Maioria dos hospitais do país tem menos de 150 leitos
05/11/2013 - por Por Beth Koike | De São Paulo

Além da carência de leitos, os hospitais brasileiros sofrem com o problema de porte. Dos 6.774 hospitais instalados no país, 88% contam com menos de 150 leitos. Segundo Marcelo Caldeira Pedroso, professor da FEA-USP, um hospital torna-se viável operacionalmente quando possui ao menos esse número de leitos e com isso consegue ter ganhos de escala suficiente para negociar com operadoras de planos de saúde, laboratórios, fornecedores de próteses, entre outros.

"Vale destacar que um hospital com menos de 150 leitos pode ser viável quando, por exemplo, é focado em determinada área médica ou é bem localizado", disse Pedroso, durante o seminário "A Profissionalização da Administração Hospitalar", organizado pelo Valor e pela Philips, ontem em São Paulo.

 

 

No Brasil há pouquíssimos estabelecimentos com mais de 1 mil leitos. Entre eles, estão o Hospital das Clínicas que tem 2,2 mil leitos, a Santa Casa de Porto Alegre com 1,2 mil, e a Beneficência Portuguesa servida por 1.165 leitos. Para efeito de comparação, nos Estados Unidos os 23 maiores hospitais têm mais 1 mil leitos.

Segundo o professor da FEA-USP, o modelo ideal é o hospital de grande porte especializado em uma área médica. Há alguns exemplos de casos bem-sucedidos. No Canadá, o Hospital Shouldice trata exclusivamente de problemas de hérnia e o custo para tratamento da doença é de US$ 2,3 mil, contra US$ 7 mil em hospitais gerais. Na Índia, o hospital Narayana, de cardiologia, realiza uma cirurgia cardíaca por US$ 2,4 mil, menos da metade do valor cobrado por outros estabelecimentos no país.

No Brasil, o Hospital das Clínicas segue um caminho semelhante. O HC conta com 12 institutos e hospitais especializados. "Temos áreas específicas de conhecimento médico e um único 'back office' para tecnologia, contabilidade, marketing, entre outros que atendem todas as áreas" explicou Marcos Fumeo Koyama, superintendente do Hospital das Clínicas, que até 2011 era do Unibanco e trouxe esse modelo do banco. Segundo Koyama, com essa estratégia o montante investido no hospital da Faculdade de Medicina da USP saltou de R$ 16 milhões para R$ 60 milhões por ano.

Diante dos custos elevados na saúde, a eficiência na gestão tornou-se a palavra chave nos hospitais, sejam eles privados, públicos ou filantrópicos. "A eficiência é o nome do jogo. O gestor de um hospital precisa ter uma visão ampla, conhecer um pouco de tudo: medicina, contabilidade e pessoas. Isso vale também para os hospitais filantrópicos porque não há mais grandes doadores na saúde como havia no passado. O último foi o Antonio Ermírio de Morais", disse Gonzalo Vecina Neto, superintendente do Hospital Sírio-Libanês e que também foi presidente da Anvisa e secretário da saúde de São Paulo.

Uma das métricas usadas no setor para medir a eficiência dos recursos é a taxa de ocupação dos leitos. Pedroso, da FEA, destaca que entre os hospitais de referência como Albert Einstein e Sírio Libanês o índice é de 83% e 89,5%, respectivamente. Já entre os hospitais do SUS, a taxa de ocupação não ultrapassa de 64%. Segundo especialistas do setor, um índice abaixo de 75% é considerado deficitário. "Quanto menor o porte do hospital, menor é a taxa de ocupação de leitos na área pública", disse Pedroso.

A tecnologia é vista como aliada nos processos de gestão hospitalar. "Em um hospital tão grande é fundamental ter uma plataforma tecnológica para ter eficiência. Além disso, temos 60 frentes de trabalho para cuidar de assuntos operacionais", explicou Denise Santos, superintendente-geral da Beneficência Portuguesa.

De olho nesse mercado, a Philips Healthcare vem investindo fortemente na integração de tecnologias. Atualmente, o software de gestão da companhia está instalado em 600 hospitais do país. "Temos os equipamentos de radiologia e conseguimos saber por meio dos softwares quantos exames determinado paciente realizou. Como as pessoas não devem ser expostas muitas vezes a esse tipo de tipo de procedimento, transformamos a informação em inteligência", disse Vitor Rocha, vice-presidente sênior da Philips Healthcare na América Latina.

Uma das novidades que a empresa está testando nos Estados Unidos é uso do Google Glass, óculos inteligente, para que médicos analisem exames.

Outros dois pontos debatidos durante o seminário foram a gestão de pessoas e a necessidade de integrar o hospital a outros segmento da saúde. "O setor ainda é muito focado em seus próprios problemas. Não trabalha de forma integrada", destaca Ana Maria Malik, professora adjunta e pesquisadora da FGV-Eaesp. Seu colega na FGV, o professor titular, Luiz Carlos Di Serio, destacou a importância da inovação.

 


 





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