Uma pesquisa realizada pela KPMG mostra que metade das fraudes empresariais cometidas em 78 países foram facilitadas por falhas nos controles internos. As informações sobre as investigações e os funcionários envolvidos foram coletados entre agosto de 2011 e fevereiro de 2013. Com base nesses dados, a empresa de auditoria e consultoria traçou um perfil do fraudador: tem cargo de confiança, entre 36 e 55 anos, mais de seis anos de casa e, na maioria das vezes, ocupa funções nas áreas executiva, financeira, operacional, de vendas ou marketing.
"O empregado que consegue realizar uma fraude sem suspeitas, normalmente, conhece, controla e sabe manipular os sistemas", alerta Gerónimo Timerman, sócio-líder da área forense da KPMG, responsável pela identificação de fraudes nas empresas.
Os dados apurados também mostram que, em 70% das fraudes, o autor teve a ajuda de outros executivos, já que considerou difícil realizá-la sozinho.
Quando realizada em grupo, a fraude pode causar perdas ainda maiores, como aconteceu com uma empresa do setor de tecnologia, segundo Carla Rahal, presidente da Comissão de Estudos de Compliance em Matéria Criminal do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP). A ação resultou numa perda financeira de R$ 3 milhões, o que correspondia a 3% do lucro líquido da companhia.
"O grupo tinha acesso privilegiado a uma série de informações confidenciais e se aproveitou para arquitetar a operação", conta Carla, que participou do processo de identificação dos fraudadores e preferiu manter o nome da companhia e detalhes da ação em sigilo.
Esse tipo de operação é facilitada por recursos tecnológicos, que fornece aos funcionários um grande volume de dados. Para evitar o uso indevido dessas informações, segundo especialistas, a empresa precisa estruturar melhor seu controle interno. "Com uma estrutura adequada, é possível mapear o fluxo da informação e monitorar processos de forma mais efetiva", explica Marcos Assi, analista da Massi Consultoria, especializado em controles internos e compliance, acrescentando que muitas companhias perdem com a centralização de processos em um só funcionário.
De acordo com Assi, as lojas de departamento são os principais alvos de funcionários mal intencionados. O mais comum, nesses casos, é roubo de produtos do estoque, uma das fraudes mais praticadas, segundo a pesquisa da KPMG. "Em um desses crimes, a empresa perdeu R$ 800 mil, o que representava 10% do que ela gastava com prevenção à fraude", conta.
O maior erro dessas companhias, segundo os especialistas, é se preocuparem com o problema só após terem sido fraudadas. "O Brasil ainda precisa criar uma cultura de prevenção, como há em outros países. Acredito que a Lei Anticorrupção vem aí para iniciar esse processo", afirma Timerman, da KPMG.
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