O ano passado mostrou que responder se investir em um fundo DI é melhor ou não do que deixar o dinheiro na poupança não é trivial. E que, especialmente quando os recursos são limitados, é preciso pesquisar para encontrar as opções que batem a caderneta. De um total de 77 fundos DI acessíveis, 30 superaram o ganho da poupança em 2013, segundo um levantamento do consultor Marcelo d'Agosto com base na Economatica. O estudo considerou apenas carteiras sem restrição de acesso e com aplicação mínima inferior a R$ 100 mil. Fundos disponíveis apenas ao cliente de private banking não entraram na lista.
A rentabilidade dos fundos DI foi comparada com o ganho de 5,82% da chamada nova poupança, com rendimento de 70% da Selic, que vigorou entre maio e agosto do ano passado. Quando considerado o retorno da velha poupança, que pagou 6,37% em 2013, e um prazo maior, de dois anos, apenas sete fundos DI acessíveis superaram a caderneta.
Na seleção de um fundo DI capaz de bater a poupança, a análise mostra que buscar uma taxa de administração baixa deve ser o primeiro passo, ainda que não suficiente. Das 30 carteiras que superaram o rendimento da caderneta, 29 têm taxa de administração menor ou igual a 1%. Há apenas uma carteira com taxa de 2%. São 21 os que têm taxa inferior a 0,8%.
Para conseguir tais taxas nos bancos, em geral é preciso ser cliente de segmentos de alta renda, o que fica explícito nos nomes das carteiras com marcas como Prime, Van Gogh, Premier e Estilo. Nesses casos, com frequência é preciso ter pelo menos R$ 50 mil para a aplicação inicial.
Dentre as carteiras que bateram a poupança em 2013, também há gestores independentes, ou seja, não ligados a bancos. Nesses casos, há fundos com aplicação mínima mais baixa, a partir de R$ 100. Em geral, eles estão disponíveis em plataformas independentes, como as da XP, da Guide e da Órama.
"Essa é uma explicação para toda a captação da poupança. Os maiores distribuidores de produtos financeiros são os grandes bancos e, para o varejo, os fundos são na maioria das vezes muito caros", diz d'Agosto, citando carteiras com taxas que chegam a 5%.
A taxa de administração é uma referência, afirma o consultor financeiro, mas vale também observar o histórico de rentabilidade da carteira. Isso porque a estratégia dos gestores de fundos DI não consiste simplesmente em comprar títulos públicos do tipo LFT, indexados à Selic. Há uma diversidade de outras operações, que têm o objetivo de turbinar o retorno da carteira, mas que, dependendo das condições de mercado, podem reduzi-lo no curto prazo, dada a necessidade de marcação a mercado.
O administrador de carteiras Humberto Vignatti diz que a maioria dos fundos DI em mercado tem em carteira não apenas LFTs. "Com o objetivo de tornar a rentabilidade um pouco mais atraente, muitos adicionam títulos prefixados em estratégias de papéis casados", afirma. Ao enxergarem prêmios nas LTNs, eles combinam operações à vista com travas no mercado de DI futuro. É a chamada LFT sintética. Ocorre que, se a taxa das LTNs subir, o título em carteira se desvaloriza. O gestor é obrigado a marcar o papel a mercado, ou seja, expressar a desvalorização na cota, ainda que pretenda carregá-lo até o vencimento. A alta dos juros básicos em 2013 penalizou esse tipo de operação.
Assim como a marcação a mercado de títulos públicos, a de papéis privados pode ter prejudicado o retorno de algumas carteiras, diz Vignatti. É bom lembrar que apenas fundos DI com mais de 50% do patrimônio aplicados em papéis de crédito privado precisam evidenciar tal exposição no nome da carteira.
"O ideal é que o investidor avalie não só a taxa de administração como também a carteira do fundo DI", diz Vignatti, lembrando que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) disponibiliza essa informação em seu site com defasagem de no máximo três meses.
É preciso levar em conta ainda que os cálculos básicos que costumam servir de referência ao investidor - e que apontam para fundos DI mais rentáveis do que a poupança para qualquer prazo de resgate quando a Selic é superior a 9% - têm premissas que podem trazer um diferencial na prática. Uma delas é a de que a Taxa Referencial (TR), somada a 0,5% no cálculo do retorno da poupança, é igual a zero.
A TR de fato ficou nula entre setembro de 2012 e junho de 2013, diz Vignatti. Desde então, entretanto, tem assumido valores positivos, trazendo um diferencial positivo para a caderneta em relação ao fundo. Por conta da TR, destaca o administrador de carteiras, a poupança já chega a render 0,6% em um mês.
Paulo Colaferro, sócio da gestora de patrimônio Taler, ressalta que é preciso pesquisar para encontrar as boas opções, o que não é trabalho fácil para o pequeno investidor, muitas vezes sem conhecimento ou sujeito aos interesses de seu gerente bancário. Há também aqueles que preferem seguir as "dicas quentes" dos amigos e familiares.
"As pessoas tentam fazer o que outros estão fazendo, o que dá muito conforto. Investem olhando no retrovisor. Mas geralmente as pessoas só contam o que deu certo, nunca o que deu errado", ressalta.
No caso dos fundos DI, Colaferro indica que a busca do investidor deve estar focada em produtos com rentabilidade próxima de 100% do CDI - pelo menos de 92% a 98% - e com taxas de administração até 0,50%. "Esse deve ser o teto para um fundo pós-fixado de títulos do Tesouro."
De acordo com Carlos Takahashi, presidente da BB DTVM, apesar de as taxas de administração dos fundos de varejo terem caído, a venda de produtos para clientes com aplicações de R$ 500 ou R$ 1 mil ainda é interessante para o banco. Não só pela remuneração ser suficiente para cobrir os custos como para garantir relacionamento com o cliente.
Takashi destaca que as aplicações de pessoas físicas em fundos do BB, de R$ 170 bilhões (incluindo a previdência), superam o saldo depositado em poupança, de R$ 135 bilhões.
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