Governança colabora para minimizar conflitos
30/10/2013 - por Por Rosangela Capozoli | Para o Valor, de São Paulo

Um terço das médias empresas brasileiras já implantou conselhos de administração. Entre as companhias familiares de médio porte, 62% têm acordo de acionistas estabelecido. O primeiro número vem de uma pesquisa da Fundação Dom Cabral. O segundo é uma estimativa internacional citada pela mesma fundação. Segundo o estudo, o acordo de acionistas é mais comum entre empresas familiares médias no Brasil - 62% delas - do que no resto de países em desenvolvimento, com 49%. O acordo é um instrumento jurídico que possibilita a convergência dos interesses dos acionistas de uma sociedade anônima aberta ou fechada.

Os números indicam que há uma parcela cada vez maior de empresas conscientes da importância da adoção de boas práticas de governança. "O acordo de acionista é uma ferramenta de governança corporativa tão importante quanto o próprio conselho consultivo", diz o professor Dalton Sardenberg, coordenador do Núcleo de Governança Corporativa da Fundação Dom Cabral.

Como grande parte das pequenas e médias empresas é familiar, as preocupações e desafios estão centrados ou relacionados ao controle da família, que acaba sendo a principal razão da implantação da governança corporativa. Na avaliação de Sardenberg, empresas com esse perfil buscam essa ferramenta em três situações principais: quando querem ampliar seu capital, quando vivem um momento de sucessão e quando é necessário agir para minimizar conflitos. "Empresas com conselho têm tendência a ter um nível de conflito inferior, porque nesse espaço há mais possibilidade de equilíbrio de interesses", diz Sardenberg. Diferentemente de empresas de capital aberto, onde o acordo de acionistas tem mais uma preocupação societária, no caso das pequenas e médias, "a principal preocupação é a sucessão e a minimização de conflitos", afirma.

Na sua avaliação "há um crescimento efetivo de médias empresas preocupadas com a governança corporativa". "Eu diria que 34% das médias empresas já implantaram conselhos de administração". A prática mais comum é o uso de conselheiros internos e menos frequente, a presença de conselheiros independentes. No Brasil, muitas empresas familiares estão vivendo uma passagem de geração, com fundadores atravessando um momento de sucessão. "É natural que nessa passagem haja uma percepção da necessidade de profissionalização da gestão", diz Sardenberg, da Fundação Dom Cabral.

Nesse sentido, ele chama a atenção para a necessidade de se adotar boas práticas essenciais antes de se falar em governança. Entre esses processos estão o planejamento estratégico e os sistemas de controle, essenciais para um processo de transparência.

A governança corporativa se acentuou no ano 2000 em função de escândalos de fraudes contábeis nos EUA. Hoje é vista como ferramenta para gerar maior produtividade, competividade e crescimento. Na sua essência, "governança é tornar a empresa transparente e saudável", define Joaquim Rubens Fontes Filho, especialista em governança corporativa da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas.

Muitas vezes a empresa resiste a adotar práticas de governança, alegando que não é sua intenção ir para o mercado de capitais, "mas quando o banco ou mesmo os fornecedores olham para a empresa, querem saber se ela é segura, o que pode acontecer com o dono, se houver uma briga de família", diz.

Fontes Filho lembra que no início a empresa depende muito do dono, mas ao se tornar "mais madura", precisará de uma gestão empresarial, terá de estabelecer a separação entre família e empresa.

Os benefícios da governança são evidentes: de um lado, oferece maior estabilidade e estímulo aos funcionários e dá garantias aos fornecedores. De outro, consegue dinheiro mais barato do banco. Ainda assim, muitas empresas resistem a mudanças.

Na mesma frente de adoção de boas práticas, o Sebrae tem um trabalho que já traçou o perfil comportamental de mais de 190 mil empreendedores. Trata-se do Empretec, seminários aplicados pelo órgão em todo o país com metodologia estabelecida pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad). "O que chama a atenção é que de dez características comportamentais avaliadas pela ONU, as duas com menor desenvolvimento estão justamente ligadas ao planejamento: estabelecer metas e planejar, pouco desenvolvidos no perfil médio dos empreendedores brasileiros", diz Luiz Barretto, presidente do Sebrae.


 




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