Novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que o combate recente à malária abarca duas tendências que merecem a atenção de governos e especialistas: o aumento no registro de casos e a redução no número de óbitos. A estimativa é de que, em 2017, houve 219 milhões de ocorrências da doença, contra 217 milhões em 2016 e 214 milhões em 2015. Com relação às mortes, os números estimados são, respectivamente, 435 mil, 451 mil e 469 mil. O Brasil aparece no documento como um dos impulsionadores do avanço da enfermidade nas Américas. Em 2017, foram 217.928 casos, um aumento de 84% considerando os números de 2016.
Para a agência das Nações Unidas, esse cenário representa um momento de estagnação no enfrentamento à doença. “Ninguém deveria morrer de malária. Mas o mundo enfrenta uma nova realidade: como o progresso estagna, corremos o risco de desperdiçar anos de labuta, investimento e sucesso em reduzir o número de pessoas que sofrem da doença. Nós reconhecemos que, agora, temos algo diferente”, justifica Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
De 2010 a 2015, a quantidade de pessoas que contraíram malária caiu ano a ano. Com a alta dos registros, acredita-se que há a possibilidade de não serem cumpridos objetivos-chave da Estratégia Técnica Global da OMS para a Malária (ETM): reduzir as mortes e os casos da doença em ao menos 40% até 2020. Com o relatório, o órgão das Nações Unidas lançou um novo plano de enfrentamento, baseado em ações mais pontuais. “Essa resposta dará início a novos e agressivos esforços de controle da malária nos países mais afetados e será crucial para retomar o caminho de luta contra um dos maiores desafios de saúde que enfrentamos”, disse Kesete Admasu, da Aliança para Fazer Retroceder a Malária (RBM), uma plataforma global para ação coordenada contra a doença.
Em 2017, a maioria dos casos de malária ocorreu na região africana — 200 milhões (92%) —, seguida do sudeste da Ásia (5%) e da região do Mediterrâneo Oriental (2%). Cinco países da África e a Índia correspondem a quase 80% do ônus global da doença no ano passado. São eles: Nigéria (25%), República Democrática do Congo (11%), Moçambique (5%), Índia (4%) e Uganda (4%). As 10 maiores nações africanas registraram aumentos dos casos da doença em 2017 em comparação com o ano anterior, sendo que, em Nigéria, Madagascar e República Democrática do Congo, os avanços foram superiores a meio milhão de ocorrências.
Américas
No caso das Américas, o avanço dos registros se deu “em grande parte” devido ao aumento da transmissão da malária no Brasil, na Nicarágua e na Venezuela. De 2015 a 2016, o Brasil registrou uma leve queda nas ocorrências da doença de 158.963 para 133.591. No período seguinte, o aumento foi exponencial: 84%, considerando os 217.928 registros de 2017. O Ministério da Saúde foi procurado, mas não se posicionou sobre o relatório.
A região das Américas também foi a única a não registrar reduções na mortalidade em 2017, em comparação a dados de 2010. As maiores quedas ocorreram no Sudeste Asiático (54%), na África (40%) e no Mediterrâneo Oriental (10%). As crianças com menos de 5 anos fazem parte do grupo mais vulnerável, representam 61% (266.000) dos óbitos registrados no ano passado.
O relatório da OMS também destaca pontos positivos em relação ao combate à doença: neste ano, a organização certificou o Paraguai como livre de malária — primeiro país a receber o status nos últimos 45 anos. Outros três — Argélia, Argentina e Uzbequistão — aguardam retorno quanto à mesma certificação. Em 2016, a agência identificou 21 países com potencial para eliminar a malária até o ano 2020. Ela trabalha com os governos desses países, conhecidos como países E-2020, para apoiar suas metas de acelerar a eliminação.
“O mundo enfrenta uma nova realidade: como o progresso estagna, corremos o risco de desperdiçar anos de labuta, investimento e sucesso em reduzir o número de pessoas que sofrem da doença”, afirma Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde.