A operadora de saúde Hapvida fez sua segunda aquisição de empresa em pouco mais de um mês. Comprou o Grupo América Planos de Saúde, de Goiás, por R$ 426 milhões. No início de maio, adquiriu o grupo São Francisco, por R$ 5 bilhões. Com a consolidação desses dois ativos, a Hapvida passa a marca de 6 milhões de beneficiários de saúde e odontologia. Há uma semana, comprou também um hospital em Juazeiro do Norte, no Ceará. A operadora começa a incluir como alvo de aquisições empresas menores e carteiras de clientes.
"A América está concentrada em Goiânia e tem atividade também em Anápolis e Aparecida. A Hapvida não tem praticamente nada em Goiânia e a São Francisco tem operações em Goiás, mas não na capital", conta Jorge Pinheiro, presidente da Hapvida. "Com essas duas aquisições, consolidamos nossa posição no Centro-Oeste."
A América une três operadoras com sócios e estruturas diferentes, em modelo verticalizado como a Hapvida - com atendimento em três hospitais, um day hospital, 14 unidades de apoio e 3 laboratórios de análises clínicas. Tem 190 mil vidas em plano saúde, mas apenas 1% disso em planos odontológicos - na Hapvida e na São Francisco, esse índice é de cerca de 60%.
"Crescer em odonto é uma das oportunidades ali, bem como aumento da verticalização e redução de despesas administrativas", diz. "Além disso, nos abre uma nova frente comercial em um Estado rico, com economia resiliente com agronegócio", complementa.
Replicando seu modelo de negócio, a operadora espera reduzir a sinistralidade da América, de 72%, em comparação aos 59,7% da Hapvida em 2018. Para Pinheiro, é o modelo que tem se mostrado mais eficiente no setor. "Por isso operadoras mais verticalizadas vêm ganhando espaço no mercado nacional, em relação a seguradoras e cooperativas", avalia.
Pinheiro colocou em sua rotina diária um período dedicado à análise e negociação de potenciais aquisições e fusões e aos processos de integração. São de três a quatro horas por dia por conta desse tema, apoiado por uma equipe própria de aquisições da Hapvida. "O final de tarde até a noite tem sido dedicado a isso", contou o empresário, em entrevista ontem na sede do banco BTG Pactual, em São Paulo. O BTG foi o assessor externo da Hapvida na aquisição.
"Até agora priorizamos aquisições de operadoras verticalizadas. Mas, a partir das empresas que já compramos, o leque de oportunidades se abre muito", diz Pinheiro.
"Não só pelo tamanho das empresas, mas pela possibilidade de comprar operadoras não verticalizadas também, carteira de clientes ou unidades de atendimento."
A Hapvida mapeou operadoras de todo o país, listou quais fazem sentido e já vem conversando com algumas delas. Pode olhar operações de 30 mil vidas, por exemplo, que ficavam fora do radar. "Quando você não tem operação em uma cidade ou região, não adianta comprar uma carteira pequena", diz Bruno Cais, diretor financeiro da Hapvida. "Isso muda quando já temos ativos ali", diz. No fim do ano, a Hapvida fez uma movimentação nesse sentido: comprou uma carteira de clientes em Teresina porque a demanda de seus beneficiários representava só 20% da estrutura de um de seus hospitais.
Uma vantagem de olhar ativos menores é que os múltiplos da aquisição também tendem a ser menores, dada a menor competição pelo ativo, além de aumentar o número de possíveis alvos. Pela América, a Hapvida estava em corrida solo. O múltiplo da aquisição é de 8,5 vezes o Ebitda de 2019, mas a empresa considera um múltiplo implícito (já com sinergias e considerando o Ebitda projetado para 2020) de 5,3 vezes. "É um múltiplo bem abaixo das últimas operações do setor", diz Pinheiro. Na São Francisco, com as sinergias, o múltiplo foi de 9 vezes.
"É alta a possibilidade de continuarmos fazendo aquisições desse perfil, em mercados ricos, onde a competitividade é baixa, grandes operadoras não estão e pagando múltiplos atrativos", diz Pinheiro. Pela América, a Hapvida vai pagar R$ 376 milhões à vista e R$ 50 milhões em até cinco anos.