Com a indicação do secretário municipal de São Bernardo do Campo (SP), Arthur Chioro (PT), para comandar o Ministério da Saúde, o PT de São Paulo manterá o controle sobre a pasta com maior orçamento da União, R$ 106 bilhões. Antes mesmo de Chioro assumir o ministério, dirigentes petistas tentam articular a manutenção do atual secretário em um eventual segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
O presidente do PT estadual de São Paulo, Emídio de Souza, comemorou a escolha. "Mostra que o PT paulista continua prestigiado no governo federal. Temos quadros para as áreas mais importantes do governo", afirmou Emídio.
Médico sanitarista, formado em 1986, Chioro, com 45 anos, é elogiado por especialistas por seu perfil técnico e pela experiência na área, mas é visto dentro do PT também como importante auxiliar do atual ministro da Saúde e pré-candidato ao governo paulista, Alexandre Padilha, nas eleições deste ano. Presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo desde 2011, o futuro ministro tem boa relação com secretários e prefeitos de diferentes partidos em todo o Estado.
Na campanha estadual, Padilha usará São Bernardo do Campo - quarta cidade mais populosa do Estado, com 765 mil habitantes - para exibir vitrines de sua gestão no ministério como as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), o Hospital de Clínicas e a atuação de médicos estrangeiros no programa Mais Médicos.
No comando da secretaria, Chioro conseguiu atrair investimentos milionários do governo federal para a cidade, que foram usados para construir as principais bandeiras do prefeito Luiz Marinho (PT). Segundo petistas, a atuação no ministério poderá cacifá-lo em 2016 à sucessão de Marinho em São Bernardo do Campo, cidade onde vive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com foco profissional na atenção básica de saúde, Chioro terá como missão manter e expandir o Mais Médicos, que deve turbinar a campanha de Padilha e a da presidente Dilma Rousseff na disputa pela reeleição. Em seu currículo, o futuro ministro traz a atuação como consultor na Organização Panamericana de Saúde, que faz a intermediação entre os governos brasileiro e cubano para trazer médicos de Cuba ao país.
Para o ex-ministro da Saúde e senador Humberto Costa (PE), Chioro deve levar o programa Mais Médicos até "as últimas consequências". "Ele sempre foi um forte defensor do programa. Até o fim do ano será a missão dele. Mas por sua qualificação esperamos que Dilma o mantenha no ministério no segundo mandato", disse o senador.
Trata-se da segunda passagem de Chioro pelo Ministério da Saúde. No governo Lula, foi diretor do Departamento de Atenção Especializada, quando teve como principal tarefa tocar a estruturação do Samu. Na época, a pasta era comandada por Costa. A primeira experiência na gestão pública ocorreu entre 1989 e 1992, quando trabalhou na Secretaria de Saúde de Santos no governo Telma de Souza (PT). Em seguida, tornou-se secretário municipal de Saúde em São Vicente, na Baixada Santista.
A escolha de Chioro também foi comemorada por especialistas do setor. Lenir Santos, advogada e doutora em saúde pública pela Unicamp, afirmou que o futuro ministro reúne qualidades como conhecimento, experiência e uma visão inovadora do ponto de vista de gestão do setor. "Chioro realizou um grande trabalho em São Bernardo do Campo ao fortalecer as equipes do Programa de Saúde da Família. Além disso, ajudou a criar as UPAs no município", disse.
Gilson Carvalho, médico pediatra e doutor em saúde pública pela USP, disse que a preocupação com a atenção básica é o principal legado de Chioro como secretário. "Essa política é importante na medida em que ajuda a cuidar das pessoas antes que fiquem doentes ou quando estão começo da doença".
O futuro ministro pode enfrentar em breve problemas na Justiça. A promotora Taciana Trevisoli Panagio instaurou um inquérito civil público contra o secretário em setembro de 2013 para apurar a denúncia de que, como sócio majoritário da Consaúde Consultoria, Auditoria e Planejamento LTDA, ele prestava consultorias para prefeituras petistas enquanto comandava a pasta municipal. A Lei Orgânica do Município de São Bernardo do Campo impede que secretários sejam donos de empresas com contratos com entes públicos.
Autor de livros e artigos técnicos, Chioro é também estudioso da relação entre a ciência e o espiritismo. Orador e dirigente espírita, escreveu " Mecanismos da Mediunidade: Processo de Comunicação Mediúnica", "Magnetismo, Vitalismo e o Pensamento de Kardec" e é co-autor de "A CEPA e a atualização do Espiritismo"
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