Em dois meses, a operadora de planos de saúde Hapvida levantou R$ 4,6 bilhões no mercado, tornou-se a maior empresa do setor com cerca de 6 milhões de usuários e, segundo o Valor apurou, vai destinar R$ 1,6 bilhão para novas aquisições. As praças que estão no radar da companhia são o interior de São Paulo, Sul, Centro-Oeste e o Nordeste.
A operadora levantou, na última quarta-feira, R$ 2,6 bilhões numa oferta subsequente de ações (follow-on). Deste total, R$ 550 milhões serão utilizados para a expansão orgânica das operadoras São Francisco e América, recém-adquiridas, R$ 450 milhões vão reforçar o caixa da operadora e o restante será usado nas aquisições.
A oferta subsequente de ações foi realizada num intervalo de apenas 37 dias da emissão de debêntures que levantou R$ 2 bilhões. Esses recursos serão destinados para quitar parte da compra da São Francisco Saúde, que foi fechada por R$ 5 bilhões. Apesar de as duas transações terem sido concluídas num período tão curto, o follow-on teve uma demanda nove vezes superior à oferta, sendo que a maior procura veio de investidores estrangeiros. Com a conclusão da operação, a família Pinheiro, fundadora da Hapvida, ficou com uma participação de 72% e o mercado aumentou sua fatia de 22% para 28%.
Na oferta subsequente, os papéis da Hapvida foram precificados a R$ 42,50, o que representa uma valorização de 80,8% em relação à oferta inicial de ações (IPO), realizada em abril de 2018, quando a companhia captou R$ 3,4 bilhões que foram usados na aquisição da São Francisco.
Fundada em 1979, em Fortaleza, pelo médico Cândido Pinheiro como um hospital, a Hapvida assumiu a liderança do setor de planos de saúde com a compra da São Francisco, operadora de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, com 1,8 milhão de usuários e presença no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Com essa transação, numa só tacada, a Hapvida entrou em praças em que, até então, havia muitas dúvidas se a operadora cearense seria capaz de marcar presença e replicar seu modelo, que é bem sucedido no Nordeste. Lá e nas cidades do Norte do país, a Hapvida é dona de uma ampla rede própria que possibilita à empresa controlar os custos médicos.
O grupo é dono de 58 hospitais e pronto-socorros, 158 clínicas médicas e 123 laboratórios de medicina diagnóstica distribuídas no país. Esses números incluem as aquisições do primeiro semestre deste ano que ainda estão em processo de aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A taxa de sinistralidade da Hapvida é da ordem de 60%. Nas demais operadoras e seguradoras de saúde esse indicador varia de 70% a 90%
Um ponto que chama atenção é que a verticalização na Hapvida não se restringe aos hospitais, clínicas e laboratórios. O grupo tem construtora, empresas de arquitetura, telemarketing e publicidade, tecnologia e lavanderia que prestam serviços ao negócio de saúde. Na sede da companhia, há uma robusta plataforma tecnológica que acompanha em tempo real todos os procedimentos médicos. Cerca de 95% das internações dos usuários de planos de saúde acontecem nos hospitais próprios.
Antes de fechar a compra da São Francisco, a companhia buscou um outro caminho para diversificar sua atuação geográfica. Construiu um complexo com hospital e clínicas em Joinville, em Santa Catarina, para atender, inicialmente, os funcionários da Whirlpool e Embraco. A estratégia é chegar na região Sul já com uma carteira de clientes contratada para sustentar os custos operacionais e aos poucos ampliar para a população local.
Um dos desafios da Hapvida é fazer a integração dos ativos adquiridos fora do Norte e Nordeste, onde a operadora conhece bem as características locais. Não à toa, a companhia manteve o presidente da São Francisco, Lício Cintra, à frente do negócio.