A inteligência artificial (IA) avança na saúde impulsionada pela maior capacidade dos computadores para processar, armazenar e analisar grandes volumes de dados. No segmento farmacêutico, grandes empresas já se valem da tecnologia para acelerar e baratear o processo de descoberta de novos medicamento. Especialistas calculam que IA pode reduzir um terço do custo de colocar um medicamento no mercado.
Farmacêuticas como a Novo Nordisk, maior fabricante mundial de remédios para diabetes, investem em IA para aproveitar a enorme quantidade de dados clínicos armazenados em seus servidores. Em 2018, a empresa anunciou que usaria tecnologia da startup e-Therapeutics para encontrar terapias para o diabetes tipo 2.
Allan Shaw, vice-presidente de estrutura, bioinformática e ciência de dados da Novo Nordisk, diz que a empresa já lançou uma série de iniciativas que mostram o valor da tecnologia em diferentes etapas do desenvolvimento de medicamentos. “A aplicação de tecnologias relacionadas com IA é parte de uma jornada de transformação digital e requer mudanças significativas em como conduziremos a ciência na descoberta de medicamentos no futuro”, afirma.
Shaw explica que aprendizado de máquina e IA automatizam a análise de dados científicos aumentando a eficiência, rendimento e qualidade desse processo. Além disso, traz inovação ao desenvolvimento de novas moléculas e à identificação de novos alvos para tratamentos inéditos. “Estamos buscando parcerias com startups, companhias já estabelecidas e líderes de opinião em instituições acadêmicas, e também exploramos oportunidades de desenvolvimento em escala global.”
A Merck que apostou em parceria estratégica envolvendo IA para abordar o que, segundo a farmacêutica, é um dos principais desafios no desenvolvimento de medicamentos: a identificação rápida de moléculas que satisfazem múltiplos critérios semelhantes a medicamentos para testes clínicos. A multinacional assinou acordo com a francesa Iktos, que projeta moléculas virtuais com atividades desejadas para tratamentos.
A AstraZeneca, por sua vez, fez acordo com a BenevolentAI para pesquisar novos medicamentos para doença renal crônica e fibrose pulmonar idiopática. No acordo, a BenevolentAI entra com recursos de IA e aprendizado de máquina, e a AstraZeneca com o conhecimento acumulado nas doenças e com grandes bases de dados.
IA está ajudando as empresas do setor em várias outras frentes. Um exemplo é a união de esforços entre Bayer e Genpact para, com uso de machine learning e inteligência artificial, avaliar relatos de reações adversas em pacientes após a administração de medicamentos. Segundo Cibele Rudge, diretora de farmacovigilância da Bayer, a análise de grande volume de dados permitirá, ainda, identificação de tendências que ajudarão a empresa a mitigar ainda mais os efeitos colaterais dos medicamentos.
Outra parceria da Bayer é com a startup brasileira Phelcom, que desenvolveu um aparelho portátil que, acoplado a um smartphone, possibilita exame da retina (retinografia) e diagnóstico precoce de doenças como retinopatia diabética. O aparelho faz imagens precisas do olho, o que possibilita diagnósticos a distância e com custo reduzido. A tecnologia de aprendizado de máquina usa o banco de laudos para identificar padrões associados às principais doenças dos olhos.
Ainda na área de oftalmologia, outra aplicação de IA é o sistema conhecido como ORA (sigla de optiwave refractive analysis), da Alcon, especializada em cuidados com a visão. O sistema usa algoritmos avançados para aumentar a precisão da cirurgia de catarata, procedimento que implanta lente intraocular para substituir o cristalino.
Jonathan Lake, oftalmologista e diretor médico do Hospital Oftalmológico de Brasília e do Grupo Opty, diz que, no procedimento tradicional, o cálculo e a escolha do modelo da lente são feitos dias antes da cirurgia, e pode não ser tão preciso. Com a solução inteligente, o próprio sistema analisa as características individuais do olho daquele paciente e, em tempo real, sugere o modelo e graus corretos da lente a ser usada, além de ajudar no alinhamento da lente dentro do olho.