Produtos da cadeia fria, como por exemplo medicamentos biológicos, necessitam de cuidados específicos em relação ao armazenamento e transporte a fim de garantir suas condições originais. Este é um dos grandes desafios da indústria farmacêutica e de saúde no Brasil.
De acordo com a gerente do laboratório de ensaios térmicos da Polar Técnica, Liana Montemor, a tendência é que o mercado desses produtos que requerem temperatura controlada cresça cada vez mais, devido principalmente a crescente pesquisa de medicamentos biológicos. Para se ter uma ideia da importância do tema, o Ministério da Saúde está investindo R$ 36 milhões em armazenamento e distribuição de vacinas.
A gerente técnica Liana explica que para garantir a eficiência e robustez da manutenção de uma determinada faixa de temperatura de um sistema de embalagem térmica é necessário, entre outros fatores (como por exemplo os estudos de qualificação), a escolha correta do material que transportará a carga. “Ao contrário do que muitos pensam, o volume da embalagem térmica não deve ser escolhido apenas em função do tamanho do produto ou da carga a ser transportada. Este é apenas uma variável atrelada à escolha do material”, afirma.
Para a Liana, entre os principais fatores que devem ser levados em consideração na hora de escolher a embalagem térmica, estão:
Estudos internacionais já comprovaram a perda da capacidade imunizante dos insumos, produtos e medicamentos sensíveis à temperatura causada pela refrigeração inadequada. Daí a grande importância de publicações como o Manual Brasileiro de Boas Práticas de Cadeia de Frio, desenvolvido pela ISPE (Associação Internacional de Engenharia Farmacêutica, sigla em inglês).
Os projetos da Polar Técnica para 2014 apontam para o aumento da área de atuação no desenvolvimento de processos (estudos) de qualificação térmica não só de embalagem, mas de equipamentos, estruturas, frigoríficos etc. Além do lançamento de novos produtos como Kits Validados, Fit Box e outros em estudos e testes. Os clientes target da empresa estão nas áreas farmacêutica, empresas de diagnósticos, vacinas e reagentes.
De acordo com o fundador e diretor comercial da Polar Técnica, Paulo Vitor de Andrade, a companhia, de 79 funcionários, detém três galpões com 3.200m², um laboratório de 420m², incluindo investimento até agora de R$ 600 mil podendo chegar a R$ 1.300.000,00 nos próximos 18 meses. Além de um crescimento estimado entre 12% a 16% ao ano.
Entenda o potencial do mercado de biológicos e os cuidados necessários para aproveitar as oportunidades:
Saúde Web: Caso a empresa não siga as dicas de qualidade e segurança para o transporte e armazenamento dos medicamentos, quais são os riscos e prejuízos relacionados tanto em relação a própria companhia quanto ao paciente final?
Liana: As boas práticas de transporte devem ser seguidas para que o produto que requer temperatura controlada mantenha sua qualidade ao longo de toda cadeia de distribuição. Para a empresa que não mantém o produto na temperatura especificada na embalagem, os prejuízos vão desde a imagem da empresa, ao retrabalho de todo processo logístico até o comprometimento do abastecimento do produto ao mercado e a falta dele para o paciente final. Além dos efeitos adversos ou a não efetividade que um produto fora da faixa de temperatura pode causar.
Saúde Web: O governo é o maior comprador de medicamentos biológicos hoje no Brasil, mas o montante ainda equivale apenas 5% do que consome. Como vê a tendência de consumo deste tipo de produto no País?
Liana: A tendência é que o mercado dos produtos que requerem temperatura controlada cresça cada vez mais, devido principalmente a crescente pesquisa de medicamentos biológicos. Atualmente, os medicamento correspondem a 20% de tudo o que é transportado no país e devem atingir a marca de 25% até 2015. A previsão para o setor sobre a movimentação das vendas globais para 2016 é de US$ 900 bi, sendo que 21%, ou US$ 130 bi, referem-se aos medicamentos biológicos.
Saúde Web: Sabe-se que tais medicamentos são mais caros do que os não biológicos. A alta tecnologia agregada ao correto armazenamento e distribuição pode ser responsável por aumentar ainda mais o preço desses produtos ou acaba evitando gastos desnecessárias?
Liana: O que torna o produto biológico mais caro do que o não biológico é sua alta tecnologia de produção através de metodologias especificas de biotecnologia, os investimentos com pesquisa e desenvolvimento e os processos de obtenção dos princípios ativos, principalmente. A manutenção da temperatura requerida evita gastos desnecessários e mantém a droga com qualidade.
Saúde Web: Vocês falaram sobre carência em infraestrutura e adoção e manutenção de boas práticas. Podem exemplificar melhor as carências a que se referem?
Liana: Os agentes de carga, os modais e todos os sistemas de informação e documentação necessitam melhorias e desenvolvimento em seus processos. Por exemplo, os aeroportos são carentes em infraestrutura física e tecnológicas para o despacho mais ágil e seguro de cargas que necessitam de temperatura controlada.