Na última semana Gustavo Campana, diretor médico de análises clínicas da DASA, nos recebeu em um almoço para anunciar a entrada do laboratório em uma rede internacional e discutir as implicações dessa movimentação.
A rede em questão é a Global Diagnostic Network (GDN), rede internacional de laboratórios que tem como objetivo o compartilhamento de tecnologias e boas práticas entre os membros, visando a evolução do setor de medicina diagnóstica. O idealizador do projeto é a americana Quest, maior laboratório em análises clínicas do mundo, que viu na criação dessa comunidade a oportunidade de trocar experiências e otimizar processos, inicialmente assistenciais, de forma global. Entre os participantes, estão Laboratórios Médicos Al Borg, Laboratórios GC [Green Cross], KingMed Diagnostics, Primary Healthcare, Synlab, e a DASA, parceiro exclusivo no Brasil, e por enquanto, na América Latina.
“A primeira coisa que nos deixou muito tranquilos em participar da GDN foi um alinhamento de valor muito grande com a Quest. Considerando esse turn around que tem acontecido na DASA, a Quest passou por isso alguns anos antes, então é uma história muito semelhante. A Quest era uma empresa muito grande nos Estados Unidos e vista somente como volume. De repente, ela se tornou um laboratório que faz uma gestão magnífica e que é hoje uma empresa de altíssimo reconhecimento de qualidade e inovação.” disse Campana.
O processo de entrada foi longo, e passou por uma série de reuniões e imersões de processos e tecnologias. Grande parte do corpo clínico da DASA se incubou na americana para garantir o total entendimento da rede e a visão deles para o futuro da estrutura. As lideranças dos laboratórios participantes definiram um plano estratégico com as áreas prioritárias de diagnóstico pelos próximos 5 anos, com premissas que envolveram as diferentes culturas e dinâmicas de mercado.
Segundo ele, a DASA espera retorno nos próximos 12 meses, mas já existem pequenos frutos a serem colhidos quando se trata de benefícios aos pacientes. O portfólio do laboratório brasileiro, com o uso do potencial da rede, aumentou em 60 exames, com previsão da adição de mais 120 em um momento próximo. “O ganho imediato que temos com a ampliação do portfólio é ótimo para os pacientes, que agora têm acesso a todas as tecnologias mais modernas no mundo”. A rede também será utilizada para melhorar o acesso a especialistas no mundo e realização de segunda opinião. Os benefícios englobam aumento de qualidade e estabilidade tanto em termos de diagnóstico quanto em termos operacionais.
As maiores tendências da área estão relacionadas ao envelhecimento populacional, em especial com as doenças crônicas, oncologia e neurologia. São pontos que crescem muito, e que tem uma certa pressão do benefício assistencial, mas que não evoluíram necessariamente o que deveriam em relação à diagnóstico.
A primeira medida foi ampliar o portfólio e enviar exames para a Quest. A segunda, que está em andamento, é a transferência de tecnologia de novas metodologias, das quais as principais estão relacionadas a genética e sequenciamento de DNA, espectrometria de massa e microfluido. As duas primeiras já com inícios previstos. Para Campana, o maior beneficio para a rede com a entrada da DASA é o porte do laboratório em análises clínicas, patologia e exames de imagem. “A qualidade do dado na DASA é algo único no mundo. Nós temos acesso a tecnologias como inteligência artificial e, com todos esses investimentos que temos feito, imaginem nós juntarmos isso à analise de dados genéticos e oncológicos do mercado americano? O que queremos é pegar pacientes, por exemplo com Alzheimer, que fazemos exame de ressonância magnética, e submete-los a exames de genética, ou outros tipos de exames, para tentar entender isso de forma conjunta”, explicou o Diretor.
Ele ainda completa dizendo que um dos pontos que a empresa brasileira pode mais agregar é na questão de doenças infecciosas. Cada ano temos uma epidemia diferente, Zika, Chikungunya, Febre Amarela, e o desenvolvimento de exames é marcado pela demora devido às várias preocupações de segurança, como efeitos cruzados. Com a GDN, espera-se que a resposta e validação sejam muito mais rápidas pela colaboração entre os diferentes laboratórios participantes no mundo. A rede cobre quase 70% da população mundial, a definição de um fluxo responsivo e integrado, com a velocidade necessária, terá um impacto não somente para o indivíduo, mas também para a saúde pública de forma geral.
Para patologia clínica, há a intenção de criar um banco de dados de imagens digitais, um projeto inovador globalmente. Os participantes estão em momentos diferentes de digitalização, mas há o consenso de que no futuro o médico estará atrás de um painel de controle suportado por ferramentas de inteligência, ao invés de, no microscópio, além da automatização de atividades de menor valor. Com a iniciativa, será possível entender o perfil histológico do tumor, e se existem diferenças devido à geografia. No caso de tumores raros, haverá massa crítica, fundamental para aplicação de tecnologias como AI. Campana conta que, para se ter ideia dessa massa, a Dasa realizou 240 milhões de exames de análises clínicas no ano passado e processou 2 milhões de exames de anatomia patológica. Com a rede, a quantidade de dados disponíveis deve ser ainda maior.
Em genética, os grandes pilares são a avaliação de risco, ou seja, realizar o sequenciamento e predizer o risco de um paciente desenvolver ou não determinada doença, e a medicina personalizada, na definição da melhor terapia baseada no perfil tumoral genético individual.
“Pela primeira vez temos volume e experiência suficientes para definir em conjunto, dentro da GDN, quais são as métricas de qualidade. O que é qualidade no setor hoje? Usamos publicações científicas que tem um N pequeno, e que muitas vezes nem foram feitas no Brasil. Agora, junto aos maiores laboratórios do mundo, nós podemos definir padrão de qualidade muito bem.”, diz Campana.
Alinhado com as tendências de mercado, ele finaliza contando que a DASA não vê o ROI financeiro como fator determinante em suas estratégias. “A nossa visão para tudo que estamos fazendo não é a curto prazo. Possivelmente, se fôssemos considerar o retorno financeiro de curto prazo precisamente, não faríamos quase nenhuma destas ações. É muito mais uma questão de responsabilidade, de atender o paciente e o médico de forma integral”. E completa, “obviamente como qualquer empresa buscamos retorno, mas o ROI para inovação não é um fator decisivo”. Campana explica que, apesar de não conseguirem ainda medir qual será o impacto das medidas na assistência, qualidade e volume são métricas essenciais.