A maioria dos brasileiros prefere ter um negócio próprio a fazer carreira em uma empresa. Virar patrão só perde na lista de anseios para uma viagem pelo Brasil e a compra da casa própria. É o que mostra a pesquisa "GEM - Global Entrepreneurship Monitor: Empreendedorismo no Brasil 2012", que tem no país parceria técnica e financeira do Sebrae. Pelo levantamento, enquanto 43,5% dos entrevistados desejam ser patrões, 24,7% querem ser empregados.
Foram entrevistadas 10 mil pessoas entre 18 e 64 anos nas cinco regiões brasileiras, além de 87 especialistas. Dos 69 países pesquisados, o Brasil aparece em quarto lugar, com 36 milhões de empreendedores.
Em 2001, o país contava 2 milhões de micro e pequenas empresas, número que hoje é de pouco mais de 6 milhões. Esse universo é responsável por 20% do PIB, 60% dos 94 milhões de empregos e 99% do total de estabelecimentos formais existentes.
Apesar dos bons números, ainda pesam contra o Brasil a enorme burocracia, concorrência com produtos chineses e impostos. "Esse desejo está principalmente na cabeça dos mais jovens. De cada 100 pessoas (que querem abrir uma MPE), 43-44 estão na faixa etária mais jovem (25 a 34 anos). Talvez o fator mais relevante seja o fato de muitos brasileiros darem certo", aponta Bruno Caetano, diretor-superintendente do Sebrae-SP.
Com o cenário mais favorável, esses jovens empreendedores também enxergam mais oportunidades por aqui. "Em meados da década de 90, o principal motivo para abrir um negócio era a necessidade. Hoje, para cada pessoa que abre uma empresa por esse motivo, duas-três abrem porque enxergaram uma oportunidade."
O publicitário Ricardo Vitor, 32 anos, trabalhava com pós-produção de cinema quando se juntou ao pai, Carlos, para ajudar o avô, Nicolau Imbelloni, um tradicional modelista de camisas. Com dinheiro próprio, Carlos pagou as dívidas do pai, comprou a casa dele, no Morumbi (zona sul da capital), e refundou o negócio. Nascia, em 2009, a Oficina Um, empresa de roupas corporativas. "Nos primeiros seis meses, meu pai trouxe um irmão para cuidar da parte administrativa. Logo depois que eu assumi, meu avô morreu e foi um duro golpe pra mim", conta Ricardo.
Além da morte do avô, a parte difícil do empreendimento foi livrar-se dos "velhos vícios" de gerenciamento. Outra pedra no sapato foi achar mão de obra. "Costureira é uma profissão quase em extinção", brinca.
A Oficina Um, que conta com 15 funcionários registrados, saiu de um faturamento de R$ 202 mil em 2010 e espera fechar 2013 com R$ 750 mil. Porém, lucro mesmo só deve ganhar a partir de 2014.
A ex-vendedora Rosângela Golmia e o marido, o ex-corretor Alan, comprovam que abrir um negócio próprio pode incluir também passar por dor física. Quando montou há cerca de 3,5 anos a Só Chinelos, uma fabricante de sandálias de borracha personalizadas, ela, o marido e os filhos amarravam as tiras de cada uma usando as mãos. "Você não tem ideia do quanto foi difícil. Nossas mãos ficavam muito machucadas", lembra.
E, como parte das boas ideias nascem em meio a crises, o marido inventou uma máquina pneumática para colocar as tiras. Fim do sofrimento. Da garagem de casa, a família alugou um galpão no Carandiru, zona norte de São Paulo, onde hoje funciona a fábrica, que emprega 11 funcionários. Parte da produção também é feita por 10 presidiárias de um presídio feminino de São Paulo. Cada par sai por R$ 5,90 e a venda é feita em lotes de 50-100 pares, no mínimo.
No começo, a margem de lucro era de 200%, hoje caiu bastante, segundo ela, especialmente porque a concorrência chinesa é grande. Por isso, ela diz que inovação é a alma do negócio.
A Logueria, empresa de assessoria de imagem a micro e pequenas empresas, nasceu em 2012 com US$ 99, aplicados na criação do logo da marca. A psicóloga Mariana Gil e o marido, o analista de TI, Rafael Faro, criaram o negócio quando ele buscava uma empresa que pudesse criar um logo para a mãe dele, que fazia artesanatos. Achou uma na Austrália, cuja plataforma era interessante e inovadora. Inspirado por essa ideia, Rafael lançou mão de sua expertise e criou a sua própria plataforma.
"Lançamos as propostas de nossos clientes em nossa rede de criativos, que conta com 1.500 profissionais. A partir daí, os criativos desenvolvem o projeto visual, que pode incluir desde a criação do logo até cartões e propaganda nas redes sociais", diz Mariana. O cliente escolhe, então, o projeto que mais lhe agrada e paga a partir de R$ 270 (criação do logo).
Faro conta que o principal entrave foi adequar a Logueria à legislação brasileira. Mas houve muitos gols nesse jogo. O projeto foi escolhido para participar do Wayra Brasil, da Telefônica, que lhes dará acesso à base de clientes da empresa, ter um espaço físico e assessoria. "Também estamos em negociação para uma parceria com um grande site", comemora Faro, cujo negócio deve faturar R$ 150 mil brutos este ano.