Trabalho há cerca de três anos em uma empresa de médio porte e recentemente fui transferida de área, junto com outros funcionários, para atuar em um novo projeto. As coisas, no entanto, não estão indo conforme o esperado. O líder desse projeto, contratado no mercado especialmente para isso, é bastante arrogante. Além de ter pouca familiaridade com a cultura da organização, ele parece não se importar com o 'background' de cada um e impõe sua visão independentemente do que é discutido. Um dos sócios da companhia percebeu a minha insatisfação e, após relatar o caso, disse a ele que eu estava pensando em deixar a empresa. Ele pediu para que eu não tomasse essa decisão, pois gosta do meu trabalho e ia tentar me colocar em outra área. Isso já faz mais de um mês e ainda não fui procurada por ninguém. Posso começar a procurar outro emprego? Ou devo continuar esperando e pressionar o sócio para que me mude de lugar?
Analista, 33 anos
Resposta:
Realmente é muito desagradável atuar em um projeto em que se está sendo liderado por uma pessoa com quem não conseguimos estabelecer uma relação agradável, de confiança mútua e respeito. Sobretudo quando esse líder é alguém que veio de fora, quase um estranho. Normalmente lidamos mal com pessoas novas que entram em nosso grupo, já antigo e estruturado.
A relação entre vocês é ainda muito recente. O fato de ter começado mal não significa que vá continuar dessa forma ou vá piorar. Nada justifica ainda sua intenção tão prematura de procurar outro emprego e desistir do atual. Nunca vale a pena desistir antes de se tentar buscar novos caminhos. Sempre ficará um gosto amargo de fracasso para quem desiste sem lutar.
Reclamar pode não ser a melhor forma de mudar as coisas neste momento. Antes de falar com um dos sócios da empresa, você poderia ter procurado o próprio líder do projeto para tentar encontrar, por meio do diálogo, uma forma adequada de convivência profissional. É importante buscar uma convivência produtiva e profissional.
Por outro lado, esse novo gestor não está agindo de forma adequada e não está exercendo uma liderança positiva. Ele também deveria procurar cada membro de sua equipe para estabelecer um acordo, um contrato informal, de respeito mútuo e de busca dos mesmos objetivos compartilhados.
Essa aparente arrogância talvez seja apenas uma atitude de defesa por não conseguir se incluir no grupo. Ele precisa fazer as coisas funcionarem e, não encontrando alternativa, pode ter adotado essa postura de forma inconsciente. Arrogância é sempre é sinal de fragilidade, mecanismo de defesa e proteção. Normalmente as pessoas que querem impor suas ideias e sua visão independentemente do que é discutido estão inseguros com sua liderança e acreditam que esse seja o único caminho para mostrar que precisa ser obedecido.
Liderança não é isso. Líder eficaz é aquele que consegue influenciar e convencer a equipe. Ele precisa ser resiliente e se adaptar utilizando modelos e estilos diferentes de acordo com cada situação, tarefa, momento e pessoa. A base da liderança é a compreensão da sua missão e da missão da empresa. É saber defini-la e comunicá-la de forma clara, estabelecendo metas, prioridades e padrões e convencendo cada membro da equipe a lutar por elas.
Líderes eficazes assumem a responsabilidade final e não temem os subordinados. Eles os encorajam e incentivam. Não importa o quanto sejam pessoalmente vaidosos ou humildes, eles valorizam sua equipe e se cercam de pessoas independentes e confiantes.
Uma carreira de sucesso só pode ser alcançada pela superação dos obstáculos. Um relacionamento difícil com superiores e subordinados é muito frequente. Para conseguir ser, no futuro, um líder eficaz, você tem que aprender a ser resiliente e a se adaptar as necessidades dos outros. Com o tempo e com as experiências isso vira um jeito de ser. Persista pois em algum momento ele vai mudar - ou a situação pode mudar, ou o projeto termina. Com certeza você será melhor depois dessa experiência se souber superá-la.
Gilberto Guimarães é diretor da GG Consulting e professor
Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações. As perguntas devem ser enviadas para:
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