Ministro interino da Saúde sugere que o sistema de financiamento da saúde deve ser revisto, com vantagem para quem tem vida saudável e corre menos riscos de desenvolver doenças
O sistema de financiamento público de saúde é absolutamente injusto e estimula gastos. A afirmação foi feita pelo ministro interino da Saúde, João Gabbardo, ao abrir o Correio Debate Saúde Suplementar: consumo e sustentabilidade, realizado nesta quarta-feira (25/9) no auditório do jornal. “Se hospital investir em medidas para reduzir a infecção hospitalar terá menos receita, porque não usará os antibióticos mais caros, que dão rentabilidade”, explicou.
Segundo o ministro, o sistema não remunera o cuidado com o paciente, mas aqueles que querem faturar mais. “Isso tem de ser revisto. Os planos de saúde não precisam repetir os erros que nós cometemos”, ressaltou. Gabbardo defendeu um modelo que garanta vantagens e bonificações às pessoas que têm hábitos saudáveis de vida e que, por isso, têm menos riscos de desenvolver doenças. “Os gestores precisam reconhecer quem vai gastar menos e viver melhor”, sustentou.
Gabbardo enumerou os desafios da saúde pública. “Saúde é o ponto mais significativo e de maior importância para a população. É uma coisa que todos nós vamos precisar em algum momento da vida. Somos todos dependentes.dela.
Por isso ,o grande desafio é equilibrar uma demanda crescente, com gastos que vem aumentando de forma exponencial, sem recursos e base para sustentar as despesas na mesma proporção.”
O ministro ressaltou que o Brasil investe muito no setor. “Comparado com outros países, não é pouco, são 9,1% do PIB (Produto Interno Bruto). Segundo ele, o SUS atende 77% da população. Em 2018, foram 11,9 milhões de internações, praticamente 1 milhão por mês. “Mesmo quem tem plano de saúde usa algum serviço público”, disse.
De acordo com o interino da pasta, o sistema de transplantes do Brasil é um dos melhores do mundo, o programa de imunização é um dos maiores e o país é referência em doação de sangue na América Latina. “Nosso orçamento cresceu 141% desde 2008. Porém, as despesas com ações judiciais cresceram 1083% no mesmo períodos”, alertou.
O custo para pacientes em tratamento, segundo ele, passou de R$ 120,1 milhões, em 2009, para R$ 1,4 bilhões no ano passado. “Em 2019, está em R$ 999 milhões e pode chegar a R$ 1,5 bilhão”, revelou.
Atenção primária
A decisão do ministro titular Luiz Henrique Mandetta é ampliar o investimento em atenção primária, disse Gabbardo. “A saúde suplementar também terá de percorrer esse caminho para promover o reequilíbrio financeiros dos planos”, sugeriu.
O objetivo do governo é criar uma competição positiva entre as equipes de saúde da família. Cada equipe atende 4 mil pessoas e são 40 mil, portanto o programa deveria atender 160 milhões de pessoas. Mas apenas 80 milhões são cadastradas. “A partir de agora, as equipes vão receber por pessoas cadastradas e por indicadores, como redução de diabetes ou DST/Aids, aumento de cobertura vacinal. Isso vai gerar uma competição positiva”, assinalou.
Gabbardo também destacou o programa de vacinação e sugeriu que os planos de saúde se envolvam mais na imunização, já que isso reduz doenças e gastos. “Não vemos envolvimento das operadoras. Poderiam fazer acordos com o governo federal. Seria uma vantagem para o país e para os planos. Não queremos repassar a responsabilidade, mas poderia haver maior envolvimento”, afirmou.