Menos de um ano e meio após vender 90% da Amil para a americana UnitedHealth por quase R$ 10 bilhões, o empresário Edson Bueno adquiriu por R$ 1,8 bilhão o controle da Dasa - maior empresa de medicina diagnóstica e dona de laboratórios como Delboni Auriemo. Com os papéis comprados ontem, Bueno passou a deter uma participação de cerca de 62% da Dasa, considerando os 23,6% que já detinha em conjunto com sua ex-esposa, Dulce Pugliese.
A expectativa é que essa fatia tenha um acréscimo nos próximos 30 dias, período em que os outros acionistas ainda podem vender seus papéis. Há um grupo de minoritários relevantes, como os fundos Petros e Tarpon, que se opuseram à oferta por considerar o valor baixo, mas podem se desfazer de seus papéis, que representam 17% do capital da Dasa, por discordarem da forma de gestão de Bueno, segundo fontes do setor.
Na nova composição acionária, Bueno poderá indicar pelo menos três dos cinco conselheiros da Dasa. O fundo de pensão dos funcionários da Petrobras pode perder seu assento no conselho, uma vez que precisaria ter 15% do capital da Dasa, mas possui somente 10%. Um dos objetivos da Petros era ter maior poder de decisão na companhia e o mesmo vale para a gestora Tarpon, que costuma ser bastante influente em seus negócios. Portanto, o mercado não se surpreenderia se ambos se desfizessem de seus papéis. A dúvida paira sobre a gestora americana Oppenheimer (10,1%) que não é habituada a participar ativamente da gestão das empresas investidas, mas não costuma vender ações por valor inferior ao adquirido.
Com a Dasa, Bueno volta a atuar como gosta: sendo controlador e da maior empresa do segmento. Em 2010, quando houve a associação entre Dasa e a MD1, sua rede de laboratórios, o empresário alardeava que seria apenas acionista e não iria interferir na gestão. Mas não foi o que se viu. Cerca de 20 dias após o Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade) aprovar a fusão entre Dasa e MD1, o empresário fez uma oferta para compra da dona da rede Delboni Auriemo, que registrou receita líquida de R$ 1,8 bilhão até setembro de 2013. Antes disso, outros episódios mostravam seu apetite para ser tornar majoritário.
Em 2012, a presidência executiva passou a ser ocupada por Dickson Tangerino, primo e homem de confiança de Bueno, com quem trabalhou durante 30 anos na Amil. Tangerino foi fortemente pressionado por minoritários para deixar o cargo, uma vez que a Dasa vem enfrentando resultados ruins nos últimos dois anos. A presidência do conselho é ocupada por Romeu Cortes Rodrigues, que também é visto com alguma reticência por ter sido sócio de Bueno. Mas Rodrigues tem credibilidade no mercado devido ao seu grande conhecimento médico.
A oferta para aquisição das ações foi marcada por uma série de imprevistos, como uma primeira tentativa frustrada por conta de grupo de minoritários (Petros, Tarpon e Oppenheimer) que se opuseram ao valor proposto; o cancelamento da oferta pela CVM; e críticas à postura do conselho.
A transação ainda depende de aprovação Cade e até esse aval Bueno não pode exercer seus direitos. Ontem, dia do leilão, o órgão antitruste enviou parecer do relator da fusão entre Dasa e MD1, aprovada com o adendo de que a companhia precisa vender ativos com faturamento de R$ 110 milhões por ano. "Caso ocorra alguma alteração significativa no quadro atual que cause reflexo imediato neste ato de concentração, entendo que este caso pode ser inclusive revisto. Fato que destaco para uma reavaliação seria o aumento da influência relevante do acionista Bueno, ou quaisquer outros (fundos de investimentos, por exemplo) em Amil ou Dasa", informa documento assinado por Ricardo Machado Ruiz, conselheiro e relator do Cade.
Outro imbróglio gira em torno de uma segunda oferta de ações com novo laudo elaborado por outra instituição financeira. A exigência partiu do conselho da Dasa, que ameça inclusive destituir os poderes de Bueno, caso a medida não seja acatada. Porém, o mercado enxerga essa exigência como cortina de fumaça para minimizar as críticas em torno do conselho.
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