Especialização é bom para o paciente e ajuda a cortar custo
05/11/2013 - por Por Ana Cecília Americano | Para o Valor, de São Paulo

Como aumentar a satisfação dos pacientes de forma expressiva e garantir economia de custos hospitalares entre 25% a 33%? Michael Porter, professor do Instituto de Estratégia e Competitividade da Harvard Business School, garante que a tarefa é possível. Para ele, os sistemas de saúde devem ser radicalmente reestruturados de forma a se pautarem por resultados práticos e palpáveis para o paciente, e gerarem valor para ele.

Segundo Porter, que falou ontem em São Paulo em um seminário sobre gestão hospitalar, organizado pelo Valor, os custos dos tratamentos de saúde podem cair até 50%, se o processo for bem orientado e conduzido. Autor de vários 'best sellers' de administração, Porter há dez anos dedica-se a entender e a aprimorar a administração de hospitais, tendo outro papa da administração, Robert S. Kaplan, como coautor de artigos sobre o tema. Seus preceitos têm ajudado a transformar a gestão da saúde em países como Alemanha, Suécia e Estados Unidos.

"O principal problema da administração dos sistemas de saúde hoje diz respeito ao fato de os gestores não saberem para onde querem ir", diz Porter. Mas, defende, é possível obter-se uma verdadeira revolução quando se consegue focar os resultados no paciente - por exemplo, medindo sua taxa de sobrevivência, ou o tempo médio de sua reabilitação, ou a necessidade de novas internações - em vez de perseguir protocolos burocráticos, centrados em procedimentos internos dos hospitais.

Porter critica o modelo em que as áreas dentro de um hospital são montadas em torno das especialidades médicas. "É muito comum haver a área de radiologia, um centro cirúrgico, os anestesistas e todo o hospital girar em torno desses departamentos", compara. "Essa estrutura foi criada quando sabíamos muito menos sobre as várias áreas da saúde e quando a tecnologia envolvida era escassa". Hoje, diz, é simplesmente impossível ser bom em tudo. "Não se trata de profissionais não dedicados o suficiente, ou não treinados o bastante. Simplesmente a estrutura está errada e com ela é quase impossível dar certo", afirma.

Sua proposta, ao contrário, é centrar o atendimento no tipo de doença ou dificuldade do paciente - que pode ser, por exemplo, enxaqueca, a necessidade de uma prótese no quadril, ou a troca de uma válvula do coração. É o que ele chama de Unidades Integradas de Práticas específicas, ou Integrated Practice Units (IPUs). "A divisão tradicional simplesmente não cria valor ao paciente, que é jogado de uma área para outra e, muitas vezes, demora semanas entre um encaminhamento e outro", reclama. "Tudo isso aumenta o custo, pois não há padronização possível e, pior, resulta em atendimentos de qualidade pífia". A sua proposta é que se crie um único local em que o paciente seja recebido e realize todos os exames e procedimentos necessários, tendo uma pessoa específica para acompanhar o seu caso entre os vários especialistas que compõem a equipe multidisciplinar.

Porter cita o exemplo de hospitais tradicionais na Alemanha comparados com outros que implantaram o sistema de IPUs. Nos casos de bebês prematuros com menos de 26 semanas de gestação, aqueles que foram atendidos em UPIs tiveram um índice de mortalidade de 15%; os demais, recebidos em hospitais tradicionais, a mortalidade média chega a 33,3%.

Porter também deu como exemplo os pacientes de câncer de próstata. "Em geral, a sobrevivência dos grupos atendidos em UPIs em países desenvolvidos e os atendidos no sistema tradicional de saúde é de 95%. Até aí não há qualquer diferença. Mas quando checamos aqueles que ficaram com disfunção erétil severa, os pacientes dos hospitais normais chegavam a índices acima dos 75%; ante os índices de 17,4% nas UPIs. E a incontinência urinária era um problema para 43,3% dos pacientes oriundos dos hospitais generalistas, antes os 9,2% daqueles tratados em centros mais especializados", comparou.

Na visão do especialista, a maioria dos atendimentos nos hospitais se resume a cerca de uma centena de práticas. Para ele, o ideal seria que se construíssem expertise em torno de cada uma delas e o paciente recebesse um ciclo completo de atendimento, que não se encerraria, por exemplo, numa cirurgia. Na verdade, ele iria até a sua reabilitação completa.

Em resumo, as UPIs de Porter basicamente são compostas de uma equipe multidisciplinar em que médicos com especialização na área, enfermeiros, especialistas em imagem, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos todos se debruçam sobre aquele problema de saúde específico, tornando-se especialistas no assunto. "Entre as vantagens óbvias desse modelo estão o rápido aprendizado da equipe exposta a muitos casos semelhantes e a queda nos custos, à medida que os procedimentos se aprimoram", garante. "A relação de custos muda se um especialista atende apenas dois casos por dia, ou mais de oito", frisa.

Para o professor em administração, há ingrediente crítico nesse modelo: a escala. "Não podemos ter unidades de práticas específicas se não houver um fluxo de pacientes que justifique esta equipe", ressalta. Daí a sua sugestão de agrupar três ou quatro hospitais num sistema e distribuir entre eles algumas especialidades, de forma que os pacientes de um hospital fossem transferidos ao outro, quando a especialidade correspondente fosse atendida por outra unidade. "Não faz sentido um paciente ser recebido por uma equipe sem especialização específica, se a vinte minutos de distância há outro hospital com esse tipo de capacitação", diz.

 


 





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