Há semelhanças entre chimpanzés, bonobos e CEOs
Por Rafael Souto
12/09/2013

Os seres humanos são um pouco como um mosaico dos genomas de bonobos e chimpanzés', disse Kay Prufer, geneticista do Instituto Max Planck. Em artigo publicado no ano passado, ele revelou que bonobos e humanos compartilham 98,7% do mesmo mapa genético, o mesmo percentual compartilhado pelos humanos com os chimpanzés. Bonobos, chimpanzés e seres humanos compartilham um único ancestral comum de cerca de seis milhões de anos atrás.

Os bonobos são mais tolerantes e sociais do que os chimpanzés. Além disso, eles são governados por mulheres alfa, e os chimpanzés, por machos. Bonobos não fazem guerra. Chimpanzés matam na luta. Bonobos compartilham comida com estranhos e compartilham o poder. Chimpanzés tendem a usar ferramentas de um modo melhor. Na sociedade humana, ambas as características estão presentes.

Bonobos, chimpanzés e humanos compartilham, além da herança genética, o "fazer política". E o jogo político será cada vez mais determinante para as carreiras.

Do mesmo modo que os símios se organizam politicamente pelo poder para liderar, de forma mais violenta ou mais cordial, os humanos também fazem associações e operam em rede. E isso ocorre desde o início da espécie.

O fenômeno novo está no aumento da importância das habilidades políticas em razão de uma série de mudanças no mundo do trabalho como os organogramas flexíveis, pautados em estruturas matriciais, o fortalecimento dos conselhos de administração e o teletrabalho. Temos organizações movidas por zonas de influência. Tudo isso gera um número maior de interlocutores com os quais o profissional precisa falar.

Nesse contexto, quem está num ambiente de trabalho, seja ele qual for, precisa "ler" muito bem o sistema político e desenvolver estratégias para atuar nele. Somente assim poderá se manter e crescer na carreira. Um primeiro passo nesse sentido é trabalhar a marca pessoal. Sabemos que boa parte de nossa imagem é formada pela visão que os outros têm sobre nós. E isso impacta diretamente em promoções e demissões. Desse modo, é fundamental cuidar dessa imagem, especialmente perante os influenciadores da empresa.

Despender tempo e energia com as conexões políticas deve estar na ordem do dia. De nada adianta desenvolver bons projetos se o profissional não souber mapear quais são as zonas de influência e "quem interessa" na companhia. Afinal, entregar resultado é o ponto de chegada. Mas a aliança política cria os melhores caminhos.

No caso de um CEO, teoricamente a maior autoridade na organização e responsável pela execução de suas estratégias, a habilidade de leitura das relações políticas é mais crítica ainda. Relações não descritas nos cargos, que estão subentendidas nos diálogos e na retenção e distribuição das informações nos momentos informais precisam ser vistas. Sua capacidade de construir conexões, baseando-se nas afinidades com seu grupo de contato próximo, forma uma rede de proteção contra as pressões sofridas neste cargo. Fazer política na empresa não é pejorativo. É questão de sobrevivência da espécie executiva.

Na minha experiência em aconselhamento de carreira, ainda me deparo com inúmeros profissionais, mesmo em posições de liderança, focados na premissa técnica de seu trabalho, deslumbrados por indicadores de desempenho. Seu espaço está, a cada dia, mais restrito no mundo dos negócios. A seleção natural os deixará para trás. Estes são aturdidos pelo sentimento de "carregadores de piano", ressentindo-se de falta de reconhecimento. No entanto, não leram o ambiente político, não realizaram as articulações para colocar em prática os projetos que mais cativam os formadores de opinião.

Esconder-se dentro do cargo, da sala, no isolamento com os pares diminui a capacidade de influência política. Cada um no seu galho é coisa do passado. Frequentar todas as rodas, ouvir o que se passa nos corredores é tarefa dos chefes sim. Política, e não politicagem, é o que se busca. Laços sociais genuínos, negociação, persuasão. Ler e atuar nas relações de poder é fazer política. O futuro está no "enxadrista organizacional".

Rafael Souto é sócio-fundador e CEO da Produtive Carreiras e Conexões com o Mercado



 





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