A eficácia e o equilíbrio da área da saúde no país dependem de bons índices econômicos. Uma real mudança nos dois setores, entretanto, só acontecerá com uma conversa franca entre as duas partes. A avaliação foi feita pelo diretor-presidente do Insper, Marcos Lisboa, durante o painel “Economia e saúde no cenário brasileiro”. Lisboa falou sobre vários temas, como crise fiscal, envelhecimento da população, desperdício, falta de investimentos em infraestrutura, aposentadorias precoces e subsídios ao setor privado.
– Sem diálogo não tem caminho possível. Precisamos disto para fazer a transição de uma situação de crise para um cenário positivo – afirmou.
Ele fez um amplo panorama dos desafios do Brasil nos próximos anos, ressaltando o grave problema fiscal, a necessidade urgente da reforma previdenciária, além da acentuada crise dos governos federal, estaduais e municipais.
– Falta dinheiro para infraestrutura e saneamento. Isso é resultado de dez anos de desonerações, benefícios e subsídios para o setor privado. Protegemos alguns setores em detrimento de outros e criamos distorções tributárias. A crise fiscal significa menos hospitais, menos dinheiro para a educação, menos investimento para o país – destacou.
Para Lisboa, na área da saúde suplementar o maior problema é a falta de comunicação:
– O judiciário toma decisões que não são viáveis e as regulamentações são feitas sem debates. E, mais do que ninguém, a área suplementar de saúde brasileira assiste ao caos que se tornou a regulação no país. Esse é um dos motivos pelos quais acabaram os planos individuais no Brasil.
A inversão da pirâmide demográfica no país, em que a população está ficando cada vez mais velha, segundo as estatísticas, é uma preocupação que deve ser enfrentada pelos governos. Cenário que impacta diretamente o segmento de saúde suplementar.
– O Brasil passou por um processo de envelhecimento muito rápido, assim como Coréia, China e Colômbia. A população brasileira cresce 0,7% ao ano e a população idosa cresce 3,5% ao ano. Nós ficamos velhos antes de ficarmos ricos. Perdemos a oportunidade de quando o país estava crescendo, com muita gente chegando ao mercado de trabalho, de investir em infraestrutura, educação e saúde. Mas o Brasil tem uma agenda possível de crescimento-acredita.
Durante o debate realizado após a palestra, todos os participantes concordaram que existem muitos entraves no setor, que a fragmentação é um grave problema e que o paciente deve ser o centro das discussões.
Para Manoel Peres, diretor-presidente da Bradesco Saúde e Mediservice, o empoderamento individual do médico, sem pensar no coletivo, não colabora para a solução do problema do paciente. Romeu Cortes Domingues, presidente do Conselho de Administração da DASA, destacou a necessidade de se combater práticas inadequadas.
Para Eduardo Amaro, presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), a judicialização, o aumento da frequência de uso do plano de saúde e a falta da atenção primária criam dificuldades para toda a cadeia da saúde suplementar. Já Leandro Fonseca, diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), afirma que há necessidade de um olhar sobre o todo:
– O pagamento por procedimento reforça a fragmentação, traz desalinhamento de interesses entre operadoras, prestadores e o beneficiário. O setor está em risco devido à escalada de preços.
“O pagamento por procedimento reforça a fragmentação.” – Leandro Fonseca, Diretor-Presidente da ANS