O setor público de saúde brasileiro possui questões complexas que se adensam com a pandemia do Coronavírus. Soma-se à falta de médicos e de leitos a possibilidade iminente de um aumento de pacientes atendidos pelo SUS e chegamos a um cenário preocupante. Em todo o mundo, a questão de falta de estrutura de saúde para cuidar de pessoas em situações emergenciais como a proliferação do COVID-19 é motivo de inquietação entre os governantes.
Quando falamos de investimentos em saúde no Brasil, temos números que comprovam a situação complexa: em 2018, o investimento em saúde era de apenas 3,6% do orçamento do governo federal, quando a média mundial é de 11,7%. O orçamento previsto para 2020 é de R$ 136 bilhões, segundo informações do Portal da Transparência. Em 2019, o orçamento era de R$147 bilhões. Ainda pouco representativo diante da demanda.
Com recursos apertados, a tecnologia se torna uma grande aliada em momentos críticos como os que vivemos agora.
Acredito que as Soluções de Apoio à Decisão Clínica contribuem para a melhora de questões de infraestrutura e agilidade, principalmente em relação à qualidade no atendimento, no tempo de espera e na redução da variabilidade do cuidado.
Outro ponto é a qualidade da informação que chega aos profissionais de saúde. É fundamental termos confiança no conteúdo que é entregue a quem vai cuidar e curar doentes, seja em momentos rotineiros, seja em momentos de epidemia. Tecnologia aliada ao conhecimento científico e apresentada de forma estruturada cria padronização do cuidado.
Uma boa solução de apoio atende a todas as equipes de saúde com soluções de referência, trazendo para a realidade do profissional todas as informações relevantes não só para agilizar o processo de atendimento como também do cuidado. O reflexo disso é justamente a oportunidade de proporcionar “mais tempo com o paciente” pois, através de informações estruturadas, é realizada a validação, seguindo com o fluxo do cuidado e posteriormente deixando de se prender ao desenvolvimento de Prescrições e Planos de Cuidado… pois estes já são entregues prontos.
Falo de soluções que trazem uma melhoria significativa na qualidade e eficiência deste cuidado, que reduz desde a solicitação de testes desnecessários até diagnósticos errados por uma simples eventualidade que possa acontecer no dia a dia de qualquer profissional. Em tempos de epidemia essas qualidades são essenciais, já que se tornam imprescindíveis rapidez e assertividade no diagnóstico e tratamento.
Telemedicina
Outra tecnologia que pode colaborar enormemente com o quadro da saúde pública em geral e em momentos de epidemia como a do Coronavírus, é a telemedicina. Somos um país de dimensões continentais, no qual nem sempre é possível atender pacientes que precisam de alguma intervenção imediata com a mesma qualidade em todas as localidades, seja por falta de informações ou de profissionais. Para se ter uma ideia, 70% dos médicos especialistas estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste. Em São Paulo, são quatro médicos para cada 1.000 habitantes, enquanto no Nordeste são apenas 2 nesta comparação. Na região Norte temos menos de um médico.
A telemedicina auxilia justamente na eliminação de alguns dos entraves do sistema de saúde, especificamente o público. É uma tecnologia que reduz o gap de oferta de tudo o que falei acima em termos de Apoio à Decisão Clínica, com a oportunidade de um melhor atendimento, mais rápido e eficaz. É também importante como um processo de triagem e que oferece informações relevantes não apenas para a manutenção do cuidado de um determinado paciente, como no compartilhamento de informações sobre determinadas condições clínicas e orientações diversas para pacientes e seus familiares.
Além disso, em momentos de pandemias como a do Coronavírus, fica a possibilidade de pré-atendimentos para triagem e tratamentos simplificados de outros tipos de enfermidade (quando possível). Nesse caso, a telemedicina colabora com a diminuição de aglomerações em ambientes altamente contaminantes.
Em momentos como o que vivemos hoje, percebemos como a transformação digital é essencial para o futuro da manutenção da saúde no mundo. Longe de ser apenas uma solução para hospitais sofisticados e caros, é totalmente adequada ao sistema público de saúde. Todos ganham em eficiência, qualidade de atendimento e diminuição de riscos.
Sobre o autor
Vitor Liberatori é gerente sênior de produtos da Elsevier Brasil