Depois de implementar o plano família voltado a parentes de até quarto grau dos participantes, a Funcesp mira a autogestão de mais planos de saúde como alternativa para continuar crescendo. O fundo de pensão das empresas elétricas do Estado de São Paulo vai passar a administrar os planos da Enel (antiga Eletropaulo) e da Sabesp, o que deve proporcionar um aumento de 85% da sua carteira.
No Brasil, 18 fundos de pensão fazem a autogestão do benefício - ou seja, administram diretamente o plano de saúde, incluindo convênios com hospitais, médicos e clínicas. É o caso da Fapes, dos funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fundação Real Grandeza (Furnas e Eletronuclear), Fundação Copel (Copel) e Metrus (Metroviários do Estado de São Paulo), por exemplo.
Os custos elevados, especialmente por causa de uma massa de participantes envelhecida, pressionam essa gestão. Na Fapes, por exemplo, foi implementado um programa de redução de custos. E a Real Grandeza está fazendo adaptações no seu modelo.
Na Funcesp, a autogestão de plano de saúde é feita há mais de 40 anos. O presidente da fundação, Walter Mendes, diz que a agenda é de crescimento e que a gestão de saúde da fundação é um modelo para o mercado. "Somos umas das poucas fundações que tem agenda de crescimento. Nossa área de saúde tem tido desenvolvimento. Tem havido um interesse muito grande de entidades", disse o executivo ao Valor. Em meio a um crescimento mais lento, o setor precisa se reinventar para continuar em expansão.
Com as novas adesões, a Funcesp, uma fundação multipatrocinada que reúne patrimônio de R$ 30,5 bilhões, passa a atuar no setor de saúde em grande escala. Serão adicionadas 66 mil novas vidas, elevando o total para 144 mil. "O grande ganho é o de escala. Isso é extremamente relevante na área de saúde. E o nosso poder de negociação junto a redes de hospitais e clínicas aumenta. Acima de 100 mil vidas passamos a ser uma operadora de grande porte", diz Mendes.
O fundo de pensão terá de contratar funcionários para cuidar da gestão dos planos, mas Mendes projeta queda de 20% nos custos administrativos com os ganhos de escala. E os contratos com hospitais e clínicas serão renegociados conforme o vencimento. A fundação também testa com seus próprios funcionários um plano com foco em prevenção de doenças. A ideia é estendê-lo para as empresas até o fim do ano.
A fundação foi responsável pelos planos de saúde da Eletropaulo - atual Enel - até 2001, que agora está retornando com 22 mil vidas, correspondente à atuação da empresa no Estado de São Paulo.
No caso da Sabesp serão adicionadas 44 mil pessoas. Por exigência legal, a viabilização do convênio com a Funcesp para a administração dos planos de saúde inclui a criação de um plano previdenciário de contribuição definida, patrocinado pela Sabesp e administrado pela Funcesp. Ele será destinado a novos funcionários e aqueles que ainda não optaram por nenhum plano da Fundação Sabesp de Seguridade Social (Sabesprev).
A Sabesprev havia adotado o modelo de autogestão de saúde, que culminou com o desequilíbrio financeiro e poderia levar ao esgotamento do patrimônio do fundo. Além de tentar resolver esta questão, a entidade enfrentava uma ação na Justiça movida pela Associação dos Aposentados e Pensionistas da Sabesp (AAPS). O processo foi encerrado com um acordo em janeiro, que incluiu a contratação da Funcesp. Antes disso, em novembro, a Unimed havia sido anunciada como gestora dos planos.
Em relação ao plano familiar, aberto para adesões este mês, a Funcesp projeta participação inicial de 3 mil pessoas. Em cinco anos, a perspectiva é que o fundo chegue a quase 25 mil participantes, com patrimônio de R$ 300 milhões. Segundo a Funcesp, nos últimos cinco anos o ganho médio do fundo no qual serão aplicados os recursos do novo plano familiar foi de 65,7%.
Considerando a fundação como um todo, a rentabilidade em 2019 até maio foi de 7%, superando a meta atuarial de 5,3% no período.