Para onde caminha a gestão da Santa Casa de São Paulo?
Kalil Rocha Abdalla e José Luiz Setubal concorrem às eleições para o comando de uma das mais antigas instituições de saúde do País
20/03/2014

s rumos de uma instituição secular, com mais de 400 anos de existência, está em jogo na disputa entre o atual provedor e advogado Kalil Rocha Abdalla e o médico José Luiz Setubal, herdeiro do banco Itaú e presidente da Fundação que administra o Hospital Sabará. Esta é a segunda vez na história que duas chapas concorrem às eleições da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, previstas para o dia 16 de abril.

O racha foi gerado pela visão antagônica dos concorrentes. De um lado, Abdalla, com seis anos de mandato, promete continuar buscando fontes alternativas para o financiamento e sustentabilidade da entidade, principalmente por meio do atendimento suplementar realizado pelos hospitais Santa Isabel, assim como pela negociação de contratos de gestão junto ao governo, como um saída para o problema da defasagem da tabela SUS.

O discurso de Setubal prioriza questões como governança corporativa e transparência nos números, aspectos que, segundo ele, são falhos na instituição filantrópica, que atende mais de 3,5 milhões de pessoas por ano. Para isso, o executivo cogita trabalhar com a consultoria empresarial americana McKinsey na elaboração de novos modelos de gestão.

Detentora de um orçamento anual de R$ 1,3 bilhão, a dívida da Santa Casa saltou, nos últimos anos, de cerca de R$ 50 milhões para R$ 300 milhões. Abdalla responsabiliza a defasagem da tabela SUS como principal motivo para o prejuízo, mas lista também inúmeras construções de unidades de saúde, cerca de 30 somente em sua gestão. No total, a Santa Casa de São Paulo administra 39 unidades entre hospitais, pronto socorro, unidades básicas de saúde e centros médicos públicos.

Apesar da vultosa dívida, Abdalla alega que não há impostos pendentes e nem encargos trabalhistas, apenas um endividamento bancário e a negociação para liquidá-la está em andamento com o governo federal. “É possível ficarmos superavitários ainda este ano”, ressalta ao explicar que o débito anual vem diminuindo de R$ 60 milhões, para R$ 30milhões, atingindo R$ 20 milhões no ano passado.

O superintendente Antonio Carlos Forte, há 22 anos no cargo, é categórico ao afirmar que não fica, caso Setubal saia vencedor. “Esta chapa (50 pessoas integram cada chapa) não representa os ideais da Santa Casa de atender os pobres, sem visar o lucro. Um trabalho que vem sendo feito há 450 anos pode ser violado”.

Forte defende que a Santa Casa realiza trabalhos que nenhuma instituição privada se interessa, pois não gera lucro, como por exemplo a administração de bancos de leite, investimento em centro de medicina paliativa infantil, entre outros.

Setubal contraria a certeza do superintendente, garantindo que a missão da entidade precisa ser respeitada. “Minha ideia é ampliar o atendimento SUS, ampliar a vocação da Santa Casa e, para isso, quero ter lucro para cumprir a missão sem colocar em risco a sobrevivência da instituição”, afirma.

Depois de uma remodelagem na gestão do Sabará, o que resultou num fechamento, pela primeira vez, superavitário, Setubal diz estar preparado para assumir a Santa Casa, onde atua como conselheiro há seis anos.

Os 490 irmãos da entidade vão decidir, no próximo mês, para onde caminhará a gestão da mais antiga instituição de saúde do País e otimismo não falta por parte dos candidatos. O voto é fechado e a posse será no mesmo dia da eleição.





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