crédito tributário, uma vez que desde 2008 paga os impostos em juízo. Esse valor foi contabilizado no balanço de 2013, mas ainda não foi efetivamente depositado porque a operadora ainda depende de uma outra ação judicial para recuperar o dinheiro. A expectativa é que os R$ 83 milhões entrem no caixa da cooperativa neste ano.
Desde 2008, a Paulistana paga os tributos em juízo porque defende que as cooperativas médicas são isentas de PIS e Cofins. Entre 2008 e 2013, a Paulistana depositou judicialmente R$ 120 milhões e conseguiu reaver R$ 83 milhões, uma vez que a nova lei considera a incidência dos impostos sobre uma base reduzida e não a isenção total. Portanto, se a cooperativa ganhar a ação poderá reaver mais R$ 37 milhões.
A Paulistana também conseguiu um crédito fiscal no valor de R$ 56 milhões. "Pagávamos PIS e Cofins sobre uma base cheia nos serviços prestados pelos médicos não cooperados. Como a nova lei considera a base reduzida e permite reaver os depósitos de cinco anos para trás, obtivemos um crédito fiscal que será descontado do imposto a pagar nos próximos anos", explicou Barros. Porém, os R$ 56 milhões também foram integralmente reconhecidos no balanço de 2013 e segundo o presidente da Paulista, não serão contabilizados nos próximos resultados. Com a mudança nas regras da tributação, a Unimed Paulistana reduziu o pagamento de impostos em 41% para R$ 128,7 milhões em 2013.
Com 750 mil usuários, a Unimed Paulistana iniciou no ano passado uma profunda reestruturação liderada por Augusto Cruz, ex-presidente do Pão Açúcar, que passou um pente fino nas contas da cooperativa médica que ainda está sob regime de fiscalização especial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e tem oito tipos de planos cuja comercialização está proibida. Em 2013, a cooperativa perdeu 300 mil clientes. Essa queda foi parcialmente compensada pela entrada de usuários de outras Unimeds que usaram a rede médica da Paulistana.
Nesse pente fino, foram encontrados problemas em questões tributárias, processos administrativos e comerciais. Um exemplo foram as compras de dieta enteral (alimento com nutrientes especiais normalmente ministrado via sonda). A Unimed Paulistana pagou R$ 30 milhões a mais para os hospitais no ano passado porque pagava o valor da caixa completa mesmo quando usava apenas uma única unidade da dieta. "Há um problema de padronização. Conseguimos reaver esse dinheiro pago a mais para vários hospitais", disse Barros.
Com a casa mais organizada, a Unimed Paulistana entra numa nova fase em 2014. A cooperativa médica tem vários projetos para incrementar a receita. Entre eles está a reforma do Hospital São Leopoldo que receberá investimentos de R$ 20 milhões e deve ficar pronto no começo de 2015. O São Leopoldo, adquirido há cerca de um ano por R$ 17 milhões, pertencia à Samcil, operadora de planos de saúde que faliu. Outro projeto é a construção de uma segunda torre do Hospital Santa Helena, que pertence à Fundação Ambev e é administrado pela Unimed Paulistana.
Segundo Barros, a expansão da cooperativa médica também prevê novos centros de atendimento médico, ambulatórios e laboratórios de medicina diagnóstica. "Também estamos com uma nova operadora de planos odontológicos, uma empresa de saúde ocupacional e também criamos uma empresa para administrar hospitais de outras Unimeds", disse Barros. Nesse último projeto, a Paulistana já está gerenciando o hospital da Unimed Bragança Paulista.
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