Chegada de médicos cubanos no interior de SP reduz filas de espera
13/01/2014 - por Por Ligia Guimarães | De Pedreira e Santo Antonio de Posse (SP)

Em Pedreira e Santo Antônio de Posse, municípios do interior paulista, a chegada dos cubanos pelo programa Mais Médicos reduziu filas e agilizou o atendimento à população nos bairros mais carentes. No posto de saúde do Jardim Andrade, na periferia de Pedreira, que até setembro tinha apenas um clínico geral, o número de senhas distribuídas aos pacientes atendidos por dia passou de 16 para 32 depois que a unidade recebeu o reforço de uma médica vinda de Cuba. O posto é responsável por uma área onde vivem 6.000 famílias.

Feliz com o simples aumento no número de consultas e com a redução no tempo de espera, a população ainda se divide na avaliação e no nível de confiança no desempenho dos profissionais estrangeiros. Um temor, no entanto, já foi afastado: médicos e pacientes estão se entendendo, superando a barreira do idioma.

Dos 5.839 profissionais estrangeiros que atuam no Mais Médicos, 5.400 são cubanos. Eles chegaram ao país por meio de um acordo do governo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço da Organização Mundial de Saúde para as Américas. A meta oficial é ter, até março de 2014, 13 mil profissionais trabalhando nos municípios que aderiram ao programa. Cada médico do programa recebe bolsa no valor de R$ 10 mil mensais.

Entre setembro - quando a reportagem do Valor esteve nas duas cidades pela primeira vez - antes da chegada dos novos médicos - e dezembro, na segunda visita, Pedreira já recebeu três médicos cubanos e Posse, quatro. Apesar de próximas a grandes centros - as duas cidades integram a região metropolitana de Campinas, que tem curso de medicina em três universidades diferentes -ambas têm déficit de profissionais na saúde básica.

Em Pedreira, o atendimento ganhou velocidade: pouco antes das 7h, horário em que o posto do Jardim Andrade começa a funcionar, 15 pessoas aguardavam na fila. Três horas depois, todas haviam sido atendidas. Ritmo bem mais rápido que o observado na primeira visita, em setembro, quando cerca de 20 pessoas ainda aguardavam consulta médica no horário.

 

 

"Saí uma hora mais cedo, a fila andou mais rápido", disse o auxiliar de produção Gilcélio da Silva dos Santos, 32 anos, que estava no posto pela primeira vez desde a chegada da médica cubana Tania Aguiar Sosa. A aposentada Damaris Nunes, 66 anos, pegou a senha número seis às 7h, foi atendida pela nova médica por volta das 9h e diz que não teve dificuldades. "Fui bem atendida, ela fala muito bem o português. E agora atendem mais depressa", conta.

Jéssica Gaudêncio, 26, que levou a filha ao médico na primeira vez que a reportagem foi ao posto, em setembro, faz uma avaliação menos positiva do atendimento. Ela voltou ao posto em novembro, após a chegada da doutora Tania, e diz que ainda tem receio em confiar nas recomendações da médica. "Ela prescreveu uma dose de antibiótico para a minha filha que achei excessiva. Não segui a indicação e fui em outro hospital", contou Jéssica, por telefone.

A operadora de máquinas Maria da Conceição Pedro, 36 anos, já foi atendida duas vezes pela médica Tania e gostou do atendimento, mas sentiu falta de pedido de exames para descobrir a causa da dor nas costas que a incomoda há tempos. Maria diz que esteve no posto com o mesmo sintoma mais de uma vez - foi atendida tanto pelo brasileiro quanto pela cubana -, mas acredita que sua dor não foi investigada suficientemente.

"Fico voltando com o mesmo problema e acho que, com um exame, poderia saber o que é. Tomo remédio, alivia a dor e logo volta tudo de novo. Mas gostei do atendimento. Se fosse com o médico brasileiro, não sei se ele pediria exame", disse Maria.

Logo depois de conversar com a repórter em frente ao posto de saúde, Maria voltou à sala de consulta para questionar a médica sobre a possibilidade de um exame, mas ouviu que o procedimento não era necessário e saiu sem o pedido.

A espera diminuiu também para a família da dona de casa Dirce de Morais Araújo, 54 anos, que em setembro contou à reportagem que passava em média quatro horas no posto de saúde aguardando atendimento. Ela diz agora que, com dois médicos, a espera caiu para duas horas. "Meu marido foi recentemente lá, chegou perto das 6h da manhã, mas foi atendido bem mais rapidamente", contou Dirce, por telefone. Tanto o marido quanto a filha de Dirce, que já passaram em consulta com Tania, disseram que o portunhol da médica é fácil de entender.

"Só na receita que não entendi muito, mas de médico brasileiro também não dá para entender. Mas levamos na farmácia e eles 'traduzem'", diz a dona de casa. Não é a primeira vez que a família de Dirce é atendida por médicos cubanos. Em 1995, Pedreira foi uma das cidades pioneiras a receber os profissionais de Cuba, que ajudaram a estruturar o atendimento à saúde básica no município nos moldes atuais. "Tinha boa opinião sobre os médicos cubanos, e continuo tendo", diz Dirce.



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