Dona da Amil, a empresa americana UnitedHealthcare está cortando custos e pessoal a fim de melhorar os resultados da operadora brasileira. Desde sua aquisição, por R$ 10 bilhões em 2012, a Amil não apresenta bom desempenho financeiro. A orientação é que cada departamento da companhia faça uma redução de 30% entre orçamento e salários. Até agora, pelo menos 300 pessoas, inclusive do alto escalão, foram demitidas. Esse número deve aumentar porque o processo ainda está em andamento, segundo o Valor apurou.
Ainda de acordo com fontes, a reestruturação da unidade brasileira - que contava com 38 mil funcionários em 2018 - está sendo liderada pessoalmente pela CEO global da UnitedHealthcare, Molly Joseph. A executiva passou a maior parte deste mês no Brasil promovendo mudanças, liderando reuniões e esteve também na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
O presidente do UnitedHealth Group Brasil, o médico Claudio Lottenberg, por sua vez, não participou do encontro na agência reguladora, tampouco tem liderado as decisões estratégicas da companhia. Seu contrato com a UnitedHealth vence somente em 2021, mas com o poder esvaziado, algumas fontes do mercado acreditam que Lottenberg pode vir a ocupar algum cargo público na área da saúde, um projeto que o médico acalenta há anos. Em 2005, ele foi secretário de saúde da cidade de São Paulo.
Lottenberg assumiu o UnitedHealth Brasil em 2016, após ser convidado pelo fundador da Amil, Edson Bueno, para substitui-lo. Antes, o médico foi durante 15 anos presidente-executivo do Hospital Albert Einstein (ainda hoje preside seu conselho). Em 2016, o mercado já comentava os desafios que Lottenberg teria para tocar um grupo dono da maior operadora de planos de saúde do país, com 3,5 milhões de usuários, e uma rede com 21 hospitais e 35 centros médicos. A Amil vinha apresentando prejuízos sucessivos (ver tabela). A companhia até conseguiu fechar 2017 no azul, com resultado de R$ 54 milhões, mas o lucro líquido caiu para R$ 8 milhões já no ano seguinte. Em performance, a Amil destoa de seus concorrentes, que crescem mesmo diante dos níveis de desemprego do país, que levaram 3 milhões de pessoas a perder seus planos de saúde nos últimos quatro anos.
O desempenho da Amil vem desagradando os americanos, que começaram a pressionar Lottenberg. Uma das primeiras ações da companhia para reverter o quadro foi renegociar os valores pagos a seus prestadores de serviço, na tentativa de reduzir custos. A iniciativa, no entanto, foi um tiro no pé. A Rede D'Or, maior grupo hospitalar do país, não aceitou as condições da operadora e 17 hospitais foram (totalmente ou parcialmente) descredenciados. O problema é que o rompimento desagradou muito o público do Rio, onde a D'Or é líder. Com isso, segundo fontes, 240 mil usuários da Amil trocaram de plano de saúde e esse número pode bater em 350 mil até o fim do ano.
Procurado pela reportagem, o UnitedHealthGroup Brasil informou, em nota, que "está focado na prestação de cuidados mais acessíveis e de alta qualidade aos seus beneficiários". E acrescentou que "a inovação nos negócios, os avanços tecnológicos e o compromisso com a eficiência exigem que a empresa avalie continuamente o porte e a composição de sua equipe interna para garantir que ela apoie seu objetivo de consolidar um sistema de saúde sustentável e que promova mais valor e saúde para todos os seus clientes."