Apesar da recuperação lenta da economia, o segmento de tecnologia da informação avança em ritmo acelerado. Entre as 12 atividades que entram no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), a de informação e comunicação foi a que mais cresceu no segundo trimestre (3%), em comparação com igual período de 2018, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O avanço foi impulsionado pelos serviços de internet e desenvolvimento de software.
O desempenho positivo não se limita ao segundo trimestre. De janeiro a junho, a receita nominal acumulada por empresas de TI subiu 13,1%. O percentual é o maior entre todas as atividades monitoradas na Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), do IBGE. As altas taxas de crescimento puxaram uma expansão do pessoal ocupado em serviços de TI nos últimos anos (63,41% entre 2008 e 2017) e uma onda recorde de fusões e aquisições.
"De dois anos para cá, companhias tradicionais estão comprando empresas de internet para funcionar como motor da sua transformação digital", afirma Luis Motta, sócio-líder em fusões e aquisições da KPMG no Brasil. No primeiro semestre deste ano, o ranking de fusões e aquisições (M&A) da KPMG registrou novos patamares recordes de transações envolvendo empresas de internet (116 operações) e tecnologia da informação (61).
"Os serviços de TI têm uma trajetória ascendente desde o início da série histórica, em janeiro de 2011", diz Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços. Mesmo com uma base de comparação extremamente elevada, o volume de receitas das empresas que atuam na área de TI - com ajuste sazonal - atingiu em maio seu ponto mais alto na série histórica. Em junho, houve retração, mas Lobo diz que a queda não denota necessariamente uma inflexão de trajetória. "Parece ser apenas algum tipo de ajuste no setor", afirma.
Na prática, a tecnologia da informação é um dos segmentos que têm sustentado o desempenho positivo do setor de serviços em 2019. O volume de serviços no Brasil - medido pela PMS - acumulou variação positiva de 0,6% nos seis primeiros meses do ano.
A lista de negócios que mais estão contribuindo para manter o resultado no campo positivo é encabeçada pelos portais de busca e provedores de conteúdo, seguidos pela consultoria em tecnologia da informação. Na quarta posição, aparecem os serviços relacionados a software.
"As exportações [de software] tiveram um crescimento muito grande nos últimos anos. Tanto para minimizar os efeitos das crises internas, como por causa de um amadurecimento do mercado, que fez as empresas olharem para fora", diz Ítalo Nogueira, presidente nacional da Assespro (Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação). A entidade reúne quase 2 mil empresas associadas em 13 Estados.
No sentido contrário, os serviços de telecomunicações vêm perdendo participação dentro da economia brasileira. De maneira geral, as operadoras de telefonia sentem os efeitos das mudanças nos padrões de consumo, com a substituição dos serviços de voz por mensagens instantâneas e o avanço dos OTTs (sigla em inglês para as empresas que fornecem conteúdo e serviços digitais pela internet).
Divulgada na semana passada, a mais recente edição da Pesquisa Anual de Serviços (PAS) mostra que em 2017, pela primeira vez desde o início da série histórica atual, em 2007, o peso do segmento de TI superou o de telecomunicações em termos de valor adicionado. O valor adicionado é calculado subtraindo-se os impostos do PIB.
Pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, Juliana Trece destaca que em 2007 o segmento de TI respondia por 25,4% do valor adicionado dentro do grupo de atividades de informação e comunicação, no qual estão incluídos também os serviços de telecomunicações. Dez anos depois, em 2017, essa porcentagem havia subido para 42,7%. Ao longo do mesmo período, o peso das telecomunicações encolheu de 56,3% para 42,2%, compara Juliana, a partir de dados da PAS.
Além da velocidade de expansão, o mercado de tecnologia da informação tem se mostrado extremamente resistente a crises econômicas nas últimas décadas. "Nas últimas nove recessões que o país experimentou desde o primeiro trimestre dos anos 80, não houve queda no valor adicionado nas sete primeiras. Só nas duas últimas, em 2008 e 2014", diz a economista do Ibre.
Mesmo na década de 80, período de instabilidade política e econômica, os serviços de informática cresceram, influenciados pela modernização dos bancos. "Analisando de uma maneira mais estrutural, com relação aos ciclos econômicos, é possível perceber que, a atividade de serviços de informação não é relacionada com os ciclos", afirma a pesquisadora.
Em termos de pessoal ocupado, os prestadores de serviços de tecnologia da informação empregavam no fim de 2017 um contingente de 554,1 mil trabalhadores, ante um total de 339 mil em 2007. "Até 2024, necessitamos de mais 400 mil empregados", calcula Ítalo Nogueira, da Assespro, para quem o setor enfrenta um "apagão de mão-de-obra."
A pulverização do mercado de TI no país tende a manter elevado (e crescente) o número de fusões e aquisições, diz Luis Motta, da KPMG. Em sua avaliação, a implementação da tecnologia de comunicação de quinta geração (5G) vai contribuir para a continuidade da expansão dos segmentos internet e tecnologia da informação.