O avanço da digitalização na saúde demanda esforços de todos os envolvidos com o setor - desde os profissionais da emergência até os gestores públicos, que precisam estabelecer políticas para estimular o uso de tecnologia.
“O que vemos hoje são muitos neurônios e poucas sinapses”, diz Luiz Sérgio Vieira, CEO da EY Brasil. Segundo ele, os recursos, ou os neurônios, estão disponíveis. Hospitais, clínicas, médicos e governos podem se valer de soluções como internet das coisas (IoT), computação em nuvem, análise de dados e inteligência artificial para ampliar a eficiência nos cuidados ao paciente e o acesso aos serviços.
O problema está nas sinapses, que Vieira define como a capacidade de combinar e conectar as tecnologias. “Precisamos multiplicar os casos de sucesso e criar um projeto integrado para a saúde no país”, afirma Vieira. Segundo ele, não há outra opção, principalmente quando cruzamos os dados de envelhecimento da população com o tamanho da conta. “Gastamos perto de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) com saúde. Temos de ser mais eficientes.”
Para Tony Martins, presidente da IBM Brasil, há um novo arranjo na indústria de saúde, no qual a inteligência artificial (IA) tem papel de destaque. “A transformação digital já é realidade. Na América Latina estamos atrasados e precisamos correr para acompanhar o movimento global”, diz. Entre os casos de sucesso de uso de IA, ele cita a implementação de tecnologia cognitiva no Instituto do Câncer do Ceará (ICC), onde o sistema “acompanha” o tratamento de pacientes com câncer e apoia decisões da equipe médica. Com a solução, foi possível reduzir em 50% o índice de infecção hospitalar.
Já o laboratório Fleury tem utilizado os recursos do IBM Watson para análises genômicas. A inteligência artificial criou um exame para identificar mutações dos genes em pacientes oncológicos. A função da ferramenta explica Martins, é auxiliar o médico a identificar as terapias mais eficientes para cada paciente, levando em conta as características genéticas do tumor. “O Watson é capaz de identificar estudos e terapias utilizadas para cada tipo câncer em bibliotecas médicas de todo o mundo”, diz. O sistema é capaz de ler, processar e selecionar informações em velocidade muito superior aos seres humanos, munindo o médico de dados para definir o tratamento. “Nesse contexto, a tecnologia viabiliza a medicina personalizada”, complementa.
“No Brasil, a questão não é se a tecnologia está disponível, mas a velocidade de adoção”, pondera Cristina Palmaka, presidente da SAP. De acordo com ela, as instituições de saúde passaram muito tempo sem utilizar soluções de tecnologia da informação. “É comum vermos equipamentos avançados no atendimento e diagnóstico. Mas quando chegamos na gestão, o cenário é bem diferente”, comenta.
Para ganhar eficiência, as empresas do segmento planejam acelerar a digitalização de processos, desde a gestão de pessoas até o controle financeiro. A tendência é aplicar recursos em sistemas corporativos e aproveitar a criatividade das startups na solução de problemas específicos. “A tecnologia vai melhorar o controle dos recursos, beneficiando todos”, diz.
Outra questão está na adaptação do setor de tecnologia para entender a demanda das instituições de saúde. “A construção deve ser conjunta”, explica Cristina. Ela cita o exemplo de uma solução de internet das coisas implementada no Instituto do Coração (InCor). O projeto envolvia a instalação de sensores na unidade de terapia intensiva e o trabalho com a equipe médica e assistencial foi intenso.
Os especialistas destacam, no entanto, os desafios para estimular a transformação digital na saúde brasileira: mudança cultural nas organizações e na prática médica; regulamentação para o uso de dados e soluções como a telemedicina; promoção de ambiente de negócios propício às empresas de saúde digital; e melhora na qualidade dos serviços de banda larga.