Referência entre os hospitais beneficentes, a Santa Casa de Porto Alegre passou por uma profunda reestruturação nos anos 1990 após atravessar uma grave crise com instalações e equipamentos médicos degradados, salários atrasados e greve de funcionários que levaram ao fechamento do hospital.
Na época, o cardeal Dom Vicente Scherer, que havia se aposentado da Igreja, recebeu a missão de reerguer a Santa Casa de Porto Alegre. "Dom Vicente dizia que não entendia de estruturas financeiras e de hospital. Por isso buscou apoio técnico de profissionais de mercado para a gestão, além de pedir recursos ao Estado para pagar os salários atrasados", diz Julio Dornelles de Matos, diretor de relações institucionais da Santa Casa de Porto Alegre. Ele trabalha na entidade desde a reestruturação.
O executivo lembra que o cardeal deu carta branca aos gestores e fez uma única recomendação. A Santa Casa não deveria depender das doações para pagar suas despesas, mas usar esses recursos exclusivamente para investimento. "Dom Vicente foi humilde em admitir seu desconhecimento nas áreas financeira e hospitalar. Mas foi visionário em colocar que uma entidade não poderia depender de doações para pagar as contas. Hoje, muitas empresas têm as suas próprias fundações o que reduziu as doações para outras entidades", disse Matos.
Nos três primeiros anos de reestruturação, a Santa Casa de Porto Alegre ainda dependeu muito de doações de pessoas físicas para pagar suas despesas. O dinheiro vinha de uma ação do governo local batizada de Bônus da Vida, uma espécie de carnê com sorteios de prêmios. Após esse período, a Santa Casa reconquistou o equilibrio financeiro e permaneceu no azul por alguns anos. Porém, com a criação do SUS (Sistema Único de Saúde) em 1988, a instituição estava fadada a enfrentar novamente problemas financeiros.
Diante do cenário negro, foram implementados programas de gestão com a ajuda das fundações Christiano Ottoni e Vicente Falconi, além de apoio do empresário Jorge Gerdau Johannpeter. O candidato à presidência da Santa Casa de São Paulo, José Luiz Setúbal, esteve reunido com Gerdau para adotar o modelo gaúcho.
"Criamos um planejamento estratégico de cinco anos, com cenários macroeconômicos, setorial e tributário", disse Mattos. Ele conta que com esse planejamento em mãos foi possível bater na porta de empresários para pedir recursos para construção de novas unidades. Já foram construídas e sua receita cobre o déficit do SUS.
Leia mais em: