Plataforma virtual vai esclarecer dúvidas e aproximar os cardiologistas de seus pacientes, que estão deixando de buscar atendimento durante a pandemia por medo de contrair a Covid-19
A situação de emergência em saúde pública, devido à pandemia do novo coronavírus, em que a recomendação é ficar em casa, tem afastado muitos brasileiros de consultas importantes na prevenção de problemas crônicos, principalmente as doenças cardiovasculares, por medo de contrair a Covid-19.
Dados da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI) apontam que na primeira semana de abril deste ano, em relação ao mesmo período de 2019, houve queda de 70% no número de atendimentos a pacientes por infarto agudo do miocárdio. Dados do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Incor-FMUSP) – principal serviço de cardiologia do país – mostram que no último mês de março houve queda de 50% no número de pacientes submetidos à angioplastia primária quando comparado com o mesmo mês em 2019.
Mas o Programa de Telecardiologia, lançado no último sábado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), vai tentar resolver esse problema sem interromper o isolamento social recomendado pelo Ministério da Saúde. Visando esclarecer dúvidas dos portadores de doenças cardiovasculares e facilitar o acesso dos pacientes aos seus cardiologistas, a plataforma virtual de telemedicina da entidade, em parceria com a Conexa Saúde, vai encurtar a distância entre o médico e seu paciente, democratizar o acesso à saúde e auxiliar os portadores de comorbidades associadas às doenças cardiovasculares, cuja taxa de letalidade é de até 10,5% quando contraída a infecção por Sars-Cov-2, a buscar orientação e atendimentos adequados. “Neste momento de crise de saúde pública, é muito importante informar aos pacientes cardiopatas sobre os riscos que correm ao se contaminarem com o coronavírus e sobre a necessidade de se cuidarem e se protegerem ser ainda maior, assim como seguir seus tratamentos específicos, conforme prescrição médica, e buscar auxílio médico quando necessário”, alerta o presidente da SBC, Marcelo Queiroga.
O cenário no Brasil pode estar igual ao que vem acontecendo em Nova Iorque, na Espanha e na Itália, onde muitos pacientes que têm problemas cardíacos procuram uma consulta médica ou a emergência das unidades de saúde somente na última hora, o que é considerado uma postura arriscada para quem tem a doença que mais mata no país. “Meio bilhão de pessoas no mundo e 14 milhões no Brasil são acometidas por doenças cardiovasculares. O problema é grave porque essas doenças, principalmente o infarto, são responsáveis por mais de 30% das mortes no país. São mais de 300 mil óbitos todos os anos no Brasil. É um problema de saúde pública agora agravado pela pandemia da Covid-19”, destaca Queiroga.
O cardiologista esclarece que o objetivo da SBC ao disponibilizar o serviço de telecardiologia é agir de maneira preventiva e antecipar o atendimento para que os resultados sejam mais satisfatórios aos pacientes. “Ao sinal de sintomas como dor no peito, falta de ar, palpitação e suor frio, os portadores de doenças cardiovasculares têm de procurar o médico e as emergências como faziam anteriormente à pandemia. Com a plataforma de telemedicina a SBC, o atendimento a distância será facilitado porque previamente o paciente poderá conversar com seu cardiologista, que o orientará à melhor conduta”, ressalta Queiroga, também reforçando ser “fundamental que a população tome todas as precauções indicadas pelo Ministério da Saúde”.
O Programa de Telecardiologia
Os cardiologistas associados podem acessar a plataforma virtual de telecardiologia da SBC, disponível desde a última segunda-feira, por meio do portal da entidade no link, para facilitar o atendimento às pessoas e orientá-las, inclusive sobre o novo coronavírus. A ferramenta terá um tutorial para o médico aderir ao programa, que será gratuito durante a pandemia.
Os 13 mil cardiologistas da SBC, ao aderirem à plataforma virtual de telemedicina, poderão optar por seguir com o atendimento privado ou voluntário. Nesse caso, deverão informar o tempo que poderão disponibilizar para a consulta a distância. Essas informações irão para um banco de dados para que então o médico possa fazer o atendimento. “Estamos trabalhando para que os cardiologistas associados, ao ingressarem na plataforma, estejam cadastrados e aceitem ser voluntários, doando uma ou duas horas de seu tempo para auxiliar as autoridades sanitárias do Brasil e trazer um real benefício à sociedade brasileira. A adesão ao programa é voluntária. Vamos mostrar com quantos corações se faz um grande Brasil”, destaca Marcelo Queiroga.
