CEO da ISQua afirma que ainda é alto o risco do paciente sofrer algum dano durante seu atendimento
CEO da Internacional Society for Quality in Health Care (ISQua), Peter Lachman, esteve recentemente no Brasil para firmar uma parceria com o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), para oferecer os cursos de especialização da ISQua ao mercado latinoamericano. Lachman disse que é um ótimo momento para abordar a segurança do paciente, visto que o tema teve destaque na Assembleia Anual da Organização Mundial de Saúde (OMS), ocorrido recentemente. Segundo ele, os estados membros reconheceram que a segurança do paciente é uma prioridade na área da saúde e é necessária uma ação concentrada para reduzir os danos aos pacientes.
“Quando falamos de segurança do paciente, não basta querer fazer o melhor, é preciso saber o que fazer e aí sim, tentar o melhor. Infelizmente, muitos médicos e enfermeiros não sabem o que fazer para garantir a segurança do paciente. Eles não foram ensinados a agir da maneira correta para prevenir danos e isso é que tentamos fazer com os nossos programas de cursos. É preciso criar uma cultura de segurança”, explicou Lachman. Alguns dos maiores desafios para a melhoria dos cuidados de saúde, de acordo com ele são compreender melhor os dados obtidos a partir da mensuração de resultados, enxergar a questão da segurança com os olhos dos pacientes, focar mais em prevenção do que no tratamento e garantir equidade na atenção. “E por isso é tão importante a construção de uma rede de contatos, para que possamos resolver os problemas juntos”, frisou.
“As estatísticas apontam que são oito milhões de vidas perdidas, a cada ano. Acredito que esse número esteja subestimado. Para combater isso, precisamos de uma ação ampla do sistema, o que significa que precisamos de políticas públicas. No Reino Unido, em 2008, tivemos medidas de austeridade que causaram o aumento da pobreza e logo a saúde da população foi afetada. Decisões tomadas no Parlamento e em grupos comunitários são muito importantes e têm impacto em questões como a qualidade e segurança”, enfatizou o CEO.
Roleta
Lachman usou a figura de uma roleta de cassino para ilustrar a situação de quem busca um hospital. “O paciente aposta na roleta todos os dias. Quando ele chega a uma unidade de saúde, acredita que tudo vai correr bem. Mas ele tem uma chance em dez de sofrer algum dano. A segurança do paciente e a qualidade são como a roleta. O paciente paga e, como num cassino, o cassino nunca perde. Já o paciente…”. Ele esclareceu que há diversos processos utilizados para fortalecer a questão da segurança: a responsabilidade individual, o gerenciamento de riscos e também os fatores humanos e ergonômicos e um sistema de engenharia para a segurança que torne possível entender como o sistema funciona, a partir do macrossistema do hospital e a confiabilidade das organizações.
“A questão da segurança do paciente é bem complexa porque há várias teorias e nós sabemos o que fazer, mas a grande dificuldade é convencer as pessoas a fazerem o que é certo. Esta é a grande questão: como tornar as pessoas capazes para mudar esse jogo? Nossos programas, que trazemos em parceria com o CBA e o Medportal, têm esse objetivo. Levar conhecimento às pessoas. Mas transformar esse conhecimento em ações, isso é o mais difícil”, ressaltou.
Heleno Costa Junior, superintendente do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), trouxe à tona a questão do ensino de disciplinas relacionadas à qualidade e segurança nas escolas de Medicina. Ele lembrou que o problema começa na formação dos profissionais da saúde e que na graduação não há destaque para essas questões. Lachman ressaltou que são poucas as escolas que abrem espaço para a questão da qualidade e da segurança. “A maioria das escolas de Medicina alegam que não há como incluir ‘segurança do paciente’ como disciplina e fazem apenas uma palestra sobre o assunto. Mas isso não é o que precisa ser feito. O problema é que as faculdades de Medicina não entendem o que é necessário mudar a forma de pensar das pessoas”, defendeu Peter Lachman.