Softwares conectados a relógios inteligentes, sensores para monitorar o sono, escovas de dentes eletrônicas, entre outros aparelhos, listam nas telas dos celulares as ações necessárias para promover a saúde e o bem-estar. O cuidado digital é um segmento pujante. Basta entrar nas lojas de aplicativos para ter acesso a sistemas que vão do acompanhamento da dieta até o controle dos batimentos cardíacos. “Mais informado, o paciente quer cuidar da própria saúde. O mercado precisa se adequar a essa tendência”, comenta Roy Jacobs, líder global da área de saúde pessoal da Philips.
O executivo está empolgado com o interesse dos consumidores pelo autocuidado. “Temos de encontrar formas de criar um sistema de saúde sustentável. A prevenção é a melhor estratégia”, comenta. Jacobs considera alarmante o fato de que 90% dos gastos atuais com saúde sejam voltados para cuidar dos pacientes quando eles já estão doentes. “É um sistema caro e que excluiu muita gente. O ideal é evitar que as pessoas precisem do hospital”, diz.
No mês passado, a Philips publicou o estudo global Future Health Index (FHI) 2019. O relatório compila informações colhidas em 15 países - entre eles o Brasil - e mostra que os pacientes estão adotando dispositivos e aplicativos que os ajudem a cuidar da saúde. O uso desses sistemas despertou nos pacientes o desejo pelo acesso aos seus prontuários médicos - que, apesar de estarem repletos de informações pessoais, ficam trancafiados nos bancos de dados de clínicas, hospitais e operadoras de saúde. “Os pacientes não sabem o que há em seus registros. É curioso”, diz Jacobs. O estudo da Philips aponta que 63% dos entrevistados querem acessar os dados do prontuário médico eletrônico. No Brasil, o índice chega a 79%.
Outra conclusão interessante do estudo é a de que, ao mesmo tempo em que desejam ver seus prontuários, os pacientes estão dispostos a compartilhar as informações contidas nos aplicativos utilizados para acompanhar indicadores de saúde. Segundo o estudo, 36% dos entrevistados já enviam os dados a seus médicos.
Os profissionais de saúde enxergam valor no uso de aplicativos e dois quintos deles aconselham seus pacientes a controlarem a saúde por meio desses sistemas. Entre as aplicações digitais citadas pelos médicos estão monitoramento de pressão arterial (44%), registro de atividades físicas (42%) e gestão do peso (39%).
Jacobs explica que a transformação digital na saúde apresenta uma dupla jornada: a dos pacientes e a das instituições de saúde. “Esses interesses precisam se encontrar”, diz. No sistema de saúde, o desafio está em implementar o prontuário eletrônico do paciente, integrando e reunindo dados de laboratórios, clínicas, consultórios e hospitais. Já o consumidor é assediado por serviços oferecidos por empresas como Google, Apple e Amazon, que enxergaram no autocuidado um mercado potencial. “A digitalização está alterando a forma de atuação dos profissionais e a postura dos pacientes. É uma mudança profunda no segmento”, comenta.
O estudo da Philips indica que os profissionais de saúde (69% dos entrevistados) relacionam a implementação do prontuário eletrônico à melhora no atendimento. Ainda de acordo com os dados, 80% deles trocam informações sobre os pacientes, por meios eletrônicos, com seus pares, dentro da mesma organização. O compartilhamento de dados entre médicos de instituições diferentes acontece em 32% dos casos.
No Brasil, os profissionais que utilizam prontuários eletrônicos, relatam melhora na qualidade do atendimento (81%), na satisfação das equipes médicas (81%) e nos resultados para os pacientes (71%). Por aqui, 73% dos profissionais de saúde compartilham informações com seus pares no local onde atendem e 23% trocam dados com médicos de outras instituições. “A cultura para o uso de dados está se formando e isso é bom para o paciente”, destaca Jacobs.
Cresce também no país o uso de soluções de inteligência artificial para automatizar processos e auxiliar as equipes na tomada de decisões. De acordo com a pesquisa, 45% dos profissionais usam tecnologias de inteligência artificial em sua prática (a média dos 15 países pesquisados é de 46%).
“Temos hospitais de ponta no Brasil. O desafio é expandir a tecnologia para todo o sistema.”
Ampliar o acesso à saúde é uma questão relevante por aqui. Os brasileiros consideram que o sistema de saúde não atende às necessidades da população. Os entrevistados citam a falta de médicos como um dos fatores mais preocupantes. “A telemedicina pode ajudar a resolver essa questão”, avalia Jacobs. De acordo com o estudo, 79% dos brasileiros foram desencorajados a visitar um profissional de saúde quando eles tinham razão médica para isso; 54% dizem ter acesso a cuidados médicos quando necessário; e 33% encontraram médicos disponíveis quando precisam.