Mais de três milhões de pessoas foram obrigadas a deixar o sistema, seja pela impossibilidade de pagá-los ou pela demissão
A crise atingiu os usuários dos planos de saúde no Brasil. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o número de beneficiários atingiu o pico em dezembro de 2014, com 50,482 milhões de pessoas, que declinou desde então, estabilizando-se a partir de dezembro de 2017.
Em junho de 2019, eram 47,126 milhões de usuários. 3,356 milhões de pessoas foram obrigadas a deixar o sistema, seja pela impossibilidade de pagá-los diretamente (caso dos planos individuais), seja pela demissão e perda de emprego, perdendo o acesso aos planos empresariais.
Do total de planos existentes no país, 80,5% são coletivos (contratados por empresas ou por adesão). E seus custos têm crescido de modo acentuado nos últimos anos, e eles já respondem pelo segundo maior item das despesas com funcionários, somente atrás da folha de pagamento. Neste ano, a estimativa é que os planos de saúde empresariais tenham reajuste médio de 17%, muito acima da inflação anual, que fechou 2018 em 3,75%.
Esse aumento de custo tem forçado muitas empresas que concedem o benefício a seus funcionários a trocar de operadora, reduzir a rede credenciada ou aumentar a coparticipação para controlar essa despesa. Isso não tem sido suficiente, e grandes empresas passaram a gerenciar diretamente a saúde de seus funcionários e respectivos dependentes.
É o caso da Ambev-Fundação Zerrener que, em 2014, gastava R$ 350 milhões com o convênio médio de seus empregados e hoje tem uma despesa bem menor, de R$ 260 milhões. As companhias agindo nesse sentido têm em comum algumas práticas: investem em atenção primária, têm ambulatórios próprios, fazem gestão de dados da saúde dos funcionários, e criaram convênios médicos com rede credenciada modelada de acordo com as necessidades de seus empregados.
Essas iniciativas estão restritas, porém, às grandes empresas. As pequenas e médias, que constituem a maioria, têm dificuldades para implementar medidas como essas, e muitas têm se limitado a repassar os aumentos dos custos a seus funcionários. Além disso, especialistas alertam que ações, mesmo quando tomadas, não têm resultado em prazo curto e demandam acompanhamento constante.
O problema é sério e exige atenção. As empresas menores podem tentar associar-se entre si, por setores, para gerenciar os planos e reduzir custos. Mas é preciso diminuir os reajustes e o peso decorrente deles, e essa deve ser a prioridade de todos os envolvidos, desde os próprios convênios médicos, passando pelos prestadores de serviços – médicos, laboratórios, hospitais, chegando às empresas que são as contratantes dos planos.
Se nada for feito, a situação só irá piorar, e poderá levar ao absoluto colapso do sistema, que não interessa a ninguém, de usuários aos convênios, e trazer prejuízos generalizados.