O mundo hoje enfrenta um grande desafio: enfrentar a pandemia pelo Coronavírus mantendo a ordem nas instituições de saúde, tendo recursos disponíveis para todos aqueles que necessitem, e preservando a integridade da saúde dos profissionais responsáveis pelo cuidado dos pacientes.
Em meio a tantas incertezas sobre uma doença nova, algo já é certo: medidas preventivas são capazes de reduzir a taxa de disseminação da infecção na comunidade, permitindo aos sistemas de saúde público e privado que dêem melhor suporte aos doentes críticos. Entre as medidas preventivas, temos hábitos de higiene pessoal, mudanças comportamentais e distanciamento social.
Neste cenário de distanciamento, é imprescindível que façamos o melhor uso possível da tecnologia em saúde para nos conectarmos com nossos pacientes. Sem sombra de dúvidas, a telemedicina pode ser uma grande aliada, tanto no acompanhamento de pacientes em fase de quarentena, quanto na triagem de novos casos para definir quais aqueles que têm verdadeiros sinais de alerta, e que devem comparecer a uma unidade hospitalar. Em publicação recente, o New England Journal of Medicine (NEJM) aponta que a telemedicina é uma solução “virtualmente perfeita” para um cenário de pandemia como este do Covid-19. Estamos diante de uma situação grave o suficiente para unirmos esforços na definitiva regulamentação da atividade de teleconsultas médicas no Brasil.
Um outro grande benefício que a tecnologia pode nos proporcionar é a educação à distância para a população. Este vem sendo amplamente explorado pelos portais de saúde e pelas redes sociais, onde sociedades médicas e médicos de referência no país divulgam textos e vídeos educativos para a população, orientando sobre a doença e comportamentos que devem ser estimulados ou desencorajados.
No Brasil, temos um desafio adicional: o acesso à terapia intensiva. Apesar de o país estar de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 1 a 3 leitos de UTI para cada 10 mil habitantes (temos índice pouco acima de 2), a distribuição destes leitos no território nacional é irregular e seis estados chegam a ficar abaixo do requisito mínimo de 1 leito para cada 10 mil habitantes. Para agravar ainda mais o quadro, 56% dos nossos leitos de UTI pertencem ao setor privado – ao qual apenas um quarto da população tem acesso – e apenas 44% estão no SUS. O desafio de uma pandemia que consome recursos de terapia intensiva será difícil no setor privado, e extremamente desafiador no setor público.
O telemonitoramento pode auxiliar a assistência à saúde permitindo a monitorização de diversos leitos de UTI à distância por equipes multidisciplinares, e um menor contato direto do profissional de saúde com o paciente, já que a captação dos sinais vitais e dos dados dos dispositivos conectados diretamente no paciente são automaticamente inseridos no prontuário eletrônico, após validação. Estes dados podem auxiliar diretamente a teleinterconsulta, onde médicos especialistas e mais experientes podem ajudar remotamente na condução de casos complexos, vencendo as barreiras geográficas de um país grande como o Brasil.
A teleinterconsulta também permite que haja uma redução na variabilidade do cuidado e na heterogeneidade de conhecimentos. Até o dia 15 de março, já havia 16 mil trabalhos publicados sobre o Coronavírus no mundo. É impossível acompanhar o avançar das novas informações sem uso da tecnologia e trabalho colaborativo. Além disto, o desafio de cuidar de um doente crítico com pulmão de SARA (Síndrome da Angústia Respiratória do Adulto) pode ser extremamente desafiador para um médico pouco experiente e sem conhecimentos de mecânica ventilatória. Existem profissionais de referência em terapia intensiva e infectologia cujo conhecimento poderia ser disseminado por todo o território nacional utilizando uma plataforma de telemedicina dedicada a este fim.
Em nota divulgada no dia 13 de Março, a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) se posicionou alegando que “a aplicação da telemedicina, por meio da teletriagem, teleconsulta, teleinterconsulta, telediagnóstico e telemonitoramento, contribui de forma significativa para a realização da assistência médica sem a exposição de todos os envolvidos ao risco de contágio, como o paciente, os profissionais de saúde que o atendem, os demais profissionais da unidade visitada e os demais pacientes presentes no estabelecimento.”
Cabe a nós, médicos e líderes do setor de saúde do Brasil, o papel de tomar decisões que nos ajudem a enfrentar este desafio da melhor forma possível, cuidando de nossos médicos, colaboradores e pacientes.
Sobre o autor
Dra. Rafaela Guerra é CMIO Carenet Longevit