Os profissionais de outras especialidades, assim como os psicólogos, poderão usar a ferramenta de telemedicina da SBC, bastando acessar a plataforma por intermédio do portal Cardiol e, após a inscrição, optarem por participar do atendimento voluntário. “Sabemos que o isolamento social e o medo de uma enfermidade nova impactam diretamente a saúde mental das pessoas, podendo causar sensações de depressão, ansiedade e, em casos mais graves, como os de profissionais da saúde, o estresse pós-traumático. O atendimento por intermédio da nossa ferramenta virtual de telemedicina pode auxiliar muito as pessoas que estão precisando da ajuda desses profissionais”, esclarece o presidente da SBC.
Os pacientes interessados no Programa de Telecardiologia da SBC poderão acessar o serviço por meio do sistema de chatbot (programa de computador que simula uma conversa humana em um chat), onde devem se cadastrar, inserir todas as suas queixas e dúvidas e, depois da avaliação, se elegíveis, seguirem para o teleatendimento.
O serviço também estará disponível ao paciente por meio do aplicativo Conexa Saúde, que pode ser acessado nas lojas virtuais para smartphones nos sistemas iOS (Apple Store) e Android (PlayStore), por onde ele, após se cadastrar, poderá se consultar com o médico cadastrado na plataforma da SBC. “Nosso objetivo é formar a uma corrente de solidariedade na atenção voluntária e atender remotamente durante a pandemia”, ressalta Queiroga.
Com o Programa de Telecardiologia da SBC, além da teleconsulta, será possível a emissão de receitas médicas usando-se certificado, e o telediagnóstico, que consiste em encaminhar ao médico os exames como eletrocardiograma e até ecocardiograma, em algumas situações, para avaliação do cardiologista. A teleorientação, um tipo de consulta mais rápida, também será ofertada pela plataforma da entidade principalmente para os pacientes que já são clientes dos seus médicos, e o telemonitoramento, o acompanhamento da pressão arterial e insuficiência cardíaca do paciente. “É uma série de facilidades que a telemedicina proporciona e que será oportunizada pela SBC de forma gratuita aos cardiologistas da Sociedade enquanto durar a pandemia. Após o término da emergência pública, o associado que tiver interesse em manter o serviço poderá fazê-lo com desconto na mensalidade”, esclarece Queiroga.
Legislação
O Ministério da Saúde regulamentou a telemedicina, no âmbito da saúde pública e suplementar, com a Portaria 467, vigente apenas enquanto durar a pandemia, e foi ainda mais abrangente, ampliando as possibilidades de emprego dessa tecnologia. “As ações de telemedicina podem contemplar o atendimento pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta, monitoramento e diagnóstico, por meio de tecnologia da informação e comunicação, no âmbito do SUS, bem como na saúde suplementar e privada”, explica Queiroga. A portaria determina que o atendimento deverá ser efetuado diretamente entre médicos e pacientes, por meio de tecnologia da informação e comunicação que garanta a integridade, a segurança e o sigilo das informações.
Com o objetivo de esclarecer os cardiologistas, a categoria médica e a sociedade em geral sobre as bases científicas e aplicações da telecardiologia no cenário atual, a SBC, desde 2019, estabeleceu na Diretriz de Telemedicina Aplicada à Cardiologia as recomendações para o seu emprego baseado na melhor evidência. Nela se explica que a atividade pode ser praticada com segurança, por período pertinente à circunstância clínica (prazos proporcionais às necessidades clínicas) e que o respeito à autonomia do paciente e à proteção da sua intimidade quanto aos dados de saúde são a base da realização da telemedicina aplicada à cardiologia.
As informações sobre a liberação da prática de telemedicina e a Diretriz de Telemedicina Aplicada à Cardiologia da SBC estão disponíveis no link.