Na semana passada acompanhamos a entrada de um teste genético inédito no Brasil no diagnóstico de doenças infecciosas. A novidade foi apresentada pela Dasa, através de sua marca carioca Sérgio Franco Medicina Diagnóstica. O teste em questão é o Karius, lançado por uma startup de mesmo nome, no fim do ano passado, por grupo de ex alunos de Stanford, no Vale do Silício
A startup identifica geneticamente mais de mil tipos de patógenos (entre bactérias, vírus, protozoários e fungos) no plasma do indivíduo e reporta o resultado em até 48 horas. José Levi, Consultor de Genética Dasa/GeneOne, explica que diferentemente de uma análise genética tradicional, na qual se isolava o DNA do sangue, neste teste, o meio utilizado para a análise é o plasma. “Eu gosto de fazer essa comparação: nos referimos ao plasma como ouro líquido. Um barril de plasma vale muito mais do que um barril de petróleo. O mercado anual de hemoderivados está na casa de 20 bilhões de dólares.”
Assim como em todos os processos infecciosos, ele diz, os organismos deixam as suas assinaturas e liberam DNA circulante no plasma do hospedeiro. Deste modo é possível, através de uma simples coleta de sangue, rodar o algoritmo da Karius no plasma de uma pessoa, e identificar qual o patógeno presente na amostra.
“É um teste que muda completamente como trabalhamos o diagnóstico de doenças infecciosas hoje”, diz Levi sobre o Karius. Normalmente é necessário ter uma hipótese a priori, realizar uma pesquisa para confirmar o caminho e seguir com o tratamento. Neste caso, não é necessário nenhum tipo de suposição prévia, já que o teste, 100% baseado em sequenciamento de nova geração, varre toda a base do GenBank e compara com o DNA não humano encontrado no plasma. O resultado é um laudo com descritivo de todos os patógenos, e suas quantidades, na amostra analisada. Uma segurança a mais na tomada de decisão sobre a conduta terapêutica mais eficiente para cada situação.
Alberto Chebabo, Gerente de Relacionamento Médico da Dasa, ressalta um dado importante. “40% das doenças infecciosas acabam, por limitação, ficando sem diagnóstico. Por exemplo, por pacientes que estão utilizando antibióticos ou por sorologias pouco específicas. Nós sabemos que quando não se consegue chegar a um diagnóstico etiológico correto, há um aumento da taxa de mortalidade do paciente em até 74%”. Esse dado mostra o quanto é significativo um teste que identifique de forma inicial, com o que o corpo médico está lidando.
O exame terá, inicialmente, um público bem definido: casos graves com o ponto de coleta no hospital. O teste é decisivo não só no diagnóstico de infecções graves, como a sépsis, mas também pode beneficiar pacientes submetidos a transplantes ou tratamentos de câncer, por exemplo. O teste pode indicar com meses de antecedência se haverá processo de rejeição de um órgão, através da quantidade de DNA do doador no plasma do receptor. Isso dá para a equipe médica tempo e conhecimento fundamentais para as decisões relacionadas ao paciente.
A Dasa, tem exclusividade do teste na América Latina e está em processo de transferência de tecnologia. Por enquanto, o teste será coletado no Brasil, e enviado aos Estados Unidos. A previsão é que a operação se torne nacional no fim do segundo semestre.
“A percepção é que o Karius é custo-efetivo, tanto que [nos EUA], o teste já está sendo incorporado nos pacotes de transplante de medula”, comenta Levi. Gustavo Campana, Diretor Médico da Dasa, também presente no evento, avalia que, apesar do Karius ter um custo de R$ 8,5k e ser considerada uma tecnologia cara, ela se paga. “Basta pensarmos se o resultado for tirar o paciente um dia da UTI, do isolamento, ou acertar de primeira o medicamento. Existem pacientes que tomavam antifúngicos que custam 4 mil por dia, por meses, e não precisavam, no final”. Há um retorno, mas Campana garante que o principal pilar de interesse do laboratório é o diagnóstico precoce.
Segundo o Diretor Médico, a genética na rotina clínica no Brasil é algo recente, de 2012, quando os laboratórios começaram a oferecer esse tipo de teste. O primeiro aspecto importante a ser levado em consideração quando se fala em crescimento, de fato, desse mercado, é a dependência da inclusão do serviço no rol de cobertura da ANS. O segundo é a disponibilidade de tecnologia e especialistas no país. Especialmente para desenvolver painéis que correspondam a nossa realidade. Hoje, o time da Dasa é formado por cerca de 20 profissionais altamente qualificados e multidisciplinares.
“Isso é muito novo, por isso sempre tentamos disponibilizar esse conhecimento, através de publicações e rodada de eventos. Estamos compartilhando experiências para ajudar o médico no que pedir e como interpretar o laudo. É um suporte que oferecemos para o médico se sentir confortável em trazer esse tipo de tecnologia para a sua rotina”, diz Campana.
Levi finalizou prevendo que, em 2025, o Karius talvez seja a principal ferramenta para diagnóstico de doenças infecciosas. Além disso, seguindo outras tecnologias, o exame tende a se popularizar e poderá ser expandido para outros fluidos além do plasma, como a saliva e a urina, para citar.