O conceito de saúde baseada em valor já encontra aplicações práticas em diversas empresas no Brasil que, mais do que reduzir custos, estão investindo na melhoria da saúde de seus colaboradores
O conceito de saúde baseada em valor tem sido discutido por empresas e operadoras de saúde há alguns anos. Hoje já é possível encontrar exemplos práticos de companhias que estão construindo a jornada de saúde de suas equipes com base neste conceito. As formas de aplicação variam, mas o resultado tem sido, sempre, a melhoria na saúde e na qualidade de vida dos funcionários. No Aché, uma das três maiores empresas farmacêuticas do País, boa parte das ações focadas em valor está concentrada no suporte dado aos funcionários em casos de internação hospitalar. De acordo com a responsável pelo Programa de Qualidade de Vida, Cristiane Arango Leite, a companhia fechou um acordo com as operadoras de saúde que prevê uma análise prévia de sua equipe antes de qualquer procedimento. “O objetivo é entender a real necessidade, se ele será feito no melhor local e se o médico é o melhor para aquele caso”, explica.
Essa jornada inclui também o acompanhamento do pós-operatório do funcionário, o que pode incluir visitas ao hospital e conversas com os médicos responsáveis. O acordo do Aché com as operadoras dá à empresa autonomia para realizar mudanças e até orientar o beneficiário a completar sua recuperação em casa, o que é feito em parceria com a família. “Com o tempo, a efetividade das ações e o acolhimento feito dentro da empresa, eles começaram a ver que realmente funciona. Hoje não temos resistências”, comemora.
Outra empresa farmacêutica que tem investido na saúde baseada em valor é a GlaxoSmithKline – GSK. Tanto é assim que há dois anos a companhia conta com uma vice-presidência global só para cuidar do assunto. Na América Latina, o responsável pela área é Glauco Callia, diretor de Saúde e Bem-Estar América Latina da GSK, que revela que a meta é se tornar referência global em saúde e bem-estar do trabalhador. Para isso, a GSK conta com oito pilares que suportam esta estratégia. Para cada um, há uma série de métricas e ações tomadas junto aos colaboradores para garantir isso. Estes pilares abrangem saúde física (taking action) e saúde mental (controle de estresse), entre outros. No pilar Taking Action, por exemplo, a empresa desafiou os funcionários a dar 10 mil passos por dia. “Cada participante, em média, teve uma redução de 2 quilos”, explica Callia.
Desta forma, a GSK vai estimulando seus colaboradores a mudar seus hábitos, seja por meio da atividade física, do controle de fatores de estresse, de uma nutrição mais saudável ou mesmo com a abertura de novos canais de comunicação com a empresa. A cada ciclo de atividades, uma série de pesquisas é feita com os funcionários, e os índices indicam que a empresa está no caminho certo: 97% dos funcionários querem participar de novo, 87% reconhecem que a vida melhorou depois do programa, e 78% se sentem melhor para trabalhar.
A General Electric (GE) é uma empresa que mantém, há mais de dez anos, seu programa de gerenciamento de saúde dos empregados. De acordo com a gerente de Saúde da GE do Brasil, Márcia Agosti, este programa verifica se os recursos disponíveis estão adequados às necessidades de sua população interna e, mais do que isso, se esse atendimento tem sido efetivo. Com este objetivo, a companhia vem ampliando seus programas com foco naquilo que interfere na experiência dos usuários, tanto dentro como fora da organização. Internamente, as ações se refletem na adoção de horários flexíveis ou na implementação do trabalho remoto, medidas que permitem aos funcionários gerenciarem melhor o seu bem-estar. Nessa direção, neste ano a companhia começou um piloto, ainda mais focado no modelo de saúde baseado em valor. Para isso, foi buscar no mercado um fornecedor que tivesse a disposição de garantir aos pacientes uma experiência de cuidado relacionada a doenças não passíveis de prevenção. Para o teste, e reforçando o seu Programa de Saúde da Mulher, a GE desenvolveu uma trilha de saúde para mulheres com suspeita de endometriose. “É uma doença que, se não for precocemente diagnosticada, pode gerar incapacitação. Além disso, percebemos que os planos de saúde não a atendem muito bem”, compara Márcia. A ideia é que o programa permita medir o valor do tratamento sob três aspectos: clínico, bem-estar e financeiro e, para isso, ele foi desenhado em conjunto pela GE, pelo hospital e pela operadora de saúde da empresa.
Quem também vem trabalhando nas estatísticas de saúde de seus colaboradores para aprimorar seus programas de saúde é a Procter & Gamble. De acordo com o gerente médico da empresa, Fernando Akio Mariya, o foco é identificar riscos no trabalho e no estilo de vida das pessoas. “Primeiro mapeamos nossa população, identificamos riscos e depois trabalhamos estes riscos”, explica. Como exemplo, ele cita os três principais problemas indicados pelos levantamentos nos anos anteriores: alimentação ruim (55%), sedentarismo (30%) e saúde mental (33%). Em outra pesquisa, 33% dos funcionários indicaram que precisavam gerenciar o estresse; 24% queriam melhorar a alimentação; e 14%, perder peso. O cruzamento desses dados permitiu identificar onde havia maior chance de engajamento e por onde os riscos deveriam começar a ser mitigados.
Para que os programas tenham sucesso, todas as unidades da P&G contam com médico, enfermeiro, educador físico e nutricionista. “Eles abordam os aspectos de mudança de hábitos junto aos funcionários e os acompanham em sua jornada de saúde”, conta, lembrando que isso estimula as pessoas a melhorar seus indicadores, reduzindo as chances de doenças agudas e de uso do plano de saúde. “Nosso objetivo é reduzir o uso dos planos ano a ano, fazendo com que as pessoas estejam mais saudáveis”, revela.
“Conseguimos fidelização das pessoas ao protocolo que criamos e isso nos permite acompanhar os resultados clínicos, financeiros e de bem estar” Márcia Agosti gerente de Saúde da GE do Brasil “Quando falamos de saúde mental, o retorno que temos é que eles conseguem gerenciar melhor suas vidas” Glauco Callia, head de Health & Wellbeing Latam da GSK