Existe hoje no Brasil uma forma de atender a 80% dos nossos problemas de saúde. Não se trata de alguma tecnologia de última geração, tampouco de métodos genéticos inovadores. A solução para esses problemas está na atenção básica de saúde, opinião corroborada pelo Banco Mundial, segundo pesquisa recente divulgada nesta Folha.
O mesmo estudo informa, entretanto, que há um desperdício na ordem de R$ 9,3 bilhões na atenção primária, instância representada pelo serviço de Médicos de Família e pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Adicionalmente, o nível de cobertura da rede básica é de apenas 63%. Aqui, o desenvolvimento profissional e a incorporação de tecnologias de informação e de comunicação terão um papel fundamental.
A atenção primária à saúde é vista por especialistas em todo o mundo como uma forma de otimizar os custos e o atendimento nos sistemas de saúde tanto público como privado. É também uma maneira de acolher o paciente, acompanhar sua trajetória e prestar um cuidado integral, convivendo mais e conhecendo não só o seu estado físico, mas também sua saúde mental, seus dilemas e dificuldades.
Fortalecer a saúde básica tem se provado um passo na direção certa para tentar solucionar os gargalos do atendimento médico-hospitalar no Brasil. Nesse campo, existe uma nítida oportunidade de aprendizado do sistema de saúde suplementar a partir de iniciativas conceitualmente muito mais avançadas e, como vimos, já implantadas no Sistema Único de Saúde (SUS).
Uma iniciativa bem-sucedida do SUS para fortalecer a atenção primária e desafogar a fila de espera por atendimento de especialistas é o projeto de telessaúde do Rio Grande do Sul. Essa iniciativa oferece assistência à distância aos médicos das UBS, auxiliando a resolução de casos e otimizando o atendimento. O programa, inicialmente concentrado apenas no Rio Grande do Sul, foi ampliado em 2018 para outros locais, como Manaus, Maceió, Belo Horizonte e no Distrito Federal.
Outra importante porta de entrada para a atenção básica do SUS é o Saúde da Família. Quando um médico acompanha o paciente ao longo da vida, ele tem mais informações para ajudar a tratar eventuais problemas de saúde e, mais importante, conteúdo para prevenir as doenças.
Hoje, no Brasil, cerca de 67% dos usuários da saúde suplementar contam com planos empresariais. Por isso, as empresas podem ter aqui um papel importante de ajudar o seu funcionário a priorizar a preservação da saúde, o médico de família e a realização de consultas periódicas. Evitar a repetição de exames e procedimentos desnecessários de alta complexidade dentro da saúde suplementar auxiliaria também a reduzir os custos dos planos, o que geraria um impacto positivo em todo o sistema.
É preciso conviver de perto com os pacientes para poder compartilhar as informações que permitam a adoção de medidas preventivas. Pois é na prevenção que os sistemas de saúde, tanto público como suplementar, encontrarão o seu maior trunfo.
Paulo Chapchap
Diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês e coordenador do programa de transplante de fígado da instituição; formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.