Uma aceleradora de startups que oferece infraestrutura gratuita para as empresas mas nem um centavo de investimento. Criada em Lisboa, em 2012, a Fábrica de Startups adota um modelo que foge à definição tradicional de aceleradora, normalmente uma entidade que aporta capital financeiro - próprio ou de sua rede de investidores - em empresas nascentes em troca de uma possível participação societária futura no negócio.
"No modelo de aceleradora tradicional, o problema é que o fluxo de caixa depende do sucesso da startup", afirma Hector Gusmão, de 30 anos, presidente-executivo da Fábrica de Startups no Brasil. Para reaver o dinheiro investido e, se possível, lucrar, esse tipo de aceleradora precisa vender sua participação, o que geralmente ocorre no médio prazo. Gusmão lembra que, de acordo com um levantamento da Associação Nacional de Capital de Risco (NVCA, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, o período médio para uma aceleradora se desfazer de sua participação é de 6 anos e 8 meses.
Na Fábrica de Startups, o processo de aceleração, para que as empresas possam começar a andar com as próprias pernas, dura três meses, renováveis por mais três. Permanecem mais tempo aquelas que tiverem o melhor desempenho. "Meu cliente é a corporação, meu produto é a startup", resume Gusmão.
No modelo de negócios desenvolvido pelo português Antonio Lucena, fundador da aceleradora, empresas-âncoras financiam toda a infraestrutura disponível na Fábrica. Em troca, usufruem de inovações desenvolvidas pelas startups para solucionar problemas específicos.
Foram as empresas-âncoras que custearam parte do investimento de R$ 5 milhões feito na sede da Fábrica de Startups no país, inaugurada em 8 de novembro, no Rio de Janeiro. A aceleradora ocupa um andar inteiro - 3.700 metros quadrados - do Aqwa Corporate, torre corporativa de 22 andares localizada na região do Porto Maravilha.
Segundo Gusmão, a Fábrica assinou até o momento contratos com cinco empresas-âncoras. A lista inclui a administradora de shopping centers Aliansce, a gestora de fundos imobiliários Tishman Speyer, a operadora de telefonia Embratel, a prestadora de serviços para a indústria de óleo e gás Sistac, e a empresa de arquitetura e construção Athié Wohnrath.
A aceleradora negocia ainda com quatro outras companhias, dos setores de óleo e gás, distribuição de combustíveis, educação e tecnologia, informa o CEO da Fábrica no Brasil.
A sede recém-inaugurada tem capacidade para acelerar até 80 startups ao mesmo tempo. Atualmente, há 15 instaladas no local, que só deverá estar funcionando a plena capacidade em 2019. A expectativa é de que sejam aceleradas 130 startups por ano, com um faturamento conjunto de R$ 50 milhões. O objetivo é sair do período de aceleração com o negócio bem estruturado e um contrato assinado com a empresa-âncora.
Os critérios para seleção das startups não diferem muito daqueles adotados por aceleradoras tradicionais. A pequena empresa deve ter um modelo de negócios inovador e escalável, uma equipe capacitada para tocar o projeto e perspectivas de expansão acelerada. O modelo de negócios da Fábrica abrange ainda as chamadas startups residentes, negócios considerados promissores, mas sem ligação com uma empresa-âncora. Podem permanecer dentro da aceleradora por até um ano, sendo avaliadas trimestralmente.
Em Portugal, a Fábrica já contribuiu para o desenvolvimento de 500 startups e 2 mil empreendedores. O caso de sucesso mais conhecido da aceleradora é o Cabify, aplicativo espanhol de transporte concorrente do Uber.