Oferta por controle da Dasa revela disputa acirrada
17/01/2014 - por Por Ana Paula Ragazzi e Beth Koike | Do Rio e São Paulo

Às vésperas da oferta pública de aquisição (OPA) de ações, chamada pelo empresário Edson Bueno para compra do controle da Dasa na bolsa, os bastidores da operação, marcada para o dia 22 de janeiro, revelam uma disputa acirrada pela maior empresa de medicina diagnóstica do país.

Fundos que juntos concentram 27% do capital da Dasa - Tarpon (7%), Oppenheimer (10,1%) e Petros, fundo de pensão dos funcionário da Petrobras (10%) - não querem vender suas ações alegando discordar do valor oferecido. Um fundo disse ao Valor que se Bueno conseguir o controle da Dasa, sairá da companhia.

 

 

O empresário, criador da Amil, ao lançar a oferta, deixou muito claro que quer o controle - o que deixa subentendido que se não conseguir comprar os 26,40% que lhe faltam, deverá se desfazer de sua fatia na empresa. Em nenhum momento até agora, disse que quer "deslistar" a Dasa.

Os fundos não são, portanto, obrigados a entregar os papéis. A fatia deles, inclusive, garante a manutenção da Dasa no mais alto nível de governança da bolsa, o Novo Mercado. Mas como estão reclamando do preço oferecido demonstram que não querem continuar na companhia com Bueno e exigem um preço maior para entregar seus papéis.

A interlocutores, a Tarpon não se diz interessada no controle. Porém, é característica da gestora ampliar posições nas empresas que investe para ter interferência na gestão, estratégia que ficaria prejudicada com o controle de Bueno. A Tarpon alcançou participação relevante na Dasa em junho do ano passado, quando declarou 5%. E aumentou a fatia nos últimos meses até os 7%.

"Se os fundos estão descontentes com o preço oferecido pelo controle podem, inclusive, lançar uma oferta concorrente à colocada por Bueno", disse um analista, sinalizando que poderá haver alguma disputa no leilão.

O criador da Amil ofereceu R$ 15 por ação da Dasa, com prêmio de 12,4% em relação a 20 de dezembro, último pregão antes do anúncio da oferta.

A informação de que a Petros não entregaria os papéis, por ter montado sua posição pagando um valor acima de R$ 16 pelas ações, acabou levando o fundo ao centro de outra polêmica. Carlos Fernando Costa, diretor financeiro e de investimentos da Petros é membro do conselho da Dasa.

O conselho, por unanimidade, manifestou-se na segunda-feira favoravelmente à oferta com alegação de que "atende aos interesses dos acionistas da companhia destinatários da oferta pública de ações, considerada a situação atual da companhia". Este parecer não obriga o acionista a vender a ação pelo preço ofertado.

Aqueles que concordam com a oferta e as condições de Bueno argumentam que tendo em vista que Costa concordou com os termos da oferta como conselheiro seria no mínimo contraditório a Petros não vender as ações. A Petros informou que "não comenta assuntos estratégicos de investimentos."

Advogados societários afirmam que a decisão de Costa no conselho não "amarra" a posição da Petros, apesar de colocar o executivo numa posição, no mínimo, "inusitada". Mas, no conselho, ele estaria olhando o interesse de todos os acionistas e, sob esse ângulo, ele pode achar que a proposta é boa. Por outro lado, ao analisar sob a ótica da Petros é possível que a proposta não seja tão atrativa. As decisões dos fundos de pensão, são, inclusive, em colegiado.

"É a materialização de um conflito de interesses e de perspectivas", diz um advogado. Em sua análise, o voto de Costa amarraria a posição do fundo apenas se ele estivesse exercendo um voto nos termos de acordo de acionistas. "Caso contrário, ambos são livres e desvinculados, apesar de parecer incoerente e contraditório", diz.

Essa análise abre brecha para outra crítica daqueles que não concordam com Bueno no controle. O laudo de avaliação da oferta foi elaborado pelo Credit Suisse, que assessorou o empresário na venda da Amil para a americana UnitedHealth em uma transação de quase R$ 10 bilhões. Hoje, o patrimônio de Bueno é administrado pelo Credit Suisse.

Outro ponto que divide opiniões refere-se à postura de Romeu Domingues, ex-sócio de Bueno, e hoje presidente do conselho da Dasa. Devido a essa proximidade, há quem defenda que ele não deveria ter participado da discussão como fez Dickson Tangerino, presidente executivo e primo de Bueno. Domingues diz que avaliou todas as possibilidades de conflito e conclui não haver esse problema.

Uma reclamação recorrente dos minoritários é que ao oferecer R$ 15 pelo papel, o empresário está perpetuando a atual situação econômico-financeira da companhia que é ruim. "A Dasa está emergindo de um longo período de investimento de capital e recuperação operacional, o que faz com que a sua taxa de crescimento, de lucratividade e o seu fluxo de caixa estejam significativamente abaixo do seu potencial norma l", informa a gestora americana Oppenheimer.

Outro minoritário ressaltou que na ata do documento há em vários pontos alertas que a Dasa pode gerar retornos atraentes para quem não participar da oferta. "Para acionistas que têm horizonte de investimento mais longo, superior a três anos, por exemplo, e possuem disponibilidade para assumir os riscos inerentes à manutenção de posições na companhia durante tal prazo, inclusive ao longo de eventuais reorganizações operacionais subsequentes à OPA, acredita o conselho de administração que a alternativa de permanecer como acionista da Dasa pode gerar retornos atraentes", informa o documento.

O pano de fundo de toda a pressão evidencia uma disputa pelo controle da Dasa e revela interesses distintos dos acionistas. Bueno quer participar da empresa se puder implementar sua própria gestão. Seu foco não deve ser necessariamente o lucro econômico, mas sim o crescimento estratégico. Essa foi, de uma forma bastante simplificada, a história da Amil vendida à UnitedHealth.

Os acionistas que questionam o oferta - Petros, Tarpon e Oppenheimer alcançam, juntos, 27%. Metade das ações da Dasa está com outros investidores, o que leva muitos a apostar que Bueno terá êxito em comprar o controle. Do ponto de vista dos fundos, brigar pelo preço é legítimo até porque eles entraram na Dasa em momentos distintos pagando valores diferentes.

Mas há, certamente, investidores da base acionária da companhia que enxergam valor em ter o fundador da Amil no comando da Dasa. Estão no mercado 50% das ações da Dasa, que estão sendo disputada pelos grupos de Bueno e dos fundos - o empresário realizou rodada de conversas com investidores no exterior. Procurados, a Dasa e os fundos não quiseram se pronunciar.


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