Oferta de Edson Bueno por Dasa pode enfrentar resistência de fundos
03/01/2014 - por Beth Koike
   Menos de 20 dias após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovar com restrição a associação entre Dasa e MD1, o empresário Edson de Godoy Bueno fez uma oferta para aquisição da totalidade das ações da maior empresa de medicina diagnóstica do país em uma transação avaliada em cerca de R$ 3,6 bilhões.

   Ao se tornar o único dono da rede de laboratórios, Bueno poderá obter sinergias com os seus outros negócios na área de saúde. O empresário é dono de seis hospitais em São Paulo, Rio e Brasília. Na capital paulista, por exemplo, é proprietário do Nove de Julho e do Santa Paula, que acaba de expandir com uma unidade de oncologia. Além disso, Bueno é presidente e acionista minoritário da Amil, operadora de planos de saúde que fundou e vendeu para a americana UnitedHealth Care em 2012.

   Desde a venda da Amil por quase R$ 10 bilhões - sendo que R$ 6,5 bilhões foram para o seu bolso e de Dulce -, o empresário buscava novos negócios na área da saúde. Para isso, Bueno montou um "familly office" administrado por seu filho Pedro, que analisa possíveis aquisições.
 

   Segundo comunicado divulgado na terça-feira, Bueno está oferecendo R$ 15 pela ação da Dasa, o que representa um prêmio de 12,4% em relação à cotação do dia 20 de dezembro, último pregão antes do anúncio da oferta. Porém, fontes do setor questionam se os fundos acionistas da Dasa aceitarão a proposta. Isso porque o papel da empresa de medicina diagnóstica era negociado por cerca de R$ 18 antes da fusão com a MD1, em agosto de 2010.

   Entre os fundos que detêm as maiores participações na Dasa estão a Oppenheimer Funds, com uma fatia de 10,10%; a Petros (fundo de pensão dos funcionários da Petrobras), que detém 10%; e a Tarpon, com 5%.

   "Tenho dúvidas se os fundos que entraram na Dasa pagando R$ 18 vão aceitar essa oferta de R$ 15 do Edson", disse uma fonte que preferiu não se identificar

   A interferência de Bueno na Dasa sempre foi alvo de questionamento pelo mercado. O empresário não costuma ter participações minoritárias, tampouco se coloca apenas como acionista em seus negócios. Apesar das regras limitando o poder de Bueno sobre a companhia, o que se viu nos últimos três anos foi uma ingerência cada vez maior do empresário nos negócios, culminando na oferta de compra de todas as ações.


Uma das maiores críticas giraram em torno da escolha de Dickson Tangerino para a presidência em junho do ano passado. Tangerino é homem de confiança de Bueno, com quem trabalhou por cerca de 20 anos na Amil. "Quem me indicou foi o conselho de administração da própria companhia", disse Tangerino em entrevista concedida em junho de 2012 ao Valor. O presidente do conselho da Dasa, Romeu Côrtes Rodrigues, que também é próximo ao fundador da Amil, afirmou na época que a escolha de Tangerino foi motivada por sua experiência no setor de saúde.

   De acordo com fontes do setor, no primeiro semestre deste ano, os minoritários tentaram tirar Tangerino da presidência por considerarem o desempenho da empresa insatisfatório, mas a iniciativa teria sido barrada por Bueno. Em julho, ao ser questionado pela reportagem do Valor sobre uma possível pressão por parte dos fundos para sua saída, Tangerino informou que desconhecia tal iniciativa.


Desde o ano passado, a Dasa apresenta queda no desempenho devido a uma profunda reestruturação classificada até como "traumática" por analistas do mercado. A empresa chegou a perder 25% das ligações para agendamento de exames com o novo call center.

Além da aceitação dos fundos, a oferta levantou também outros questionamentos. Na terça-feira, a BM&FBovespa pediu esclarecimentos sobre variações recentes registradas na cotação dos papéis da empresa. Em 11, 12, 13 e 18 de dezembro, os volumes financeiros foram de R$ 35,5 milhões, R$ 44,3 milhões, R$ 59,8 milhões e R$ 31,9 milhões, respectivamente. Nos demais dias deste mês, o movimento gerado pela negociação das ações ficou entre R$ 12 milhões e R$ 18 milhões.

No próprio dia 24, a Dasa informou, por meio de comunicado, que "o único fato que tem conhecimento que poderia justificar as últimas oscilações registradas na cotação das ações de emissão da companhia, bem como o aumento do número de negócios e da quantidade negociada detectados pela BM&FBovespa foi a publicação do edital de oferta pública voluntária de aquisição." No pregão de terça-feira, a ação da companhia fechou em alta de 10,94%, para R$ 14,80.

 




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