A população brasileira está envelhecendo. Dados do IBGE mostram que, até 2060, cerca de 30% da população terá mais de 60 anos – mais do que o dobro da realidade atual (13%). A expectativa de vida deve saltar de 76,2 para 81 anos. Essa mudança demográfica representa um desafio e tanto para o setor de saúde. Idosos podem sofrer de doenças crônicas e múltiplas, que exigem não só acompanhamento como internações frequentes e custosas.
“Os hospitais brasileiros precisam se preparar melhor para atender o idoso”, diz o geriatra Daniel Apolinário, coordenador médico do programa Idoso Bem Cuidado do Hospital do Coração – HCor, de São Paulo.
Para ajudar os hospitais a lidar melhor com os pacientes mais velhos, uma equipe multidisciplinar, formada por profissionais de hospitais ligados à Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), criou o Manual de Gerenciamento e Assistência ao Idoso, lançado no 6º Conahp (Congresso Nacional de Hospitais Privados), realizado de 7 a 9 de novembro em São Paulo.
Dividido em dez capítulos, o manual reúne as melhores práticas para o acolhimento e o tratamento do idoso. Primeira lição: idosos requerem cuidados específicos e complexos. Precisam contar com equipes formadas por especialistas de várias áreas, treinadas para esse tipo de atendimento.
Fragilidade, efeito adverso de medicamentos, perda rápida de peso, quedas e delírio, problemas recorrentes nas pessoas mais velhas quando são internadas, complicam ainda mais os cuidados hospitalares. “Muitas vezes o idoso é internado por um problema específico, como uma pneumonia, e desenvolve uma série de complicações que comprometem sua qualidade de vida. Os hospitais precisam saber lidar com isso”, diz Apolinário, um dos autores do manual.
Dados do Observatório Anahp, publicação anual com dados sobre o setor, mostram que, em 2017, 29% dos pacientes internados em hospitais associados à Anahp tinham mais de 60 anos. Os pacientes com idades entre 60 e 74 anos permaneceram internados, em média, 5,7 dias. Já os com mais de 75 anos ficaram no hospital, em média, 9,3 dias.
Os hospitais e os profissionais da área de saúde vão ter de se adaptar a essa nova realidade brasileira e o manual apresenta exemplos simples, mas que transformam muito a forma de tratamento para o idoso, afirma Martha Oliveira, diretora executiva da Anahp.
Ela cita, por exemplo, um dos trechos do guia que sugere que familiares e cuidadores sejam orientados a realizar atividades de estimulação cognitiva ao menos três vezes ao dia. “Como exemplo, podemos citar: ler e discutir notícias, fazer palavras cruzadas, jogar cartas ou jogos de tabuleiro, ouvir música, conversar sobre momentos agradáveis do passado, rever álbuns de fotografia”, diz o manual.
Os hospitais vão ter de mudar algumas rotinas e capacitar médicos, enfermeiros, cuidadores para todos os níveis de atenção. O idoso precisa de um olhar cada vez mais próximo e integral”, afirma a diretora.
Além de dicas e boas práticas para um melhor atendimento, o manual mostra como fazer uma avaliação global do idoso, discute síndromes geriátricas, medicamentos, e também os processos de identificação de pacientes para a “desospitalização”, bem como a importância da família e até o papel do hospital como facilitador nos processos relacionados ao fim da vida.