Novos negócios na área de saúde têm ganhado força e chamado a atenção de grandes empresas e investidores, que criam incubadoras para ajudar quem quer empreender na área.
De olho no mercado de 263 startups que existem no setor, segundo levantamento da aceleradora Liga Ventures, o Hospital Albert Einstein inaugurou há um ano sua incubadora de startups, a eretz.bio, localizada na Vila Mariana, zona sul de São Paulo.
Hoje, 29 startups fazem parte da incubadora: 13 no espaço físico e 9 a distância. A instituição já investiu em 14 delas, com aportes entre R$ 200 mil e R$ 500 mil.
“A gente acredita no conceito de inovação aberta. Por isso, trabalhamos com startups há quatro anos”, afirma Cláudio Terra, diretor-executivo de inovação e gestão do conhecimento do hospital.
As startups incubadas (tanto presencial quanto virtualmente) têm, além do espaço físico, acesso a laboratórios para pesquisas e contam com um programa de mentoria formado por profissionais da saúde e de outras áreas, como gestão e marketing.
O Sabin Medicina Diagnóstica também está de olho nas startups. Em parceria com o UniCEUB (Centro Universitário de Brasília) e a Casulo, incubadora da instituição de ensino, a empresa desenvolveu no ano passado o programa de aceleração de startups Inova Sabin Healthcare.
Das mais de 50 startups inscritas, 8 foram selecionadas, diz Lídia Abdalla, presidente-executiva do Sabin.
“Não basta ter uma ideia. Ao longo de quase um ano, orientamos os empreendedores porque percebemos que muitos têm boa ideia, mas não montam um planejamento estratégico para direcionar o negócio”, afirma Lídia.
Também no ano passado, em novembro, a Eurofarma lançou o programa de aceleração de startups Synapsis, em parceria com a Endeavor, instituto de apoio ao empreendedorismo.
Das mais de 400 empresas inscritas no programa, 12 foram aceleradas durante seis meses. Nove delas fizeram projetos-piloto com a companhia e seis já têm contrato assinado com a farmacêutica, afirma Marco Billi, gerente de novos negócios da Eurofarma.
O próximo passo na atuação com startups é criar um fundo de investimento, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2019.
Quem também tem se aproximado das empresas novatas do setor é a companhia de medicina diagnóstica Dasa. Neste mês, inaugurou um andar no espaço de empreendedorismo Cubo Itaú. O ambiente dedicado a healthtechs é capaz de abrigar até 30 startups —hoje, há dez, afirma Emerson Gasparetto, vice-presidente da área médica da Dasa.
Além dos programas desenvolvidos pelas grandes empresas, há aceleradoras especializadas em atuar com startups na área da saúde. Inspirada na americana Rock Health, a Grow+ foi criada em 2015 pelo médico Cristiano Englert e pelo administrador Paulo Beck. O objetivo é impulsionar startups que já têm produtos validados, mas que não conseguem ganhar escala.
O primeiro ciclo do programa Health+ contou com 239 startups selecionadas na etapa inicial. Do total, quatro receberam investimento de até R$ 300 mil em troca de até 15% do controle acionário.
Na segunda edição do programa de aceleração, que começa em dezembro, o objetivo é investir R$ 500 mil em uma ou duas startups.
O próximo passo é ter um fundo, atualmente em fase de captação, com patrimônio de R$ 100 milhões. “Por meio dele, vamos investir até R$ 5 milhões por startup. A ideia é buscar scale-ups [startups mais maduras]”, diz.
Esses programas facilitam a vida de quem quer empreender na saúde —não é tarefa fácil. O principal desafio é a forte regulamentação do setor, diz Amure Pinho, presidente da ABStartups (Associação Brasileira de Startups). “Não dá para criar um produto sem seguir determinados protocolos. É preciso ter autorização dos órgãos reguladores e fiscalizadores.”
Para quem pretende tirar uma ideia do papel, Pinho recomenda estudar e conhecer profundamente o problema, — aquilo que deseja solucionar com a criação de um produto ou serviço. Se o empreendedor não for do setor, a indicação é trazer para a equipe um profissional da saúde.
“O empreendedor precisa ter contato com médicos, hospitais etc.”, afirma Englert.
Outra etapa importante é a validação científica, diz Cláudio Terra. Por mais que a solução seja inovadora, resolverá algum problema?, pergunta ela, lembrando que é preciso provar que o produto ou serviço melhora a qualidade de vida ou reduz custos.
“Isso tem a ver com a pesquisa clínica. Muitas startups não têm noção dessa fase do negócio”, afirma Cláudia.