Hospitais Brasileiros testam robô que usa inteligência artificial contra sepse
15/10/2019

Robô alerta sobre risco de infecção

Saúde. Após tragédia pessoal, arquiteto de sistemas criou plataforma que monitora dados de prontuários, sinais vitais e exames e dá alerta a médicos sobre infecção; até agora, 13 hospitais utilizam a tecnologia e estima-se que a ferramenta permita salvar

Após uma tragédia pessoal, um arquiteto de sistemas desenvolveu um robô que desde 2016 já monitorou 2,5 milhões de pacientes e enviou 12.289 alertas de sepse, infecção que mata 250 mil brasileiros por ano, sobretudo em hospitais. A tecnologia, que utiliza inteligência artificial para combinar prontuários, sinais e exames, já está disponível em 13 hospitais brasileiros e deve chegar a São Paulo no próximo mês.

A cada 3,8 segundos, o robô Laura faz uma varredura nas informações sobre pacientes internados e, utilizando inteligência artificial, consegue mapear casos de sepse, grave infecção que pode afetar o funcionamento dos órgãos e levar à morte. A plataforma, criada pelo arquiteto de sistemas Jacson Fressatto, de 40 anos, está presente em 13 hospitais em três Estados e deve chegar à capital e ao interior de São Paulo em novembro.

Quadro que causa a morte de 250 mil pessoas ao ano no País e de cerca de 6 milhões de pacientes no mundo, a sepse tem sido alvo de estudos de instituições, principalmente dos Estados Unidos. A ideia de criar uma plataforma para evitar a complicação em pacientes que estão internados ocorreu depois de uma tragédia na família de Fressatto. Em 2010, a filha Laura nasceu prematura e, após 18 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), morreu por sepse.

“Até 2012, fiquei estudando o que era e vi que se fazia necessário construir uma tecnologia que fosse integradora, mas pouco se falava em inteligência artificial e machine learning (aprendizado das máquinas)”, lembra Fressatto. “Passei a investir recursos pessoais, vendi meu patrimônio e construí, em 2015, um protótipo que foi testado em um hospital para validar o tratamento.”

Segundo o fundador do Instituto Laura Fressatto, a primeira implementação foi em julho do ano seguinte no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, e a plataforma se mostrou eficiente. O balanço da entidade, de outubro de 2016 a junho deste ano, aponta que 2,5 milhões de pacientes já foram monitorados e 12.289 acabaram beneficiados pela tecnologia. “A minha meta pessoal não está relacionada com o que eu passei, mas em saber que a gente pode ter um controle efetivo de risco de morte. Não sou médico nem da área de saúde, mas o que fiz salva 12 pessoas por dia.”

Atualmente, a plataforma está em funcionamento em cinco hospitais do Paraná, entre eles o Erasto Gaertner e o Nossa Senhora das Graças, na capital, além de uma instituição de Minas e sete do complexo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O valor de implementação varia de acordo com o tamanho do hospital e há um gasto mensal de, em média, R$ 4 mil.

Infectologista e diretor médico da plataforma, Hugo Morales explica que a tecnologia funciona monitorando dados do prontuário do paciente e informações contidas em uma ferramenta. Sinais vitais e resultados de exames são analisados pela plataforma, que emite alertas para a equipe médica, caso o paciente apresente alterações no quadro clínico. “A plataforma é a potencialização do ser humano pela máquina, mas quem toma a decisão é o ser humano. Fizemos um estudo seis meses antes e seis meses depois do uso da tecnologia, com 55 mil pacientes. Tivemos redução de mortalidade de 25% e o tempo de internação caiu 10%.”

Diretor assistencial do Hospital Ministro Costa Cavalcanti, em Foz do Iguaçu (PR), Sandro Scarpetta diz que a ferramenta está sendo utilizada há pouco mais de um ano e já trouxe resultados. “A (taxa) de mortalidade passou de 4,33% para 1,64%.”

Alerta. Presidente do Instituto Latino-Americano de Sepse e intensivista do Hospital Sírio Libanês, Luciano Azevedo observa que grupos em outros países estão estudando e desenvolvendo plataformas para evitar a complicação, mas ainda são necessários trabalhos científicos para comprovar a eficácia. “Isso é uma tendência, mas ainda não tem uma plataforma que esteja totalmente validada cientificamente para uso. É como um medicamento, que passa por várias etapas de validação”, explica Azevedo.

“A inteligência artificial que a gente tem ainda não é capaz de discernir totalmente se é um caso de sepse”, observa ele. “Se alarma o tempo inteiro com pacientes que não têm sepse, fadiga a equipe médica. Mas, no futuro, certamente ajudará.”

 





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