Trajetória global
Por Jacilio Saraiva
01/10/2013

O movimento de internacionalização das pequenas e médias empresas ainda é considerado tímido, mas começa a ganhar consistência na esteira da globalização. Hoje, menos de 10% das companhias de porte reduzido realizam investimentos diretos no exterior. Porém, esse grupo ainda limitado de marcas nacionais consegue sucesso ao estruturar projetos internacionais e vencer fronteiras para chegar a novos mercados mesmo com as oscilações do ambiente econômico mundial e a dança do câmbio.

A maioria dos empreendedores nacionais começa sua trajetória internacional exportando produtos para, logo depois, abrir uma operação física no país-alvo. Há outras alternativas em curso, como a abertura de franquias no exterior e contratos de parceria com grandes multinacionais.

O esforço de vendas ainda tem pouco peso na balança comercial. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que apenas cerca de 2% das exportações brasileiras são feitas por companhias de menor porte. Mas, além das vendas diretas, outras portas de embarque são usadas pelos empreendedores: as franquias e a oferta de serviços e produtos para grandes empresas com negócios internacionais, principalmente nas áreas de engenharia e construção civil.

"Esse tipo de parceria produtiva é mais seguro para os pequenos negócios se inserirem no mercado externo, por conta do compartilhamento de custos e riscos com atores de maior porte", afirma Luiz Barretto, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Com a economia americana dando sinais de recuperação, Barretto está mais otimista com os resultados em dólar dos pequenos negócios. "Mas é preciso muito planejamento para a fixação de filiais no exterior", afirma. Além de se tratar de uma operação que mobiliza aportes muitas vezes incompatíveis com as condições das empresas, fincar bandeiras em outras praças também é um investimento de risco. "Estamos apostando em programas de internacionalização por meio de parcerias, principalmente com grandes multinacionais."

Recentemente, um programa de encadeamento produtivo do Sebrae, desenvolvido com a Odebrecht, capacitou 15 micro e pequenas empresas para a confecção de calçados de segurança para canteiros de obras da empreiteira fora do país. Especialistas afirmam que esses acordos de venda em parceria podem ajudar os empresários a pavimentar caminhos futuros.

Ao lado das entregas casadas, Barretto diz que há crescimento nas operações em que empresas conseguem uma diferenciação nos produtos que fabricam. "Seguindo essa estratégia, cresceram os negócios de exportadoras de peças automotivas, móveis e, apesar da forte concorrência asiática, de calçados."

Segundo Sherban Leonardo Cretoiu, professor-coordenador do núcleo de negócios internacionais da Fundação Dom Cabral (FDC), as pequenas e médias companhias também estão se expandindo no exterior por meio de franquias, principalmente em setores como alimentação, vestuário e calçados. "Esse modelo de negócios demanda menos capital de investimento", explica.

Na avaliação do pesquisador, as viradas do dólar não chegam a arrefecer o movimento de expansão. "As questões cambiais provocam ajustes nas operações, mas não uma reversão no plano de se estabelecer ou não no exterior."

Em Santa Catarina, a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate) quer ampliar a competitividade do setor por meio de ações com foco no mercado externo. Um programa organiza uma missão técnica aos EUA, até o início de outubro. Mais de dez empresários devem visitar aceleradoras de negócios e fundos de investimentos no Vale do Silício e Miami, a fim de costurar parcerias.

De acordo com Guilherme Bernard, presidente da Acate, os empreendimentos brasileiros deveriam pensar, desde a fundação, em contratos internacionais. Segundo ele, o volume de oportunidades no Brasil acaba adiando metas de globalização. "A formação de uma cultura de internacionalização pode facilitar a vida das empresas quando chegar a hora de buscar números globais", diz.

Segundo Rafael Lourenço, diretor-superintendente da Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (Amcham-RJ), faltam no Brasil mais programas de incentivo governamental e uma cultura de internacionalização entre as pequenas empresas. "Os EUA sempre aparecem como destino preferencial dos negócios internacionalizados porque é um mercado desburocratizado. É fácil fazer negócio lá, uma vez que os marcos regulatórios são claros e não estão sujeitos a mudanças constantes", analisa. "Além do potencial do nicho de bens de consumo, a tecnologia é catalisadora de investimentos, atraindo empresários de várias nações."

Para José Roberto de Araújo Cunha Jr, professor do Programa de Capacitação da Empresa em Desenvolvimento (ProCED), um núcleo de excelência da média e pequena empresa da Fundação Instituto de Administração (FIA), menos de 10% das companhias realizam investimentos diretos no exterior, com operação física implantada. "Além dos EUA, outro principal mercado para a internacionalização tem sido a América do Sul", diz. "O setor de serviços tem uma maior chance de se globalizar, via países em desenvolvimento."



 





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