Ressecção de tumor ósseo maligno foi realizada com impressão de modelo do quadril em plástico e prótese customizada. Dr. André Ferrari, especialista em oncologia ortopédica, explica a técnica
O uso de impressão 3D na medicina apenas começou a ser explorado e promete revolucionar a forma como cuidamos da saúde. Com os recursos oferecidos por essa tecnologia, a equipe do Instituto de Oncologia do Hospital Santa Paula realizou uma cirurgia inédita no Brasil para ressecção de osteossarcoma na região da bacia. Pela primeira vez no país, a equipe médica usou um modelo plástico da estrutura óssea da paciente para planejar guias específicos para os cortes precisos e produzir a prótese customizada.
A cirurgia foi conduzida pelo Dr. André Ferrari, especialista em oncologia ortopédica, no último dia 14, após cerca de quatro meses de planejamento. A paciente de 51 anos desenvolveu um tumor maligno na região do acetábulo (encaixe da cabeça do fêmur na bacia), condição pouco comum. “É raro que o osteossarcoma acometa ossos da bacia. Além disso, um tumor pode afetar locais diferentes da bacia, o que faz com que cada caso seja único. Dessa forma, não existe um implante apropriado no mercado para reconstruir o defeito criado após a reconstrução”, explica.
Diante desse desafio, Ferrari buscou a tecnologia de impressão 3D para oferecer à paciente mais qualidade de vida após a cirurgia. Usando uma tomografia, foi criado no computador um modelo 3D da bacia da paciente. Ele permitiu estudar exatamente onde estava o tumor e decidir onde deveriam ser os cortes ósseos para ressecá-lo com margens livres. Isso levou à elaboração de um guia de corte personalizado, que foi impresso em uma impressora 3D em PETG (um tipo de plástico). “Isso garantiu que o defeito criado pela ressecção na cirurgia fosse exatamente igual à que fizemos no modelo tridimensional”.
O próximo passo foi o desenvolvimento da prótese. Novamente o ponto de partida foi um modelo virtual 3D com todos os detalhes necessários. A primeira impressão foi feita em plástico, para que a equipe pudesse manipular a peça e finalizar o planejamento. Após ajustes, a prótese definitiva foi impressa em titânio.
“O padrão para ressecções de tumores na região acetabular no Brasil é deixar o quadril ‘balante’, sem reconstrução. Obviamente, isso tem impacto significativo na função e na qualidade de vida, com encurtamento de vários centímetros e necessidade de muletas para o resto da vida”, explica o especialista. Com essa técnica, a expectativa é que a paciente tenha função praticamente normal, sem a necessidade de muletas e sem discrepância de comprimento de membros.
O osteossarcoma é um tumor ósseo maligno primário mais comum em crianças e adolescentes, principalmente na faixa de 10 a 19 anos, com segundo pico de incidência em pessoas acima de 50 anos.