O tempo entre os primeiros sinais de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e o início do tratamento deve ser o menor possível para que o paciente saia da condição com o mínimo de sequela. Uma técnica específica, chamada de trombectomia, tem se mostrado útil em aumentar essa janela de esperança para até oito horas, e agora médicos discutem os benefícios em incluí-la na rotina do Sistema Único de Saúde (SUS).
Apoiado pelo Ministério da Saúde, o projeto Resilient agrupa hospitais e instituições de todo o país na tentativa de provar os benefícios da trombectomia na redução das sequelas do AVC , para que o tratamento possa ser também uma realidade nas instituições públicas de saúde.
Estima-se, de acordo com Viviane Flumignan Zetola, pesquisadora responsável pelo projeto no Paraná, que, quando o médico consegue unir a trombectomia à diretriz hoje disponível, que é o uso de uma medicação ( o trombolítico, que tenta dissolver o trombo responsável pela oclusão), a resposta do paciente chega a ser 60% melhor.
O uso da trombectomia, porém, não é indicada a todos os pacientes com sinais de AVC — é adequado somente para pessoas com lesões mais graves, cujos trombos não foram dissolvidos pelo trombolítico.
O que é trombectomia
O AVC surge quando há um bloqueio em alguma veia ou artéria que impede o fornecimento de sangue ao cérebro. Atualmente, pacientes com sinais de AVC (em até quatro horas) recebem o trombolítico, medicamento que tenta dissolver esse bloqueio. Mas para uma parcela de pessoas (cuja janela de tempo já se fechou, ou quando a artéria ou veia são grandes demais) o remédio tende a ser insuficiente. Entra então, a trombectomia.
A trombectomia é uma técnica endovascular que, através da introdução de um cateter pela artéria da virilha, sobe até a região do cérebro, onde faz a remoção do trombo causador do bloqueio. É como se o médico retirasse o trombo com a “mão”, restabelecendo a circulação sanguínea.
“Estudos mundiais mostram que se a trombectomia for realizada até seis horas depois do início do quadro de AVC, os benefícios são muito significativos. O nível de sequelas cai, a recuperação ocorre mais rapidamente, em três meses, e o paciente mantém a independência”, explica Robertson Pacheco, médico especialista em neurorradiologia intervencionista do Hospital das Clínicas, da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR), e do hospital do Rocio, além de um dos pesquisadores do projeto Resilient.
Uma vez retirado o trombo responsável pelo bloqueio, a recuperação também tende a ser mais rápida. “Fiz o procedimento em uma paciente que estava paralisada no lado direito e não falava. Ela foi atendida cinco horas do início dos sintomas. Na sala de recuperação, ela já conseguia falar e mexer completamente os membros do lado direito”, relata o médico.
Ganho de tempo
Essa nova linha de tratamento permite que a janela de tempo que o médico tem para atuar se estenda, explica Viviane Zetola, médica neurologista que também coordena o serviço de doenças cérebro-vasculares do HC/UFPR, local onde o estudo Resilient tem sido conduzido no Paraná.
“Aqui, atendemos até oito horas depois dos sintomas, mas no mundo já está sendo aprovado o uso da trombectomia entre 12h a até 24h com boa resposta. Esse tipo de intervenção abre uma luz significativa no tratamento do AVC”, frisa.
Por enquanto, com base em resultados de diferentes estudos internacionais, a trombectomia é realizada com frequência em hospitais e clínicas particulares, mas não em instituições públicas de saúde. Para chegar ao SUS, depende dos resultados — que têm se mostrado positivos — do estudo Resilient.
Quem chamar em suspeita de AVC?
No Paraná, foram atendidos mais de 70 pacientes até o momento pelo estudo, e o desconhecimento da população sobre o que fazer em caso de suspeita de AVC com um familiar complica o desenvolver do próprio projeto. Logo, é preciso rapidamente chamar o SAMU (192) – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.
“Às vezes o paciente não chega, ou chega atrasado, ou acabam indo para o lugar errado. A família, ao invés de ligar para o SAMU (192), vão direto a uma UPA [Unidade de Pronto Atendimento]. O ideal é que liguem para o SAMU, que eles vão saber quais hospitais estão credenciados”, reforça a médica neurologista Viviane Zetola.
Fique atento aos sinais:
Perda de visão;
Falta de sensibilidade de um lado do corpo;
Perda de força em um lado do corpo;
Desequilíbrio;
Dificuldade de fala;
Formigamento;
Perda de consciência ou sonolência;
Dor de cabeça;
“Os sintomas, às vezes, são transitórios e a pessoa tende a achar que vai melhorar com o tempo. Mas é importante buscar por ajuda logo no início. O tempo continua sendo um fator importante de atendimento” – Viviane Zetola, médica neurologista.
Riscos para AVC
Pessoas com colesterol alto, fumantes, com pressão alta, diabetes estão em um grupo com maior risco para o desenvolvimento de um Acidente Vascular Cerebral.